- “Oh pai! Ali naquela árvore está um pássaro grande. Anda ver!”
Era uma coruja que, em pleno dia, se exibia num galho baixo do carvalho mais próximo da casa, como se alguém a tivesse posto ali como decoração, quieta como uma estátua, dois metros acima de um braço esticado.
- “Só pode estar doente!”, concluímos, ao fim de largos minutos em que lentamente nos deixámos de fazer despercebidos, para depois de uma breve conferência ecológica, telefonarmos para o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente.
Meia hora depois parou um Jeep, com dois jovens fardados, a perguntar pelo bicho.
- “Está ali!”, e ficámos todos a olhar para o ar, a medir distâncias.
- “Está ali!”, e ficámos todos a olhar para o ar, a medir distâncias.
Feitas a medições diz um dos jovens: “Vamos telefonar aos Bombeiros, que eles chegam cá num instante com uma escada!”, e num ápice o grupo foi engrossado pelo vermelho das fardas de dois bombeiros.
Esticou-se a escada bem por baixo da coruja, e, quando se tentava o segundo degrau, o bicho bateu asas e voou, deixando-nos de braços caídos a balbuciar palavras esdrúxulas.
…
Dois dias depois, num passeio pela zona, dou com a coruja a dar banho às patas, na bica da fonte pública. Estava cheia de formigas, com o mesmo ar de estátua. Enfiei-lhe um camaroeiro pela cabeça e, em menos de um "ai Jesus", estava a caminho do Centro de Acolhimento e Tratamento de Aves de Esposende, metida num balde.
…
Uma semana depois telefonei: – “A coruja está melhor? Sobreviveu?”, que não, que tinha morrido nessa mesma noite, e que ignoravam o resultado da autópsia.
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Dois dias depois, num passeio pela zona, dou com a coruja a dar banho às patas, na bica da fonte pública. Estava cheia de formigas, com o mesmo ar de estátua. Enfiei-lhe um camaroeiro pela cabeça e, em menos de um "ai Jesus", estava a caminho do Centro de Acolhimento e Tratamento de Aves de Esposende, metida num balde.
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Uma semana depois telefonei: – “A coruja está melhor? Sobreviveu?”, que não, que tinha morrido nessa mesma noite, e que ignoravam o resultado da autópsia.
Ainda fiz mais duas tentativas, mas como não obtive resposta suficiente, passei-lhe a certidão de óbito com o diagnóstico de ... "morte DE CAUSA INDETERMINADA". Paz à sua alma.
6 comentários:
Voltei à leitura, depois de um mês de ausência e achei a prosa cada vez melhor! Pronto estás a atingir o estatuto de indispensável! Obrigado.
Já há uns tempos que passo por aqui mas nunca deixei mensagem... Não resisto contudo a dar-lhe os parabéns pela qualidade do blogue, quer em termos de conteúdos, quer na forma como os transmite! Bem haja pelos bons momentos que proporciona a quem por aqui passa!
Cristina Santos
Cristina e Rei:
Obrigado pelas palavras. Esses incentivos são importantes, para dar alguma razão a esta exposição a “anónimos”, que passam e não deixam rasto.
Concordo em género e em número com os elogios.
Escreves bem e sobre assuntos muito interessantes.
Sou uma péssima seguidora por falta de tempo, mas quando cá venho, levo sempre o que pensar.
Concordo em género e em número com os elogios.
Escreves bem e sobre assuntos muito interessantes.
Sou uma péssima seguidora por falta de tempo, mas quando cá venho, levo sempre o que pensar.
Tenho uma coruja em casa mesmo igual a essa...apanheia quando ainda era pequena e salvei-lhe a vida, pois ela devia ter caido do ninho e estava muito magra.Hoje ja esta grande mas mesmo que a queira libertar não posso pois ela não sabe caçar a comida.E prefiro a ter aqui mas a saber que ela esta bem..,
Muito Bom o Blogue
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