Estou fora, mas mantenho as cicatrizes do tempo em que lutei
por um SNS com custos sustentáveis e revolta-me ouvir quem defende resolver o
problema atirando-lhe dinheiro para cima.
Senti as dificuldades de todos os graus da carreira médica e
assisti ao crescimento da “medicina defensiva”, ao abuso de Meios
Complementares de Diagnóstico, à incapacidade em conter os profissionais
“disfuncionais”, ao papel nocivo do amiguismo politico-religioso e à inaptidão dos
sucessivos ministérios da Saúde em dar credibilidade aos Centros de Saúde.
Como se estas ineficiências não lhe chegassem, quando os
Hospitais Privados entraram e o Serviço Nacional de Saúde passou a “Sistema”,
o descontrole agravou-se, pois os que dizem que o Estado é mau
pagador, ocultam que ele paga muito bem as ineficiências e os oportunismos, e que raramente
protesta.
Para cúmulo, a comunicação social, ao anotar essencialmente
as falências do SNS, induz na população um sentimento de insegurança, que a leva a quase exigir TACs, análises e muitas opiniões, esquecendo que o
funcionamento das instituições é monitorizado diariamente pelos pares, sejam
eles Auxiliares, Enfermeiros ou Médicos.
As últimas intervenções dos políticos vão na direcção de
entregar aos grandes grupos económicos ligados à Saúde, “as técnicas que dão
dinheiro” e deixar para o SNS o que “não é rentável”, o que irá agravar
o fosso salarial entre os profissionais dos dois lados, com a consequente
“desnatação” dos quadros do Estado.
O futuro do SNS não depende de “mais dinheiro”. Depende da
capacidade técnica e organizativa de que for capaz, e isso não é compatível com
o “deixa andar”, com compadrios, com “faz-de-conta” para que os “números” dêem
certo, quando se recusa a quem está “por dentro” e é responsável, capacidade
de corrigir o que está mal.
É aqui que se ganha o SNS. Claro que o dinheiro tem de ser
adequado às funções, mas sem uma responsabilização clara do modo como ele é gasto, só se irá agravar o
problema e dar razão aos privados que se dizem capazes de melhor gestão. O
SNS exige, acima de tudo, gente competente.
Infelizmente, também aqui há “Estradas de Borba” (fruto de compadrios e da excessiva indulgência para com os “amigos”), a aguardar que uma
chuvada mais forte as faça ruir e, mesmo que haja auto-estradas e muitas outras
vias com bom funcionamento, vão ser elas que lhe irão dar a imagem, para desviar o dinheiro dos Impostos para o Sector Privado, e o transformar num Serviço para os “pobres”.
2 comentários:
Eu quero pelo menos 12 consultas médicas por ano, não me importo de pagar taxas moderadoras, quero também uma TAC geral da cabeça aos pés por ano, análises "a tudo" de seis em seis meses. RX a tudo uma vez por ano, exames ao coração e pulmões duas vezes por ano, quero dr dentista duas vezes por ano e de dr dr nutrição ao menos uma vez por ano. Isto só para saber "se estou bem" pois isto de ter saúde não augura nada de bom para o futuro. Se por desgraça tiver alguma dor ou tensões altas quero ser atendido nas urgências com toda a prontidão e com um médico á cabeceira da maca e um enfermeiro aos pés. Quero ter as refeições a horas e quentes, pois da última vez que lá estive deram-me a sopa fria e fora de horas e isso não pode acontecer. Então para que serve o dinheiro dos 15 anos que descontei!
Infelizmente há gente a pensar assim!
Enviar um comentário