sábado, 29 de fevereiro de 2020

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

The Arab Mind



Raphael Patai (1910 - 1996) -  Judeu-Húngaro, historiador, etnógrafo, orientalista e antropologista. Escreveu este livro em 1973 e reviu-o até 1983.
É o olhar de um ocidental, a explorar os traços gerais da sociedade árabe, com rigor científico.

Segundo o autor, na tradição árabe há tendência para o auto-elogio, para o exagero, para os discursos bombásticos, que frequentemente substituem as acções, e a não inclinação para aceitar responsabilidade nem admitir as faltas, atribuindo-as aos outros ou às circunstâncias.

Um livro que ensina que o Islão não é o problema, que as diferenças com a cristandade não são doutrinais, mas funcionais, e o que os lideres islâmicos mais temem é a atracção pelo secularismo ocidental.

É uma questão de credibilidade. Quem não é rigoroso perde credibilidade e no mundo que corre a "accountability" tem um valor crescente.

Ao lê-lo senti “o Árabe” que ainda há em nós, portugueses.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Uma caminhada


Saio de casa para um passeio. Carreço - Viana, pela Ecovia e caminho de Santiago na volta. Coisa para 25km a contar com as curvas.
O dia está enevoado, sem chuva e com uma temperatura amena, a convidar a uma longa jornada. Visto roupa leve e levo o telemóvel para as eventualidades, que há muito não me meto em proezas destas.

10:00h. Casa – Praia de Paçô, para apanhar a Ecovia e ir Montedor afora até à praia de Carreço.
11:00h. A subida do monte já me fez tirar o corta-vento. Praia de Carreço e primeiro café rápido ao balcão do Restaurante/Bar Areia, enquanto passo os olhos pela ementa. Retomo o caminho, somando as praias: Camarido, Lumiar, Canto Marinho, Porto de Vinha. A Ecovia está arranjada e limpa. Cruzo-me com o meu amigo Luís que também está reformado e que caminha em sentido contrário. Andava meio farto do trabalho, e blá, blá, blá,… Diz que anda a ler umas coisas engraçadas. Fala do livro A Arte Subtil de Saber Dizer Que Se F*da, de Mark Manson e eu aconselho-lhe o Sapiens do Harari,
12:30h. Praia Norte e segundo café, sentado a folhear o jornal da casa, no Pôr do Sol.
12:45h. Encho o peito e meto-me, já meio dorido, pela avenida do Atlântico para apanhar o Caminho de Santiago junto à Escola Superior de Saúde e aí vou eu pela Rua dos Sobreiros afora a pensar que a coisa é sempre a direito. Mas não é. Desce e sobe-se.


Passa-se por casas antigas e casas modernas, jardins cuidados e zonas de mato, ruas onde mal passa um carro e outras onde só uma pessoa em fila. Depois floresta e mais casas, quintas, cães a ladrar dentro dos portões e raramente uma pessoa. O caminho está bem sinalizado e minimamente cuidado. Perde-se a noção da proximidade de casa. Por fim algo já conhecido ao chegar a Carreço.
15:00h. Agora é só mais meia hora para não morrer na praia.
15:30h. Chegada. O telemóvel indica que atingi o objectivo de 10.000 passos.

Morasse eu em Viana e fazia o percurso inverso, saía do caminho ao chegar à Casa da Santa, atravessava a ponte sobre o caminho de ferro em direcção à N13 e almoçava no Ammaro’s 47 da Marta que me ensinou o ALERT, que a piza é nova e já tem fama.




terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Israel e os Judeus




A Guerra da Independência (1948) deixou “assuntos por resolver” – fronteiras que os cálculos dos militares da época achavam praticamente indefensáveis.

No início dos anos 50, os egípcios encorajaram incursões de guerrilha através da fronteira sul de Israel e em 1956, nacionalizaram o Canal do Suez e fecharam-no aos barcos de Israel o que despoletou a Segunda Guerra Israelo-Árabe.
No início da década de 60 a Síria tornou-se o principal problema para Israel. Além de fornecer hospitalidade a tropas irregulares palestinianas que faziam incursões através das fronteiras nordeste, Damasco tinha planos para desviar as águas do rio Jordão.

Em 1967, dezanove anos após o seu nascimento, na Guerra dos Seis Dias, Israel derrotou os exércitos conjuntos do Egipto, Síria e Jordânia e estabeleceu-se como uma superpotência regional, reconfigurando o Médio Oriente.
Em 1967 Israel era “um estado europeu”. Nascera de um projecto europeu e fora configurado geográfica e sociologicamente pelas vicissitudes da história europeia. Os árabes não estavam no centro da preocupação da maior parte dos judeus. O país estava moldado pelo sionismo trabalhista dos imigrantes polacos e russos dos primeiros anos do século XX, com as suas comunas agrícolas igualitárias semiautónomas, puritanas e provincianas - os Kibbutz. Muitos israelitas orgulhavam-se de viver em paz junto de árabes e incentivavam os jovens a familiarizar-se com a sociedade árabe local, tanto como com a flora e a fauna da paisagem. Para os sionistas de antes de 1967, os árabes eram parte do cenário físico no espaço onde o Estado de Israel se tinha estabelecido.

Os USA que, até aí, pouco apoio tinham dado a Israel, tornaram-se o seu principal aliado, contribuindo também com uma nova geração de emigrantes entusiastas, que já não traziam como os primeiros, velhos textos socialistas de emancipação, redenção e comunidade, mas uma Bíblia e um mapa. Para eles a ocupação da Judeia e da Samaria não era um problema, era a solução, e a derrota dos seus inimigos históricos, não era o fim da história, mas o início.

Também no rescaldo da Guerra dos Seis Dias, os judeus da Síria, Iraque, Egipto, Líbia e de outros países da região, foram sujeitos a perseguições e discriminação e o ritmo da imigração judia a partir dos países árabes conheceu uma subida acentuada. Esta nova população tinha opiniões fortes e distintamente hostis sobre os árabes, o que alterou significativamente a relação das forças políticas do país.

O risco que Israel corre hoje, é para muitos dos seus mais veementes defensores, que o sionismo se tenha tornado numa ideologia de autoveneração e exclusividade e pouco mais.

Notas tiradas de “O século XX esquecido” de Tony Judt



Nota: Os judeus são ~13,2 milhões, dos quais ~5,5 milhões vivem em Israel e na Palestina e ~5,1 milhões nos EUA .

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

O Túnel dos Pombos



John le Carré é um homem do mundo e muitas histórias. Umas reais e outras também, embora ficcionadas. Regressei a este livro para reler o Prefácio que, há três anos me persegue.


Quase não há um só livro meu que, a dada altura, não tenha como título provisório O Túnel dos Pombos. A sua origem explica-se facilmente. Eu andava pelos meus quinze, dezasseis anos quando o meu pai decidiu levar-me a Monte Carlo, numa das suas farras de jogo. Perto do antigo casino ficava o clube desportivo, em cuja base se estendia um relvado e uma carreira de tiro com vista para o mar. Sob o relvado havia pequenos túneis paralelos que conduziam em fila à orla do mar. Neles eram inseridos pombos vivos que tinham sido criados e apanhados em armadilhas no telhado do casino. A tarefa dos pombos consistia em esvoaçar pelo túnel escuro como o breu até saírem para o céu mediterrânico para serem alvos dos cavalheiros desportistas bem almoçados que se encontravam de pé ou deitados por terra à espera com as suas espingardas. Os pombos que ele falhavam ou só feriam na asa faziam então o que os pombos fazem. Regressam ao local do seu nascimento no telhado do casino, onde as mesmas armadilhas os aguardavam.  
A razão exacta por que esta imagem me assombra há tanto tempo é algo que talvez os leitores possam compreender melhor do que eu.

John Le Carré, Janeiro de 2016