domingo, 4 de março de 2018

Gestão da floresta portuguesa




Avisos não faltam: 
“Os proprietários têm até 15 de Março para limpar as áreas envolventes às casas isoladas, aldeias e estradas, e, caso não o façam, ficam sujeitos a processos de contra-ordenação, com coimas que variam entre 280 e 120 mil euros”.
No que respeita a casas isoladas há que fazer a gestão de combustível numa faixa de 50 metros, mas quando se trate de “conglomerados urbanos” essa gestão, estende-se a uma largura não inferior a 100 metros.

Ligo a Televisão e ouço os deputados. Os do PS a defender o cumprimento da lei, mesmo quando se levantam vozes a alertar para as dificuldades da sua implementação no terreno, e ouço os da “oposição” preocupados com os problemas sociais dos proprietários de terrenos que se encontram nessas zonas. Ambos cheios de razões, mas nenhum com a coragem suficiente para dizer as palavras verdadeiras que lhes estão na mente e que são: “que o minifúndio na floresta não tem viabilidade e que os proprietários, ou vendem a quem tenha capacidade de gerir floresta ou se associam para a ganharem!

Mas isto é uma mudança radical para os nossos mini-proprietários, a grande maioria herdeiros já bem entrados nos anos e com a vida arrumada ao jeito de que foram capazes, e a quem as poucas centenas de Euros a que conseguirão vender as suas parcelas (à volta de 3 euros/m2) lhes não altera o viver, e manter limpos os eucaliptais, só lhes dá despesa.
Uns, nem lhes sabem os limites. Outros, ainda não fizeram partilhas mas sentem-se donos de um quinhão de uns três mil metros de mato onde predominam acácias e outras infestantes, mas que "um dia poderá ser urbanizado". Outros, perderam-lhes acesso, porque os caminhos estão atulhados pelos galhos que os madeireiros não levaram.

Dizer a essa gente que "tem de vender" porque senão o Estado os vai multar, é coisa que nenhum político ousa fazer, porque sabe que, no dia seguinte, a comunicação social vai esquecer os benefícios da gestão da floresta e passar a falar nos proprietários pobres, na sua reforma de miséria e das bouças como um complemento para alguma dignidade.

Portugal pertence a uma Europa que aposta no crescimento económico e na competitividade e que quer modernizar a exploração da sua floresta.  Ora ela só pode ser feita se deixar de estar na mão de sexagenários conformados e passar a ser gerida por quem quer fazer dela o seu futuro.

É isso que os políticos evitam dizer abertamente. Protegem-se, fazendo-o pela calada e tentam gerir o problema à medida que ele for aparecendo!

2 comentários:

capitão disse...

Tiago Oliveira, engenheiro florestal, presidente da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (Agif), organismo que o Governo criou para implementar a reforma da prevenção e combate aos incêndios.
-Tem de haver mais gestão florestal. O proprietário tem de se associar. Ou é capaz de gerir o seu ativo sozinho ou agregadamente ou vai sentir pressão para vender porque está a ser prejudicado pela sua inação.
Vamos ter menos gente no território, com mais mato a crescer porque a produtividade primária é elevada e ou somos capazes de ter modelos de gestão que alterem a paisagem ou vamos ter sempre a pressão dos incêndios. Tem de haver muito diálogo, com o reconhecimento dos direitos e as obrigações dos proprietários… Não podemos estar sempre a pagar a inação. O Estado não pode ficar no final a pagar os prejuízos que a não-gestão do património gera. Os proprietários têm que ser parte da solução. Agora, cada um por si não vai dar certo. O movimento associativo tem de ser fortalecido. As interfaces das cidades e das aldeias são de proprietários privados que já não usam o território da forma como usavam nos anos 60 e isso exige outros modelos. A pedra de toque do sistema todo é a mudança de paisagem.

capitão disse...

Em que consiste esta limpeza?
Devem ser cortados os ramos das árvores até quatro metros acima do solo, mantendo as copas afastadas, pelo menos, quatro metros umas das outras (ou dez metros no caso dos pinheiros e eucaliptos), bem como as árvores e arbustos a menos de cinco metros dos edifícios, excluindo as árvores de fruto ou árvores protegidas. De salientar que nos jardins “devidamente mantidos e nas áreas agrícolas” não é preciso fazer este tipo de limpeza.