segunda-feira, 13 de maio de 2024
Um ponto
domingo, 5 de maio de 2024
sexta-feira, 26 de abril de 2024
25 de Abril Sempre!
Quando há curiosidade, uma descoberta leva a outra e por aí
adiante, que é assim que se vai conhecendo o mundo onde se vive.
No caso presente, tudo começou num podcast, quando o
entrevistado sugeriu o livro “A Invenção da Natureza” de Andrea Wulf, que
basicamente é uma biografia de Alexander Von Humboldt.
Aceitei a sugestão e meti-me nas 454 páginas sobre o primeiro homem a olhar para o mundo na procura de entender a relação entre tudo o que nele existe, desde o clima, os ventos, o mar, os rios, os seres animados e as pedras. Foi o primeiro naturalista, um homem decisivo para o pensamento científico actual, sobre cujos ombros se sentaram homens como Darwin, Júlio Verne e Simão Bolivar.
Humboldt viveu entre 1769 e 1859. Esteve em Paris durante a
Revolução Francesa (1789-1799), no tempo de Napoleão Bonaparte (1769-1821) e
terá industriado Simão Bolivar (1783 – 1830) a revoltar-se contra Espanha e tentar
criar os Estados Unidos da América do Sul.
Revisitei Bonaparte e a Revolução Francesa na Wikipédia, mas Simão Bolivar foi-me trazido por Gabriel de Garcia Marques, em “O General no seu labirinto”, que romanceia os seus últimos dias. É uma “quase biografia” do homem que libertou meio continente do jugo colonial, sonhando criar os Estados Unidos da América do Sul. Li os custos dessa Revolução e a incapacidade em manter a união, depois de afastado o inimigo comum - Espanha. Li o seu estado de espírito final - empobrecido, isolado e amargurado e a pormenorizada descrição da sua saúde nas últimas semanas, que os médicos da época chamaram “lesão pulmonar com origem num catarro mal curado” e que em 2010 a exumação dos seus restos mortais iria provar ser uma tuberculose (o bacilo de Kock só foi descoberto em 1882).
No fim concluí: "Nada une mais as pessoas que um inimigo comum ou um bode expiatório!"
- "25 de Abril Sempre! Fascismo nunca mais!"
sexta-feira, 15 de março de 2024
Prenda de anos
sábado, 2 de março de 2024
Novo modo de aprender
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
Campanha Eleitoral
O texto terá quase 20 anos, mas mantém actualidade.
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024
Advogados
Quando frequentei a cadeira de Higiene na Faculdade de
Medicina do Porto, uma das perguntas que no exame podia ditar o seu desfecho
era: "Qual é a acção de um gato sobre uma colónia de ratos?" A resposta comum era
qua a iria dizimar, mas a acertada era: "Melhora a colónia!, ao eliminar os menos
capazes de viver nessa situação.
Coisas que me vêm à cabeça quando, diariamente, assisto a
este constante pôr uma pedrinha na engrenagem, com que se põe à prova as
leis do Estado, como se a “engrenagem” aguentasse este exponencial aumento do número de gatos!
E, nem por acaso, ao guardar a História do Declínio e Queda
do Império Romano, de Edward Gibbon, deparo com um marcador numa página que fala
de tribunais, magistrados e advogados e que, apesar de se referir aos
princípios da nossa Era, tem muito a ver com o que hoje se passa.
Imperador Constantino (272 – 337) “por entender que a
integridade do juiz podia ser influenciada pelo seu interesse ou simpatias,
estabeleceu severos regulamentos destinados a excluir qualquer pessoa do
governo da província onde nascera e a proibir o governador ou os seus filhos de
casar com uma nativa ou habitante, de comprar escravos, terras ou casas dentro
da sua esfera de jurisdição”
…” mas na fase de declínio da jurisprudência romana (476, assinala o fim do Império Romano do Ocidente), a promoção ordinária dos
homens de leis revelou-se plena de desconcerto e vergonha. A nobre arte, que
outrora fora preservada como sagrada herança dos patrícios, caiu nas mãos dos
libertos e dos plebeus que, com mais astúcia que engenho, exerciam um sórdido e
pernicioso comércio. Alguns deles lograram penetrar no seio de famílias, na
mira de fomentar discórdias, instigar pleitos e preparar uma colheita de ganhos
para si próprios ou para os seus confrades. Outros, fechados nos seus
aposentos, cultivavam a circunspecção de professores de leis, fornecendo a
clientes ricos as subtilezas capazes de alterar a mais pura verdade e os
argumentos para disfarçar as mais injustas pretensões. A esplendida e popular
classe compunha-se de advogados que enchiam o Fórum com o som da sua empolada e
loquaz retórica. Indiferentes ao renome à justiça, são quase todos descritos
como guias ignorantes e gananciosos, que conduziam os clientes através de um
dédalo de despesas, adiantamentos e desilusões; do qual, após uma longa série
de anos, estes acabavam por se soltar, quando a sua paciência e fortuna já
estavam quase esgotadas.”
domingo, 28 de janeiro de 2024
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Eleições
PROMETEI o que não tendes!
PERDOAI a quem não vos fez mal!
Conselhos de Álvaro
Pais (1330 – 1390)
ao Mestre de Avis para cativar partidários para a sua causa.
sábado, 6 de janeiro de 2024
Dia de Reis
- Avôôô! Arranja-me uma tesoura!
- Toma-a lá, mas tens de ter cuidado! Não vais magoar-te, nem estragar nada?
- Oh! Avô!!!!! E, como se eu tivesse dito alguma insensatez, sai dali disparada, para um canto da sala.
...
sábado, 30 de dezembro de 2023
Soneto
Um amigo do Facebook (Benjamim Carvalho) escreveu este poema, na sua página.
Paixões de verão.
Todos os dias, naquela encruzilhada
Atrás do velho tronco d’um sobreiro,
Escondido, descias pela estrada ...
Passava, num momento, o dia inteiro...
O sol, no teu rosto, em labaredas mansas,
Os olhos que fechavas nos passos que descias,
Batia o meu peito, em pulos de esperanças …
E tu passavas fazendo que não vias...
Já ias longe...o sol estava posto
A noite, bem no fundo, escurecia
Esperava o momento que não vinha...
Foi tão lindo, aquele mês de agosto.
Tanto gostei de ti, eu tanto te queria...
Tanto gostei de ti, mas nunca foste minha...
E eu, que não sou poeta, por achar graça à ideia, atrevi-me a transformá-lo num soneto.
Ora cada verso de um soneto tem onze sílabas. O primeiro quarteto apresenta o assunto e o segundo amplifica o mesmo. O primeiro terceto reflete sobre a ideia central dos quartetos, e o terceto final, mais emotivo, acaba com alguma reflexão, moral ou ideia profunda. A rima é fixa nos quartetos (ABBA; ABBA) com variantes mais livres nos tercetos (CDE:CDE; CDE:DCE; CDC:DCD).
E dito isto, meti-me ao caminho
Paixões de verão
Atrás do velho tronco d’um sobreiro,
Escondido, naquela encruzilhada
T’ esperava descendo pela estrada.
Passava, num minuto, o dia inteiro.
Luzia o sol nos campos que florias
E teus olhos fugiam quais crianças
Do meu peito esmagado de esperanças
Quando passavas, fazendo que não vias.
Quando partias, o sol ficava posto
E num repente a noite escurecia
A espera do momento que não vinha.
Tão fagueiro foi aquele agosto.
Tanto gostei de ti, tanto antevia...
Que tolo até pensei que fosses minha...
terça-feira, 26 de dezembro de 2023
O Pescada
A razão primeira porque lhe chamavam “Pescada”, nunca a
soube. Talvez os seus detratores inventassem a alcunha por ser alto, branco e
sempre bem arrumado. Fosse ele pequeno e gorducho e iriam apelidá-lo de “Garrafão”,
mesmo que ele não consumisse bebidas alcoólicas. Mas na equipe, alguns achavam-lhe
mais defeitos que virtudes e, quando a ele se referiam, era assim que o nomeavam, para que se soubesse que eram seus críticos.
Eu gostava dele. Como profissional, tudo somado, era melhor
que outros cirurgiões. Sabia das suas limitações e não se metia em aventuras
onde previa grandes dificuldades. Os outros diziam que era lento, por ser demasiado
meticuloso a operar, e faziam chacota quando tinham que o ajudar nas grandes cirurgias,
dizendo; “Vais operar com o Pescada!? O melhor é algaliares-te!”, e riam. E
riam também quando ele contava as peripécias do seu hobby, a fotografia, onde dava cartas. E aí, ele não brincava. Era tudo muito “a sério”. Equipamentos
dos melhores e estudo minucioso das instruções das máquinas que adquiria. Disso
sou testemunha, pois vi-o várias vezes sentado à secretária, em frente à Canon
topo de gama de manual aberto, a medir-se com ela, e quando lhe perguntei se já
a tinha usado, respondeu-me que só a tinha comprado há uma semana e que antes, tinha de a estudar. Mas o resultado era “Muito Bom”, a ponto de pretender vender à National Geographic Magazine as fotos que fazia aos bichinhos e plantinhas do monte, que o tiravam da cama a
desoras ou no meio de inclemências do tempo para apanhar a melhor luz. Vi algumas e alguns dos pequenos filmes e confirmo a qualidade e a paciência.
Mas era o seu humor o que mais me surpreendia. Aquela capacidade
para ler no inesperado um ponto alto do dia e dele retirar uma história, que
depois contava despretenciosamente, ridiculizando-se se necessário, para que a
situação atingisse um clímax e se extinguisse nos segundos seguintes. E se lhe pedisse
para repetir, ele contava-a exatamente como da primeira vez e ria comigo, não só
da história, mas por nos rirmos de coisas que outros não achariam qualquer
graça. Havia muitas trapalhadas em que ele se achara envolvido e, quando o
encontrava, fosse num tempo morto do trabalho ou num corredor de um
Supermercado, não resistia a relembrar uma, para ficarmos a rir,
os dois, até ao embaraço.
Lembro aquela que mais me levou às lágrimas: Ele tinha uma casa no Porto, onde ia regularmente,
principalmente quando ele e a mulher só tinham horário de manhã. Saíam
do trabalho, almoçavam num restaurante em Esposende e depois seguiam viajem.
Ora num desses dias, a comida não lhe caiu bem e, minutos depois, sentiu-se
nauseado. Ainda pensou em parar, mas como tinha um encontro na Praça D. João I a
que não queria chegar atrasado, continuou a conduzir o seu Mercedes Classe E,
até mais não poder. Em frente ao Palácio de Cristal, parou no
espaço então dedicado à paragem do eléctrico e, meio cambaleante e pálido como a
cal, saiu do bólide e encostou-se ao tronco da primeira árvore que encontrou. E
foi nesta posição que uma alma caridosa que por ali passava, lhe foi perguntar
se precisava de ajuda. Agora o relato dele: “Eu estava em ponto de vómito eminente.
Estás a ver! Tinha o antebraço apoiado na árvore e a cabeça apoiada nele. Quando o ouvi falar, virei-me na sua direcção e, aquilo que estava por um
fio, rebentou, e o vómito saiu-me explosivo. Havias de ver o gajo
a saltar para trás com as calças a escorrer uma papa de arroz de sarrabulho misturada
com tinto do Douro! Aos pulos, a sacudir os sapatos e a dizer Oh Homem! Oh homem!
Então como é! E eu sem saber o que fazer. Se acabar de vomitar ou de cuidar
dele! Ainda por cima o tipo estava todo apinocado, como quem vai para uma festa.
Uma desgraça! A minha mulher a sair do carro com um pacote de lenços de
papel, mas o vómito tinha-o atingido em cheio. Cá pra mim tinha-lhe passado já
para a cueca! E o tipo a dizer C’um caraças! C’um caraças! Sem me ligar mais! E
eu lá acabei de vomitar o resto para o tronco da árvore, mas o grosso já tinha
ido para cima dele.“
E ria, enquanto imitava o fulano a saltar com ar enojado. E
eu ria com ele e a malta que passava sorria de nos ver rir e dos gestos dele, e
a certa altura caíamos na real com medo de alguém conhecido nos tomar por
insanos.
Era assim o “Pescada”, há-de haver uns bons vinte anos.
Depois disso, vi-o duas vezes e numa delas pedi-lhe para recontar esta história e
ele contou como se o tempo não tivesse passado e rimo-nos, talvez não tanto
como dantes, mas o suficiente para sairmos dali satisfeitos de tanto rir,
lembrando também os alarmes que tinha em casa e que assustavam mais os
convidados que o ladrões e os esquilos que mantinha numa imensa gaiola com
todas as comodidades possíveis e imagináveis para um esquilo da alta sociedade.
Espero encontrá-lo ainda mais vezes nesta vida mas, caso tal não aconteça, por certo que nos iremos encontrar no Além para nos rirmos outra vez das mesmas histórias ou doutras peripécias que lhe tenham acontecido, que ele era um bom contador de histórias.
sábado, 16 de dezembro de 2023
As duas liberdades de Isaiah Berlin.
A liberdade está estreitamente ligada à coação, isto é,
àquilo que a nega ou limita. Somos mais livres na medida em que encontramos
menos obstáculos para decidirmos a nossa vida como quisermos. Quanto menor for
a autoridade exercida sobre a minha conduta, enquanto esta puder ser
determinada de forma mais autónoma pelas minhas próprias motivações
(necessidades, ambições, fantasias), sem interferência de vontades alheias,
mais livre eu sou. É este o conceito “negativo” de Liberdade.
É um conceito mais individual do que social e absolutamente
moderno. Nasce em sociedades que alcançaram um elevado nível de civilização e
uma certa abastança. Pressupõe que a soberania do indivíduo deve ser
respeitada, porque em última instância é ela a origem da criatividade humana,
do desenvolvimento intelectual e artístico, do progresso científico. Se o
indivíduo for sufocado, condicionado, mecanizado, a fonte de criatividade fica
ceifada e o resultado é um mundo cinzento e medíocre, um povo de formigas ou
robôs. Os que defendem esta noção de liberdade veem sempre o maior perigo no
poder e na autoridade, e por isso propõem que, já que é inevitável eles
existirem, que o seu raio de acção seja mínimo, só o indispensável para evitar
o caos e a desintegração da sociedade, e que as suas funções sejam escrupulosamente
reguladas e controladas.
…
Enquanto a liberdade “negativa” quer sobretudo limitar a
autoridade, a “positiva” quer apoderar-se dela, exercê-la. Esta noção é muito
mais social que individual, pois fundamenta-se na ideia de que a possibilidade que
cada indivíduo tem de decidir o seu destino, está em grande medida subordinada
a causas sociais, alheias à sua vontade. Como poderá um analfabeto disfrutar da
liberdade de imprensa? Para que servirá a liberdade de viajar a quem vive na miséria?
… Enquanto a liberdade “negativa” tem principalmente em conta o facto dos indivíduos
serem diferentes, a “positiva” considera acima de tudo o que eles têm de
semelhante. Ao contrário daquela, para a qual a liberdade é bem mais preservada
quanto mais se respeitarem as variantes e os casos particulares, ela considera
que há mais liberdade, em termos sociais,
quanto menos diferenças se manifestarem no corpo social, quanto mais
homogénea for uma comunidade.
Todas as ideologias e crenças totalizadoras, finalistas,
convencidas de que existe uma meta última e única para uma dada colectividade –
uma nação, uma raça, uma classe ou a humanidade inteira -, partilham do
conceito “positivo” da liberdade. Deste derivam inúmeros benefícios para o
homem, e é graças a ele que existe a consciência social: saber que as desigualdades
económicas, sociais e culturais são um mal corrigível e que podem e devem ser
combatidas. As noções de solidariedade humana, de responsabilidade social e a
ideia de justiça, enriqueceram-se e expandiram-se graças ao conceito “positivo”
de liberdade, que também serviu para travar ou abolir iniquidades como a
escravatura, o racismo, a servidão e a descriminação.
Mas este conceito de liberdade também gerou as suas iniquidades correspondentes. Todas as utopias sociais de direita e de esquerda, religiosas ou laicas, baseiam-se na noção “positiva” de liberdade. Elas partem da convicção de que existe em cada pessoa, além do indivíduo particular e distinto, algo mais importante, um “eu” social idêntico, que aspira realizar um ideal colectivo, solidário, que será realidade num dado futuro e ao qual deve ser sacrificado tudo o que o impedir e obstruir. Por exemplo, aqueles casos particulares que são uma ameaça para a harmonia e homogeneidade social. Por isso, em nome dessa liberdade “positiva” – essa sociedade utópica futura, a da raça eleita triunfante, a da sociedade sem classes e sem Estado, ou a cidade dos bem-aventurados eternos – travaram-se guerras crudelíssimas, criaram-se campos de concentração, exterminaram-se milhões de seres humanos, impuseram-se sistemas asfixiantes e eliminou-se todo o tipo de dissidência ou crítica.
Estas duas noções de liberdade repelem-se reciprocamente, mas não faz sentido tentar demonstrar que uma é verdadeira e outra falsa, pois apesar de se servirem da mesma palavra, tratam de coisas diferentes. As liberdades “negativa” e “positiva” não são duas interpretações de um conceito, mas duas atitudes divergentes e irreconciliáveis sobre os fins da vida humana.
As sociedades que forem capazes de conseguir um compromisso
entre estas duas formas de liberdade, conseguirão níveis de vida mais justos.
in "O apelo da Tribo" de Mario Vargas Llosa
domingo, 10 de dezembro de 2023
Deang
DEANG, é da Tailândia. A sua obra abrangente, explora diferentes materiais que vão da madeira, ao ferro, à pedra e à cerâmica. Por vezes figurativo, outras vezes abstracto, mas sempre com um olhar atento e determinado na sua forma de representar.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2023
Arte abstrata
Nunca pensei ser artista, embora mantenha veleidades de artesão. Artista, implica capacidade de inovar, de criar qualquer coisa que nunca tenha sido feita e o meu trabalho sempre foi aplicar o estado da arte às particularidades de cada indivíduo. Por isso, olho os artistas, com um misto de respeito e receio, por temer que a etiqueta de “arte” caia sobre embustes de toda a espécie.
No outro dia, dei com um pequeno texto sobre “A
Desumanização da Arte e outros ensaios de estética” de Ortega e Gasset
(1883-1955). Transcrevo:
O livro abre com uma afirmação audaciosa: As massas odeiam a arte nova, porque não a entendem!. A razão é evidente: a arte romântica, que encadeou o século XIX, bem como o naturalismo, estavam ao alcance de todos, com a representação exaltada da vida sentimental e das suas efusões piegas e o tratamento clínico dos seus problemas sociais; mas as novas tendências da música, da pintura, do teatro e da literatura, que não aspiram a mostrar a vida tal como é, mas sim criar “outra” vida, exigem um esforço intelectual laborioso – uma mudança de perspectiva e da própria ideia do que é arte - , que “o grande rebanho filisteu” não está disposto a fazer. Portanto, deu-se um divórcio irremediável – um abismo – entre a arte nova, os seus cultores e defensores, e o resto da sociedade.
… O artista do nosso tempo, não quer que a sua arte apareça como uma ilustração da “vida verdadeira”; pelo contrário, aspira criar uma vida diferente da real. … Debussy desumanizou a música, Mallarmé a poesia, Pirandello o teatro, Joyce a literatura e, na pintura, “de pintar as coisas, passou-se a pintar ideias. O artista cegou para o mundo exterior e voltou a pupila para as passagens interna e subjectivas”.
“Nestes tempos, cada vez mais, nos diferentes ramos da cultura, se impõem, sobre a
linguagem comum, os jargões especializados e herméticos sob cuja
sombra, muitas vezes, se esconde não a complexidade e a profundidade
científica, mas sim a prestidigitação verborreica e o ardil”.