sexta-feira, 15 de março de 2024

Prenda de anos


Imagination is more important than knowledge. Knowledge is

 limited. Imagination encircles the world.Albert Einstein

sábado, 2 de março de 2024

Novo modo de aprender


Este podcast põe em causa o processo tradicional de aprendizagem e propõe um novo sistema que, espero, dê início a uma pequena revolução no "Ensino" do país, para bem de todos nós, a começar por alunos e professores. 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Campanha Eleitoral


O texto terá quase 20 anos, mas mantém actualidade.

Mas não foi só o texto que me motivou a pô-lo aqui. Foi também a qualidade da apresentação do contador Maviael Melo. 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Advogados

 


Quando frequentei a cadeira de Higiene na Faculdade de Medicina do Porto, uma das perguntas que no exame podia ditar o seu desfecho era: "Qual é a acção de um gato sobre uma colónia de ratos?" A resposta comum era qua a iria dizimar, mas a acertada era: "Melhora a colónia!, ao eliminar os menos capazes de viver nessa situação.

Coisas que me vêm à cabeça quando, diariamente, assisto a este constante pôr uma pedrinha na engrenagem, com que se põe à prova as leis do Estado, como se a “engrenagem” aguentasse este exponencial aumento do número de gatos!

E, nem por acaso, ao guardar a História do Declínio e Queda do Império Romano, de Edward Gibbon, deparo com um marcador numa página que fala de tribunais, magistrados e advogados e que, apesar de se referir aos princípios da nossa Era, tem muito a ver com o que hoje se passa.

Imperador Constantino (272 – 337) “por entender que a integridade do juiz podia ser influenciada pelo seu interesse ou simpatias, estabeleceu severos regulamentos destinados a excluir qualquer pessoa do governo da província onde nascera e a proibir o governador ou os seus filhos de casar com uma nativa ou habitante, de comprar escravos, terras ou casas dentro da sua esfera de jurisdição”

…” mas na fase de declínio da jurisprudência romana (476, assinala o fim do Império Romano do Ocidente), a promoção ordinária dos homens de leis revelou-se plena de desconcerto e vergonha. A nobre arte, que outrora fora preservada como sagrada herança dos patrícios, caiu nas mãos dos libertos e dos plebeus que, com mais astúcia que engenho, exerciam um sórdido e pernicioso comércio. Alguns deles lograram penetrar no seio de famílias, na mira de fomentar discórdias, instigar pleitos e preparar uma colheita de ganhos para si próprios ou para os seus confrades. Outros, fechados nos seus aposentos, cultivavam a circunspecção de professores de leis, fornecendo a clientes ricos as subtilezas capazes de alterar a mais pura verdade e os argumentos para disfarçar as mais injustas pretensões. A esplendida e popular classe compunha-se de advogados que enchiam o Fórum com o som da sua empolada e loquaz retórica. Indiferentes ao renome à justiça, são quase todos descritos como guias ignorantes e gananciosos, que conduziam os clientes através de um dédalo de despesas, adiantamentos e desilusões; do qual, após uma longa série de anos, estes acabavam por se soltar, quando a sua paciência e fortuna já estavam quase esgotadas.”

domingo, 28 de janeiro de 2024

O Cuquedo

 

O Cuquedo da Luísa aos 3 anos e 10 meses.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Eleições

DAI o que não é vosso! 

PROMETEI o que não tendes! 

PERDOAI a quem não vos fez mal!

Conselhos de Álvaro Pais (1330 – 1390) ao Mestre de Avis para cativar partidários para a sua causa.

sábado, 6 de janeiro de 2024

Dia de Reis

Dia de Reis (em que também se comemora a transformação da água em vinho por Jesus), cá em casa, é mais um Dia de Netas. 
O Natal, o Ano Novo, as gripes, mais os dias em que o Infantário fechou, trouxeram-nas para encher estas paredes de calor e imaginação, permitindo assim a actividade profissional dos pais.
...
- Avôôô! Arranja-me uma tesoura!
- Toma-a lá, mas tens de ter cuidado! Não vais magoar-te, nem estragar nada?
- Oh! Avô!!!!! E, como se eu tivesse dito alguma insensatez, sai dali disparada, para um canto da sala.
...
- Avô! Anda pintar connosco!


- Tu pintas a baleia!
- Sara e Luísa, querem ir com o avô apanhar cocó de cão?
-Não, avô! Nós estamos a fazer a sopa. 

...

sábado, 30 de dezembro de 2023

Soneto

 



Um amigo do Facebook (Benjamim Carvalho) escreveu este poema, na sua página.


Paixões de verão.

Todos os dias, naquela encruzilhada
Atrás do velho tronco d’um sobreiro,
Escondido, descias pela estrada ...
Passava, num momento, o dia inteiro...
O sol, no teu rosto, em labaredas mansas,
Os olhos que fechavas nos passos que descias,
Batia o meu peito, em pulos de esperanças …
E tu passavas fazendo que não vias...
Já ias longe...o sol estava posto
A noite, bem no fundo, escurecia
Esperava o momento que não vinha...
Foi tão lindo, aquele mês de agosto.
Tanto gostei de ti, eu tanto te queria...
Tanto gostei de ti, mas nunca foste minha...



E eu, que não sou poeta, por achar graça à ideia, atrevi-me a transformá-lo num soneto.

Ora cada verso de um soneto tem onze sílabas. O primeiro quarteto apresenta o assunto e o segundo amplifica o mesmo. O primeiro terceto reflete sobre a ideia central dos quartetos, e o terceto final, mais emotivo, acaba com alguma reflexão, moral ou ideia profunda. A rima é fixa nos quartetos (ABBA; ABBA) com variantes mais livres nos tercetos (CDE:CDE; CDE:DCE; CDC:DCD).

E dito isto, meti-me ao caminho


Paixões de verão

Atrás do velho tronco d’um sobreiro,
Escondido, naquela encruzilhada
T’ esperava descendo pela estrada.
Passava, num minuto, o dia inteiro.

Luzia o sol nos campos que florias
E teus olhos fugiam quais crianças
Do meu peito esmagado de esperanças
Quando passavas, fazendo que não vias.

Quando partias, o sol ficava posto
E num repente a noite escurecia
A espera do momento que não vinha.

Tão fagueiro foi aquele agosto.
Tanto gostei de ti, tanto antevia...
Que tolo até pensei que fosses minha...

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

O Pescada

 


A razão primeira porque lhe chamavam “Pescada”, nunca a soube. Talvez os seus detratores inventassem a alcunha por ser alto, branco e sempre bem arrumado. Fosse ele pequeno e gorducho e iriam apelidá-lo de “Garrafão”, mesmo que ele não consumisse bebidas alcoólicas. Mas na equipe, alguns achavam-lhe mais defeitos que virtudes e, quando a ele se referiam, era assim que o nomeavam, para que se soubesse que eram seus críticos.

Eu gostava dele. Como profissional, tudo somado, era melhor que outros cirurgiões. Sabia das suas limitações e não se metia em aventuras onde previa grandes dificuldades. Os outros diziam que era lento, por ser demasiado meticuloso a operar, e faziam chacota quando tinham que o ajudar nas grandes cirurgias, dizendo; “Vais operar com o Pescada!? O melhor é algaliares-te!”, e riam. E riam também quando ele contava as peripécias do seu hobby, a fotografia, onde dava cartas. E aí, ele não brincava. Era tudo muito “a sério”. Equipamentos dos melhores e estudo minucioso das instruções das máquinas que adquiria. Disso sou testemunha, pois vi-o várias vezes sentado à secretária, em frente à Canon topo de gama de manual aberto, a medir-se com ela, e quando lhe perguntei se já a tinha usado, respondeu-me que só a tinha comprado há uma semana e que antes, tinha de a estudar. Mas o resultado era “Muito Bom”, a ponto de pretender vender à National Geographic Magazine as fotos que fazia aos bichinhos e plantinhas do monte, que o tiravam da cama a desoras ou no meio de inclemências do tempo para apanhar a melhor luz. Vi algumas e alguns dos pequenos filmes e confirmo a qualidade e a paciência.

Mas era o seu humor o que mais me surpreendia. Aquela capacidade para ler no inesperado um ponto alto do dia e dele retirar uma história, que depois contava despretenciosamente, ridiculizando-se se necessário, para que a situação atingisse um clímax e se extinguisse nos segundos seguintes. E se lhe pedisse para repetir, ele contava-a exatamente como da primeira vez e ria comigo, não só da história, mas por nos rirmos de coisas que outros não achariam qualquer graça. Havia muitas trapalhadas em que ele se achara envolvido e, quando o encontrava, fosse num tempo morto do trabalho ou num corredor de um Supermercado, não resistia a relembrar uma, para ficarmos a rir, os dois, até ao embaraço.

Lembro aquela que mais me levou às lágrimas: Ele tinha uma casa no Porto, onde ia regularmente, principalmente quando ele e a mulher só tinham horário de manhã. Saíam do trabalho, almoçavam num restaurante em Esposende e depois seguiam viajem. Ora num desses dias, a comida não lhe caiu bem e, minutos depois, sentiu-se nauseado. Ainda pensou em parar, mas como tinha um encontro na Praça D. João I a que não queria chegar atrasado, continuou a conduzir o seu Mercedes Classe E, até mais não poder. Em frente ao Palácio de Cristal, parou no espaço então dedicado à paragem do eléctrico e, meio cambaleante e pálido como a cal, saiu do bólide e encostou-se ao tronco da primeira árvore que encontrou. E foi nesta posição que uma alma caridosa que por ali passava, lhe foi perguntar se precisava de ajuda. Agora o relato dele: “Eu estava em ponto de vómito eminente. Estás a ver! Tinha o antebraço apoiado na árvore e a cabeça apoiada nele. Quando o ouvi falar, virei-me na sua direcção e,  aquilo que estava por um fio, rebentou, e o vómito saiu-me explosivo. Havias de ver o gajo a saltar para trás com as calças a escorrer uma papa de arroz de sarrabulho misturada com tinto do Douro! Aos pulos, a sacudir os sapatos e a dizer Oh Homem! Oh homem! Então como é! E eu sem saber o que fazer. Se acabar de vomitar ou de cuidar dele! Ainda por cima o tipo estava todo apinocado, como quem vai para uma festa. Uma desgraça! A minha mulher a sair do carro com um pacote de lenços de papel, mas o vómito tinha-o atingido em cheio. Cá pra mim tinha-lhe passado já para a cueca! E o tipo a dizer C’um caraças! C’um caraças! Sem me ligar mais! E eu lá acabei de vomitar o resto para o tronco da árvore, mas o grosso já tinha ido para cima dele.“

E ria, enquanto imitava o fulano a saltar com ar enojado. E eu ria com ele e a malta que passava sorria de nos ver rir e dos gestos dele, e a certa altura caíamos na real com medo de alguém conhecido nos tomar por insanos.

Era assim o “Pescada”, há-de haver uns bons vinte anos. Depois disso, vi-o duas vezes e numa delas pedi-lhe para recontar esta história e ele contou como se o tempo não tivesse passado e rimo-nos, talvez não tanto como dantes, mas o suficiente para sairmos dali satisfeitos de tanto rir, lembrando também os alarmes que tinha em casa e que assustavam mais os convidados que o ladrões e os esquilos que mantinha numa imensa gaiola com todas as comodidades possíveis e imagináveis para um esquilo da alta sociedade.

Espero encontrá-lo ainda mais vezes nesta vida mas, caso tal não aconteça, por certo que nos iremos  encontrar no Além para nos rirmos outra vez das mesmas histórias ou doutras peripécias que lhe tenham acontecido, que ele era um bom contador de histórias. 

sábado, 16 de dezembro de 2023

As duas liberdades de Isaiah Berlin.



A palavra “liberdade” pode ser usada de mil maneiras. Isaiah Berlin (1909-1997) contribuiu com dois conceitos: o da Liberdade negativa e positiva.

A liberdade está estreitamente ligada à coação, isto é, àquilo que a nega ou limita. Somos mais livres na medida em que encontramos menos obstáculos para decidirmos a nossa vida como quisermos. Quanto menor for a autoridade exercida sobre a minha conduta, enquanto esta puder ser determinada de forma mais autónoma pelas minhas próprias motivações (necessidades, ambições, fantasias), sem interferência de vontades alheias, mais livre eu sou. É este o conceito “negativo” de Liberdade.

É um conceito mais individual do que social e absolutamente moderno. Nasce em sociedades que alcançaram um elevado nível de civilização e uma certa abastança. Pressupõe que a soberania do indivíduo deve ser respeitada, porque em última instância é ela a origem da criatividade humana, do desenvolvimento intelectual e artístico, do progresso científico. Se o indivíduo for sufocado, condicionado, mecanizado, a fonte de criatividade fica ceifada e o resultado é um mundo cinzento e medíocre, um povo de formigas ou robôs. Os que defendem esta noção de liberdade veem sempre o maior perigo no poder e na autoridade, e por isso propõem que, já que é inevitável eles existirem, que o seu raio de acção seja mínimo, só o indispensável para evitar o caos e a desintegração da sociedade, e que as suas funções sejam escrupulosamente reguladas e controladas.

Enquanto a liberdade “negativa” quer sobretudo limitar a autoridade, a “positiva” quer apoderar-se dela, exercê-la. Esta noção é muito mais social que individual, pois fundamenta-se na ideia de que a possibilidade que cada indivíduo tem de decidir o seu destino, está em grande medida subordinada a causas sociais, alheias à sua vontade. Como poderá um analfabeto disfrutar da liberdade de imprensa? Para que servirá a liberdade de viajar a quem vive na miséria? … Enquanto a liberdade “negativa” tem principalmente em conta o facto dos indivíduos serem diferentes, a “positiva” considera acima de tudo o que eles têm de semelhante. Ao contrário daquela, para a qual a liberdade é bem mais preservada quanto mais se respeitarem as variantes e os casos particulares, ela considera que há mais liberdade, em termos sociais,  quanto menos diferenças se manifestarem no corpo social, quanto mais homogénea for uma comunidade.

Todas as ideologias e crenças totalizadoras, finalistas, convencidas de que existe uma meta última e única para uma dada colectividade – uma nação, uma raça, uma classe ou a humanidade inteira -, partilham do conceito “positivo” da liberdade. Deste derivam inúmeros benefícios para o homem, e é graças a ele que existe a consciência social: saber que as desigualdades económicas, sociais e culturais são um mal corrigível e que podem e devem ser combatidas. As noções de solidariedade humana, de responsabilidade social e a ideia de justiça, enriqueceram-se e expandiram-se graças ao conceito “positivo” de liberdade, que também serviu para travar ou abolir iniquidades como a escravatura, o racismo, a servidão e a descriminação.

Mas este conceito de liberdade também gerou as suas iniquidades correspondentes. Todas as utopias sociais de direita e de esquerda, religiosas ou laicas, baseiam-se na noção “positiva”  de liberdade. Elas partem da convicção de que existe em cada pessoa, além do indivíduo particular e distinto, algo mais importante, um “eu” social idêntico, que aspira realizar um ideal colectivo, solidário, que será realidade num dado futuro e ao qual deve ser sacrificado tudo o que o impedir e obstruir. Por exemplo, aqueles casos particulares que são uma ameaça para a harmonia e homogeneidade social. Por isso, em nome dessa liberdade “positiva” – essa sociedade utópica futura, a da raça eleita triunfante, a da sociedade sem classes e sem Estado, ou a cidade dos bem-aventurados eternos – travaram-se guerras crudelíssimas, criaram-se campos de concentração, exterminaram-se milhões de seres humanos, impuseram-se sistemas asfixiantes e eliminou-se todo o tipo de dissidência ou crítica.

Estas duas noções de liberdade repelem-se reciprocamente, mas não faz sentido tentar demonstrar que uma é verdadeira e outra falsa, pois apesar de se servirem da mesma palavra, tratam de coisas diferentes. As liberdades “negativa” e “positiva” não são duas interpretações de um conceito, mas duas atitudes divergentes e irreconciliáveis sobre os fins da vida humana.

As sociedades que forem capazes de conseguir um compromisso entre estas duas formas de liberdade, conseguirão níveis de vida mais justos.

in "O apelo da Tribo" de Mario Vargas Llosa


domingo, 10 de dezembro de 2023

Deang


DEANG, é da Tailândia. A sua obra abrangente, explora diferentes materiais que vão da madeira, ao ferro, à pedra e à cerâmica. Por vezes figurativo, outras vezes abstracto, mas sempre com um olhar atento e determinado na sua forma de representar. 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Arte abstrata


Nunca pensei ser artista, embora mantenha veleidades de artesão. Artista, implica capacidade de inovar, de criar qualquer coisa que nunca tenha sido feita e o meu trabalho sempre foi aplicar o estado da arte às particularidades de cada indivíduo. Por isso, olho os artistas, com um misto de respeito e receio, por temer que a etiqueta de “arte” caia sobre embustes de toda a espécie.

No outro dia, dei com um pequeno texto sobre “A Desumanização da Arte e outros ensaios de estética” de Ortega e Gasset (1883-1955).  Transcrevo:

O livro abre com uma afirmação audaciosa: As massas odeiam a arte nova, porque não a entendem!. A razão é evidente: a arte romântica, que encadeou o século XIX, bem como o naturalismo, estavam ao alcance de todos, com a representação exaltada da vida sentimental e das suas efusões piegas e o tratamento clínico dos seus problemas sociais; mas as novas tendências da música, da pintura, do teatro e da literatura, que não aspiram a mostrar a vida tal como é, mas sim criar “outra” vida, exigem um esforço intelectual laborioso – uma mudança de perspectiva e da própria ideia do que é arte - , que “o grande rebanho filisteu” não está disposto a fazer. Portanto, deu-se um divórcio irremediável – um abismo – entre a arte nova, os seus cultores e defensores, e o resto da sociedade.

… O artista do nosso tempo, não quer que a sua arte apareça como uma ilustração da “vida verdadeira”; pelo contrário, aspira criar uma vida diferente da real. … Debussy desumanizou a música, Mallarmé a poesia, Pirandello o teatro, Joyce a literatura e, na pintura, “de pintar as coisas, passou-se a pintar ideias. O artista cegou para o mundo exterior e voltou a pupila para as passagens interna e subjectivas”.

 Uma das frases célebres do mesmo autor, é: “A clareza é a cortesia do filósofo!” e eu concordo com ele. 

Nestes tempos, cada vez mais, nos diferentes ramos da cultura, se impõem, sobre a linguagem comum, os jargões especializados e herméticos sob cuja sombra, muitas vezes, se esconde não a complexidade e a profundidade científica, mas sim a prestidigitação verborreica e o ardil”.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Verdades

 


“Ajude-se a si mesmo, preferindo sempre os artigos nacionais!”, “Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses!” e “A verdade é só uma, Rádio Moscovo não fala verdade!”, tenho-os como slogans recorrentes da Emissora Nacional, nos anos 60 do século passado, as verdades que o Estado Novo procurava impôr, a par do “Deus, Pátria, Autoridade!” e mais tarde com o “A Pátria não se discute. Cumpre-se!”

Frases saídas depois de um sinal horário ou do fim de uma radionovela, que cedo me levaram a lhes questionar a intenção, atitude que se expandiu aos dogmas religiosos com que simultaneamente me bafejavam.

Mais tarde, a Ciência foi-me relativizando as “verdades” sem, no entanto, ter lido os filósofos que sobre elas discorriam.

Eis-me agora chegado ao tempo de pegar em livros arrumados que, por uma razão ou outra, me vieram cair na mão.

Há dias iniciei o “Apelo da Tribo” de Mario Vargas Llosa, Nobel da Literatura (2010), onde o autor revê os pensadores que o levaram a acreditar no “Liberalismo” como melhor solução política, e onde também aborda a “Verdade”.

… “no relato histórico, as ideologias e as religiões, os interesses criados, as paixões e os sonhos humanos foram injectando, ao longo dos séculos, cada vez mais doses de fantasia, até os aproximarem dos domínios da literatura e, às vezes, confundi-los com ela. É evidente que isto não nega a existência da História, apenas sublinha que a História é uma ciência carregada de imaginação”.

Para Karl Popper, a verdade vai sendo descoberta num processo que não tem fim. Ela é sempre provisória e dura enquanto não for refutada mas, enquanto dura, reina todo-poderosa.

… para que o progresso seja possível, é importante que as verdades vigentes sejam sempre sujeitas a críticas, expostas a provas, verificações e desafios que as confirmem ou substituam por outras mais próximas dessa verdade definitiva (inalcançável e porventura inexistente), cujo chamariz dá alento à curiosidade, ao apetite de saber humano, desde que a razão substituiu a superstição como fonte de conhecimento.

Popper faz do exercício da liberdade o fundamento do progresso.  Sem crítica, sem possibilidade de questionar todas as certezas, não há avanço possível no domínio da ciência, nem aperfeiçoamento da vida social. Se tal não for permitido, em vez de verdades racionais, entronizam-se mitos, actos de fé, magia, metafísica, num processo que pode adoptar aparências religiosas, como nas sociedades fundamentalistas cristãs ou islâmicas, nas quais ninguém pode questionar as “verdades sagradas”, ou pode adoptar uma aparência laica, como nas sociedades totalitárias, nas quais a “verdade oficial” é protegida contra o exame livre em nome da “doutrina científica” do marxismo-leninismo.

Foi errando e aprendendo com os erros, que o homem evoluiu no conhecimento da natureza e de si próprio, num processo onde não estão excluídos retrocessos e ziguezagues. Foi assim na medicina, na astronomia, na física e também na organização social. É este “peacemeal approach” que Popper postula, expressão que equivale à opção gradual ou reformista, antagónica da revolucionária, que faz tabula rasa do que existe.

Estou com ele!

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Fazer o bem a quem nos faz mal!

É bom que aprendamos, na juventude, as regras da sociedade em que se vive, juntamente com a noção que algumas delas irão mudar ao longo da nossa vida. É bom também tomar conhecimento de que, em diferentes regiões deste planeta, as regras podem ser outras, para que reformulemos o pensamento quando se viaja ou se emigra.

Para além das leis, há que contar com os árbitros que decidem as questões, pois, em muitos locais, a corrupção, o compadrio e o nepotismo orientam a prática da lei.
Quando há uma revolução e o poder “cai na rua” abre-se a porta ao crime de oportunidade, pois as revoluções ditas “populares” são mais eficientes a destruir que a criar e estabilizar um novo regime, a exemplo do que aconteceu na Primavera Árabe. Depois de uns milhares de mortos e de muito ressentimento, o poder é tomado por quem for capaz de promover um bode expiatório e negociar apoios internos e externos para reestabelecer a paz, deixando muito crime por punir.

Mas, no dia a dia, é bom que mantenhamos a ideia de que o crime e o castigo são indissociáveis, com as suas variantes conforme a região.

A filosofia dos primórdios do Cristianismo de “Fazer o bem a quem mal nos faz!” que, de tempos a tempos, se tenta reanimar nas sociedades ocidentais, não é reconhecida como lei por qualquer Estado, nem por outra religião para além do Cristianismo.
As crianças e os jovens adultos podem e devem ser “vergados pelo amor”, mas quem tem mais de 30 anos, salvo motivo de doença ou de uma forte paixão, não deve ter “redenção” possível
“Fazer o bem a quem nos faz mal” é a atitude certa para um filho menor, mas é erro aplicá-lo fora do nosso espaço familiar, pelo risco de se desmoronar toda a complexa estrutura social

Fazer apelos à paz, não é o mesmo que perdoar.





 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023