Fui educado no respeito pelo outro e num ambiente em que se devem procurar as explicações para todos os fenómenos com que a natureza nos surpreende. Cedo desvalorizei a importância do Deus que me foi presente nos primeiros anos de escola, talvez por não ter sido assombrado com as situações dramáticas que afligiam (e afligem) grande parte da população de Portugal e do Mundo. Custa-me, pois, aceitar “orações” e “mortificações” a solicitar a intervenção divina em nosso favor e as práticas de um clero que, frequentes vezes, ao longo da História, tudo fez para manter o poder dos poderosos, por temer que a “heterodoxia” pusesse um fim à “ordem” que assumiam como única possível.
Até ao meu meio século de vida, sempre acreditei que o Homem é “bom por natureza” e toda a maldade que é capaz, tem origem nas circunstâncias em que é colocado e, nesse sentido, tendi a classificar-me como um “Humanista pouco convicto”, pois sempre recusei a pô-lo no centro de toda a vida neste planeta.
As novas religiões (que se apelidam a si próprias de Ideologias) – o Liberalismo, o Comunismo, o Capitalismo, os Nacionalismos e o Nazismo, apesar dos esforços missionários sem paralelo e das guerras mais sangrentas da História, também não me conseguiram converter, deixando-me sem sentido de pertença.
Quem viveu em sociedades fortemente marcadas pela adversidade, e não sentiu soluções para as provações que o acaso lhes pôs no caminho, optou, quase obrigatoriamente, por um Deus e por intermediários humanos, para agradecer as vitórias mais significativas da vida e para ter a quem recorrer nas aflições.
O Humanismo, a religião a que todos agora querem pertencer (mesmo que professem outras), quer que seja o Panteão (familiar ou colectivo) a dar as directivas à sociedade, mas, quando toda a população tem smartphones, já poucos perguntam orientações aos deuses ou à memória dos antepassados. As dúvidas são colocadas ao Mr. Google e os pedidos de ajuda ao Facebook. O relacionamento é feito “on line” e são raros aqueles que se reconhecem pelo cheiro da pele.
Os mais velhos lembram as “velhas glórias” enquanto os jovens viajam no mundo virtual dos novos deuses “made in” Silicon Valley, seguindo-lhes os gostos e objectivos que os fazem acreditar no Dataísmo, que mais não é que um Fé cega nos dados que o Mr. Google e as redes sociais fornecem, e que já constitui a nova religião do século XXI.
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