sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Psiquiatria de Urgência


- "Socorro! SOCORRO! Quem me ACOOOOOODEEEEEEEE!", grita o psiquiatra na sala ao lado.
Levanto-me a correr e, no meio de maqueiros e enfermeiros, abro-lhe a porta do consultório, e ficamos todos à espera de uma ordem, pois o doente, um homem bem parecido, de cerca de 40 anos, parece calmo.
- "Dr.! Quer que chame a Polícia?"
- "Obrigado! Parece que não vai ser necessário. Quero só que lhe tirem esse saco que ele tem aos pés. É que eu tenho medo que ele tenha aí qualquer objecto com que me possa agredir!", sussurra depois de o contornar e se aproximar do grupo.


Minutos mais tarde ...
- "A colega não percebeu que eu estava em apuros, e que aquela conversa tinha a intenção de ganhar tempo para que alguém me ajudasse?"
- "Desculpe! Eu apercebi-me que o vosso diálogo tinha grandes variações de tom, e que o doente por vezes assumia uma postura agressiva, acusando-o de ser o responsável por um “chip” que tinha na cabeça. Mas não me passou pela cabeça que o estivesse a ameaçar!"
- "Você nem queira saber! Ele disse que tinha ali uma arma para me matar, e eu só chamei por ajuda, quando ele deitou a mão ao saco. ... Vocês têm de estar atentos ao que se passa no Serviço de Urgência, principalmente com quem lida com doentes com perturbações mentais".
- "Eu já tinha reparado nele, quando entrei ao serviço e me pus, com os processos na secretária, a planear o que ia fazer. Ele assomou à minha porta e disse: “Então aqui não se trabalha? Ninguém chama os doentes? Vi-vos entrar, e ainda não vos vi fazer nada!”, mas depois de lhe ter pedido calma e o ter informado que o psiquiatra não demorava, ele ficou calado. Eu ia lá adivinhar que ele era esquizofrénico? Há tanto malcriado por aí!"

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