sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Morra o homem! Fique a fama!


A peça decorre num dos Cafés da Praça do Marquês, na década de 1970, que funcionava como "sala de estudo" durante a tarde, e onde ocorria muita da socialização da zona.

Chamávamos-lhe o “supositório”, porque era pequeno, fanfarrão e pertencia ao grupo de “juniores” que, de um dia para o outro, começou a ocupar uma outra ala no Café. Nunca lhe soube o nome. Aquele chegava. Entrava e saía, numa hiperactividade constante que girava à volta de duas rodas.
Tinha uma motorizada de 50 cc, com escape aberto, que virava para o interior do Café na esperança de acrescentar alguns centímetros à sua altura, e mimava-nos com repetidos Vrummms, naquilo que o seu miolo entendia como um aquecimento do motor para fazer frente às "chicanes" entre os carros, nas ruas e ruelas da cidade do Porto.

Aquele imaginário ancorava-se num familiar, mecânico de automóveis, que, de vez em quando, por lá aparecia, e que mais tarde viria a falecer com toda a família, em aparatoso acidente, com honras de primeira página de jornal.
...
Um dia o “supositório” entrou Café adentro, brilhante da napa recém-estreada, só denunciado pelo Vrum estridente do seu escape, e todas as cabeças se levantaram à passagem daquele macrocéfalo cavaleiro do apocalipse, no seu trajecto glorioso em direcção à mesa dos amigos.
Depois, lentamente, enquanto se libertava das luvas e do brilhante capacete que lhe avolumava o cérebro, justificou-se:

“Com este fato de couro, se tiver um acidente, posso partir os ossos todos, que não faço sangue nenhum!”

Ignoro se ainda está vivo!, ... mas a imagem, ... permanece!

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