terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ansiedades 1



- “Mas está aqui escrito que a Sra. se tentou matar!”
- “Não Sr. Dr.! Eu estou, é desesperada! Nunca o pensei capaz daquilo!", respondia entre muitos soluços, aquela mulher bonita, de 32 anos, enviada ao Serviço de Urgência com o diagnóstico de “intenções suicidas”.
- “Eu sei que lhe custa, mas vai ter de me contar o que é que o seu companheiro lhe fez para que a Sra. ficasse neste estado!”, insisto, face à primeira recusa, que me pareceu motivada por pudor.
- “É que eu fui ao Computador dele e vi lá uma file cheia de material pornográfico. Fotografias e vídeos!”, responde por fim, no meio de muitos soluços e assoadelas, a intumescerem-lhe ainda mais a face.
Pondero a sua reacção ao que tenho em mente, e a medo pergunto:
- “Mas era ele que estava nos filmes e nas fotografias?”

Não era! Ufff!

- “Oh minha senhora! Onde é que a Sra. andou nestes últimos trinta anos! A maior parte dos homens troca esse material, como os catequistas de antigamente trocavam santinhos. A maior parte não guarda! Vê e faz “delete”, ... ou já nem vê, porque se fartou de ver! Que idade tem o seu companheiro?”
- “Tem trinta! … mas … podia não me ter escondido aquilo!”, ainda a fungar.
- “Olhe! Agora a sério! A senhora não lhe respeitou a privacidade. Quem devia estar furioso consigo, era ele! E se calhar está lá fora cheio de culpa! Já viu a situação que criou. Não seria melhor, não ter ido ao seu computador pessoal? Vá lá ter com ele, falem, mas não arengue em moralista, que você não tem cara de Madre Teresa! Quer tomar um comprimido “para os nervos” antes de sair?”
- “Não! Acho que não preciso! Obrigada!”

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