domingo, 2 de julho de 2023

Eventos

 

Nos tempos que correm, o que está a dar são os “eventos”, que se apresentam como solução para o isolamento crescente a que todos nos vamos votando. E há-os de reduzida, de média e de grande dimensão, a ponto de até parecer mal não ter participado em qualquer um deles.

A primeira vez que ouvi falar de “eventos” foi num noticiário a propósito do genro de Cavaco Silva, Luís Montez, ter sido investigado por causa da venda do Pavilhão Atlântico. Soube então que ele estava ligado à música e aos Festivais de Verão. Isto em 2010. Como o homem, ao que parece, terá enriquecido, a moda dos “eventos” espalhou-se por outros domínios e apareceram “eventos” para todos os gostos e feitios. Os Festivais da Sardinha, da Cereja, do Bacalhau, do Marisco, da Cerveja, da Sopa, do Carapau, do Vinho Verde, do Chouriço … e do mais que um tipo se pode lembrar, multiplicaram-se pelas cidades e aldeias do país para estimular as gentes a sair de casa e a gastar o pouco que lhe sobra num turismo que pouco difere do que lhe entra casa adentro pela televisão.

Noutros tempos era o Futebol e as festas religiosas que geravam os “eventos”: a Páscoa, o Natal, os Santos Populares e os Santos padroeiros das 3091 freguesias de Portugal (já foram 4 259, pelo que é provável que haja dois ou mais nas que se juntaram na reforma administrativa de 2013), mas a concorrência cresceu. O Futebol manteve a onda, enquanto que a religião tende a perder cota, pese embora o turismo religioso de Fátima, as Jornadas das Juventude que o Papa traz a Lisboa ou os esforços de alguns, como o padre Fontes, que inventou a sexta-feira 13, em Montalegre.

Acabados os eventos, partilham-se as fotos nas redes sociais e mantêm-se as pulseirinhas nos pulsos, longas semanas, a atestar o “eu estive lá!”. Depois, cada um volta ao seu recanto para jogar jogos, trabalhar “on line” ou num posto cada vez mais isolado.

Quem organizou o “evento” é suposto ganhar uns milhares, bem como a hotelaria e a restauração do lugar, mas há aqueles a quem o “evento” não beneficia e só veja o seu trabalho agravado. Neles incluo o pessoal de Saúde (mas não só), que tem de lidar com os excessos, as disfunções e as doenças desse acréscimo de população, que têm de adiar férias ou de fazer horas extra ao preço habitual, enquanto os hotéis multiplicam várias vezes os seus preços.

Por isso, não é de espantar que, quem não vê na mira a correspondente fatia do bolo, fale em distúrbios e em greves para os dias do evento.

É a vida, como diria Guterrez!

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