A Capela de Santo António em Afife situa-se no Monte de Santo António, um promontório com cerca de 70 metros de altitude, oferecendo uma vista privilegiada sobre o mar, o rio e a veiga local. A sua posição estratégica era já utilizada desde a proto-história — no monte existiu um povoado fortificado (castro), habitado desde a Idade do Bronze e do Ferro.
A capela foi erguida no século XVII (sendo frequentemente
citado o ano de 1685), como enclave religioso dedicado a Santo António. Para
além do culto, o local funciona como miradouro natural e destino de lazer,
contando com um parque de merendas muito procurado por visitantes e ciclistas.
Santo António era visto como protetor das aldeias e dos
pobres, intercessor em casos urgentes (como doenças, infertilidade e
casamentos), e santo das causas perdidas — objetos, caminhos e situações
difíceis. Também é padroeiro dos viajantes, dos navegantes e até dos animais
domésticos. Considerado um milagreiro próximo das necessidades do povo simples,
tornava-se particularmente relevante em comunidades agrícolas como Afife, onde
se valorizava um santo que “resolvesse”.
A Ordem Franciscana, à qual Santo António pertenceu, teve
grande presença no Norte de Portugal, sendo plausível que frades da região
tenham influenciado ou mesmo patrocinado a edificação da capela. Era prática
comum dos franciscanos a construção de capelas dedicadas a Santo António no
cume de montes, por todo o país, associando-se essa localização à ideia de
vigia espiritual e de proteção sobre as terras em redor, acreditando-se que,
desses pontos elevados, o santo abençoava os campos e os seus habitantes.
Embora a festa litúrgica de Santo António se celebre
oficialmente a 13 de junho, em Afife a romaria em sua Honra é relegada para o
fim de semana mais próximo do dia 24 de julho, dia de Santa Cristina, padroeira
da aldeia.
Santa Cristina é exemplo de firmeza na fé. Uma "menina
mártir" que se insere no contexto de outros santos infantis, como Santa
Inês ou Santa Filomena. A escolha de Santa Cristina como padroeira de Afife
remonta ao século XIII, com a igreja primitiva já dedicada a ela.
O martírio de Santa Cristina de Bolsena (Bolsena fica 130km
a norte de Roma). Cristina era filha de Urbanus, um alto funcionário romano e governador
da cidade. O pai educou-a segundo a fé pagã, mas uma criada cristã falou-lhe de
Jesus e, inspirada pela fé, recusou-se a adorar os ídolos. Ao saber disto, o
pai, mandou açoitá-la cruelmente. Cristina não cedeu. Então, começou uma longa
série de torturas sucessivas, descritas com grande dramatismo nos textos
antigos. “Garfos de ferro rasgaram-lhe a carne, mas anjos curavam-na durante a
noite. Foi lançada numa fornalha ardente durante cinco dias — mas saiu ilesa,
rodeada de luz. Prenderam-lhe uma pedra ao pescoço e lançaram-na a um lago —
mas um anjo salvou-a e ela caminhou sobre as águas. Foi colocada num poço cheio
de serpentes venenosas, que se acalmaram ao seu toque. Mandaram-lhe cortar a língua,
mas continuou a falar e pregar milagrosamente. Finalmente, foi transpassada por
flechas, morrendo por fim — com cerca de 12 anos.
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