quarta-feira, 31 de julho de 2013

Siglas

Em serviços oficiais, o uso de siglas tem regras, e não se pode permitir que cada um use as que quer.

As siglas são indiscutivelmente úteis no léxico médico, mas sem uma lista aprovada, ninguém se entende.
Morrer de TP para uns pode ser na consequência de uma "Tuberculose Pulmonar" e para outros uma morte causada por um “Tiro de Pistola”, e BCG (Bacillus Calmette-Guérin) já foi interpretado por um aluno de Medicina, aqui do norte, como a “Bacina Contra a Gripe”.

Nos últimos anos, tenho assistido “à malta nova”, cheia de energias positivas, atirar-se aos textos com uma  "criatividade" sem nexo, perante a passividade e a falta de rigor dos mais velhos.
Surgiram então nos diários e outros registos, os “coc” – consciente, orientado e colaborante, os “2 id” ou “3 id” em vez de “b.i.d.” ou “t.i.d.”, vindos do latim "bis in die" e "ter in die", para significar duas e três vezes por dia, e a incapacidade/recusa em adoptar qd - "quaque die" – uma vez por dia, e o q_h - "quaque_hora” indicando o intervalo entre as administrações da medicação (por exemplo: 2 cápsulas q4h, para dizer 2 cápsulas de 4 em 4 horas) e outros sinais de desrespeito pelos nossos primórdios linguísticos, principalmente quando até os anglo-saxões as usam no seu léxico médico.
Mas são os tempos que correm. Aquilo a que os aventureiros chamam "A nova Era" e que tem resultado em fogachos "para inglês ver" e conseguir uma certificação de qualidade, esquecendo que tudo tem um princípio, um meio e um fim, e que se alguém se eleva, deve respeitar os ombros sobre quem se apoia.

domingo, 28 de julho de 2013

Nicolau Tolentino (1740- 1811)

Poeta, boémio, professor e oficial na Secretaria de Estado dos Negócios do Reino (depois de muitas cunhas), fazia parte da minha “Selecta Literária” do 2º ciclo do Liceu. Chamávamos-lhes o Nicolino Tilintau
Deixou-me neste soneto um gosto por epitáfios, semelhante ao de Machado de Assis, que escreveu:  "Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou."

Vai, mísero cavalo lazarento,
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.

Esta sela, teu único ornamento,

Para sinal da minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.

Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,
Hei-de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra pedra este letreiro:

«Aqui piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno, a não morrer de fome».

Neste soneto, Nicolau não eutanasia o seu fiel cavalo. Manda-o para o campo, na certeza de que ele, doente, acabará comido por cães vadios. Era assim nesse tempo, em Portugal, como atestaram vários estrangeiros que por aqui passaram, reportando matilhas deambulando pelas cidades, que não só comiam o lixo das populações, como se encarregavam de dar destino ao que morria e não era aproveitado para consumo humano.

Agora, são raros os elogios fúnebres e os epitáfios sobre as campas. Morremos e o que fica é um nome e duas datas por baixo dele. 
Há bichos com mais sorte!


domingo, 21 de julho de 2013

Carta a Cavaco


Caro Cavaco:
Estou a escrever-te antes do teu previsível discurso, com mais um dos teus avisos.
Já sabes que não admiro a tua longevidade política, porque sempre vi nela uma preocupação em serenar o povaréu, garantindo uma cortina de “ legalidade” a quem mexe nos cordelinhos, que frequentemente acaba com um dos teus “avisos” quando, por um qualquer acaso, um vento põe tudo a nu.
Tu reflectes este país, sempre à espera que um milagre de última hora nos salve do abismo para que caminhamos anos seguidos. Nunca te vi uma atitude de arrojo, que nos fizesse sair desse rumo. Pelo contrário, estiveste metido nas disfunções do Oliveira e Costa e do Dias Loureiro, e eu não acredito que não tivesses conhecimento de muitas outras, que não vieram a público, e que são agora causa da nossa ruína.
Era aí que esperava que desses o murro na mesa para que não acontecessem. Agora vir avisar do  inevitável é trabalho de qualquer um.
Esta tua proposta de um Governo de Salvação Nacional era, à partida “um bacalhau com asas com sabor a marisco” para encanar a perna à rã e dar tempo para que a Finança nos "ajuste" aos “Mercados”, sob a óptica de uma Alemanha que nos entende como humanóides um pouco civilizados.

Vais ficar na História como um paisano de Boliqueime que um dia, em Lisboa, vestiu um fato e gravata para veneração de quem aguarda milagres, sem perceber que estava a dar cobertura às negociatas de uma elite, que de elite nada tem.
Agora, esgotado, vais a rojo, procurando nas palavras significados tão ambíguos como as do Paulo Portas, sem assumires intervir de peito cheio, porque isso "não faz parte do teu ADN", como dizia o teu amigo prof Marcelo, que te apelidou de “herbívoro”, por não atacares os problemas de frente, no medo de uma eventual morte política. Vais lavar as mãos, mais uma vez, alegando que “avisaste”, “que “tentaste tudo” , que “foram os partidos” e que “só te apetecia mandá-los à m####”, mas que “a Constituição não permite” e que “blá, blá, blá” e que “há que sofrer para que sejamos redimidos”.

Pede à Maria para não aparecer. A sua visibilidade é dolorosa e deixa-me envergonhado, constantemente a relembrar os seus esgares no teu discurso de vitória. Depois podias fazer-lhe companhia. Ias visitar um lugar qualquer “profundo” no nosso Portugal e arredavas-te o tempo que te falta até ao fim do mandato e talvez as coisas melhorassem.
Vai por mim, que eu, sem ser barbeiro, dou conselhos como um taxista e é na boca deles que está a sabedoria do povo e não no fundo das urnas.
Até daqui a bocado

terça-feira, 16 de julho de 2013

Tabaco

Ele fuma. Ela vai fumando. Os amigos estimulam-se no hábito.
Entra-se em casa e o cheiro domina a sala. Ali um cinzeiro com cinza de ontem. Na lareira umas piriscas esperam o próximo outono. O sofá ressua a nicotina das noites de sábado e os morrões nos vasos aguardam a voracidade das plantas.
A um canto, o gato, fumador passivo no apartamento, sufoca com um cancro do pulmão.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Rapação

1 - Acção de usar o rapão, na limpeza das bimbaduras, nas salinas. 
2- RAPação é uma banda de RAP - "mais que por enquanto tamos apenas trabalhando em letras e composições !"
Rapão: Utensílio de salineiro, para cortar o lodo que se prende às armações das salinas
Bimbadura: Fragmento de lodo, aderente aos travessões das salinas.


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Pretuguês

- Boa continuação! ... Obrigada!, disse prazenteiro, enquanto se despedia, e deixou-me a pensar no mau domínio do português.

 Há dias num Blog do burgo e no meio de um comentário (Anónimo - 1/7/2013 - 00:39h) que merecia a minha simpatia, deparo-me com estas pérolas:

Na Inglaterra já é assim. Qual é o escanda-lo???,QUE no dia de greve e de FORMA CONBARDE, trocam o dia por CH e QUE NÃO inventão horas ficticias para acrescer ás que tem acumuladas no horário".

Nem queria acreditar, pois o assumi o texto como escrito por quem tem bem mais que o 12º ano.
Depois lembrei-me dos meus "Cadernos de Significados" para as palavras difíceis, das reguadas por cada erro no ditado e do ar de desprezo do "Rapa-Côdeas", meu professor de português no 8º e 9º anos de escolaridade,  quando a ignorância da língua-mãe atingia estes foros.

Nos tempos que correm, escrever mal num computador com um corrector de texto, que nos evita erros de palmatória, embora outros do tipo  "acabava-mos" quando se quer escrever "acabávamos", os não detecte, é sinal de falta de qualidade.

É que não chegam as preocupações com a marca da roupa, do carro ou do discurso sobre o que se consome, se a toda a hora se manifestam incapacidades primárias.
Erros destes retiram valor ao texto, ao seu autor, e à sua classe profissional, pois indiciam que o grau atingido é fruto do facilitismo que se instalou nas escolas, preocupadas com a elevação dos resultados estatísticos.
No caso ... é uma pena.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Irrevogável

 SERÁ QUE o adjectivo Irrevogável também pode ter diferentes graus?

Irrevogável em grau ligeiro, quando se quer dar sinal de vida.
Irrevogável em grau moderado, quando se exige uma influência que é negada.
Irrevogável em grau elevado, quando te apetece "virar-lhes as costas e mandá-los f####"