sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Escrever


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Enquanto esperava …, sentiu que podia escrever uma cena como a que se desenrolara junto à fonte, incluindo um observador escondido, como ela própria. … Conseguia ver as frases simples, os símbolos telepáticos a acumularem-se, a jorrarem pelo aparo. Conseguia escrever três vezes a cena, de três pontos de vista diferentes; a sua excitação vinha da perspectiva de liberdade, de ser poupada à penosa luta entre o bem e o mal, entre heróis e vilões. Nenhuma das três versões era má, nem particularmente boa. Não teria de julgar. Não teria de haver ensinamento moral. Apenas teria de mostrar mentes individuais, tão vivas como a sua própria mente, a debaterem-se com a ideia de que havia outras mentes igualmente vivas. Não eram apenas a maldade e as intrigas que faziam as pessoas infelizes: era a confusão e os mal-entendidos. Era, acima de tudo, a incapacidade de entender a simples verdade de que outras pessoas eram tão reais como nós próprios. E só numa história era possível penetrar em tantas mentes diferentes e mostrar como todas elas tinham o mesmo valor. Era esse o único ensinamento moral que tinha de haver numa história.
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in "Expiação" de Ian McEwan

1 comentário:

Jarra disse...

Espero que estejas a gostar!