sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Anemia


- Diga-me então o que apurou da situação social do Sr. Joaquim.
- Uma desgraça! Vive com um irmão, numa aldeia para os lados de Balugães, na casa que era dos pais, e que está uma ruína. Nenhum trabalha. Não se dão, e fazem vidas separadas. Ele é o mais velho de quatro irmãos. Os pais separaram-se, e eles ficaram com a mãe que era alcoólica. A mais pequena foi-lhe logo retirada e colocada num colégio, aos outros ainda se tentou institucionalizá-los, mas eram já crescidos e fugiram. O pai foi para França onde ainda está. Quando a mãe morreu, o pai chamou-os. Estes dois não se adaptaram e voltaram para casa de uma avó, que entretanto também morreu. Ainda trabalharam uns tempos "ao jornal", e este até ganhou fama de fazer uns petiscos, mas o álcool arruinou-os. O pai mandava-lhes regularmente dinheiro até topar que os gastos da mercearia, eram quase todos para vinho. Agora, só quando cá vem, é que lhes paga algumas das dívidas.
-Mas olhe, que para se chegar ao estado em que o Sr. Joaquim entrou no Hospital são necessários muitos meses de carência. Só assim é que se consegue tolerar uma anemia de 2 gramas de Hemoglobina.
- Os vizinhos disseram que ele mal comia, e que há muitos meses que se não cuidava. A casa estava uma imundice.
- Desculpe a pergunta, mas está-me a dizer que o Sr. Joaquim, com cinquenta anos, vive do apoio que o pai lhe manda de França?

1 comentário:

capitão disse...

O SNS debate-se com doentes cujos males advêm dos seus problemas sociais, que poderiam ser evitados por uma acção social precoce, por psicólogos e assistentes sociais a actuar próximo das populações (p.ex. junto das Juntas de Freguesia), e não nas instituições do Ministério da Saúde, para dinamizarem actividades de inclusão que protegessem as comunidades de comportamentos de risco e para os identificar precocemente antes que se tornem incuráveis.