É recíproco. Eu não simpatizo com eles nem eles comigo.
Tudo começou quando me levaram a confessar
pecados que não tinha e que a minha mente de menino já catalogava como mortais
e veniais, mas foram as reguadas nas aulas de “Religião e Moral”, de
Português e de Francês, para me acertaram com os programas, que foram definitivas
para o meu afastamento. Já adulto, quando me pus a analisar a sua linguagem corporal
e o seu discurso, concluí que as competências na teatralização e na retórica, eram utilizadas para iludir quem os aceita assim só porque lhes
disseram para assim os aceitarem.
Houve tempo em que a Igreja foi fonte de saber, mas o Vaticano há muito que abandonou a ciência e facilita a vida aos que se especializaram no comércio da “Esperança”.
Mas, como tão bem dizia Camões, “Mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser e muda-se a confiança, neste mundo
composto de mudança … e, afora este mudar-se cada dia, outra
mudança faz de mor espanto: Que não se muda já como soía”, e a Igreja Católica
não esteve atenta a este último verso e perdeu o comboio da modernidade.
Hoje fala-se do abuso sexual sobre menores e desprotegidos confiados à sua guarda, que emerge de uma nuvem de oportunismos, negociatas de sacristia e outros tipos de abuso, que o
“sigilo eclesiástico” facilita aos padres “fura-vidas”, quando há décadas que o Vaticano se devia ter livrado desse cartel, obsoleto e cheio de vícios, que desmerece quem não se dispõe a beijar-lhes o anel.
Estamos num tempo em que se exigem práticas que melhorem a vida na Terra. Já poucos vão em olhares languidos para
o céu ou em palavras ambíguas e são raros os que partilham a “filosofia sexual”
da Igreja Católica. A Biblia não ajuda na luta contra a discriminação
de género nem contra o despotismo. São histórias pouco saudáveis quando se leem com sentido crítico e, embora o bicho Homem seja o mesmo, o mundo de hoje é outro. A grandiosidade das igrejas já não nos eleva para o divino como o fez na Idade Média e o que lá se diz raramente é relevante. Muitos dos que ainda lá vão, fazem-no para que o cartel os veja e não lhe ponha barreiras no caminho.
O Ocidente "individualista" necessita de um “upgrade” de valores. Um upgrade sem lamechices, que estimule o trabalho de grupo e
minimize a solidão.
A actual Igreja Católica, embora dona de uma logística
invejável, tem o clero mais virado para si próprio que para o que diz ser alvo da sua acção. Necessita de um novo tipo de “Santos inspiradores” que tirem os padres da sua comodidade de interpretes do divino e os estimule a ir para a rua tentar soluções para os problemas dos mais frágeis, sem palcos de 4 milhões, nem
parangonas na comunicação social.