- … e a que está na maca A, no corredor, é para ser observada amanhã por Psiquiatria e pela Assistente Social. Foi o filho que a trouxe, desesperado. Disse que tinha de ir para Lisboa, porque tem lá o emprego, e que já fez impossíveis para a ajudar, mas agora … desistiu. Nos dois últimos anos, não há registos de consultas de psiquiatria, mas antes, esteve por duas vezes internada por alcoolismo.
Tem uma história de degradação progressiva. O marido já não quer saber dela, e está a tratar do divórcio. Fuma quatro maços de cigarros por dia, e está viciada em ansiolíticos que compra na farmácia sem receita médica. Hoje tomou uma mão cheia, e ficou como bêbada. Parece que têm conseguido impedir-lhe o acesso ao vinho.
Disse que passou cheques e vendeu o ouro da família para alimentar os vícios, e que há dívidas que não sabem como pagar. Quando consegue sair de casa, anda pela vila a pedir dinheiro ou tabaco, para vergonha do filho, que já nem ter coragem para ir ao café ter com os amigos.
Parece um bicho. Vê que não fuja. A meio da tarde estava no átrio da Urgência com o casaco por cima do pijama a fumar. As análises de rotina estão bem!
Todos os dias, entram no Serviço de Urgência, situações avançadas de toxicodependência, seja ela alcoólica, medicamentosa ou por drogas ilícitas, de gente que lentamente se degradou. Frequentemente não se identifica qualquer “trabalho de rua” das instituições de solidariedade social.
- No outro dia questionei um psiquiatra sobre este problema, e ele perguntou-me, meio zangado, se eu curava o cancro, e eu … calei-me!
- Olha lá, quando eras miúdo, como é que se tratavam os bêbados da tua aldeia?
- Do que me lembro, os rapazes atiravam-lhes pedras, e as mulheres iam-nos buscar às tabernas!
- Então … evoluímos!
1 comentário:
esse psiquiatra deve ser "professor doutor".
Há quem dê logo alta a pessoas com este tipo de problema
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