sábado, 31 de outubro de 2009

Os arrependidos


A prisão está cheia de gente arrependida. Pelo menos estão arrependidos daquele pequeno erro que os levou à cadeia.

O paradigma, ainda presente da nossa sociedade, é o da complacência para com o pequeno delito.
Se alguém rouba uma carteira com 10 Euros, e é apanhado, há a tendência para avaliar a falta pelo dinheiro envolvido e não pelo acto em si, como se alguém que rouba o fizesse pela primeira vez.

Quem rouba uma carteira é ladrão. Pelo menos é um ladrão de carteiras que deve ter já roubado dezenas delas. Se já roubou um milhar, teve sorte. Se só roubou meia dúzia, teve azar.
É assim nas sociedades organizadas. Comete-se um crime e paga-se pela tipologia do crime, com as atenuantes que a lei prevê.

O problema surge quando, por falta de educação, a população é complacente com comportamentos que uma sociedade moderna já não comporta, como atirar lixo para rua, não cumprir a regras de transito, aldrabar a qualidade do seu trabalho, ser gratuito ou corrupto nas opções que afectam a sociedade … .

É que para que a mudança seja eficiente, é necessária uma massa crítica de pessoas que a abrace, e que esteja disponível para sofrer um pouco por ela, e se deixe da lamúria de dizer: “Não sou eu que vou endireitar o mundo!”.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Limpou-os o Sarampo


Até à chegada dos Europeus, o Novo Mundo estava livre do Varíola, Tifo, Parotidite Epidémica, Cólera e Sarampo.
Quando Cortez invadiu o México, levou um aliado silencioso mais potente que seu pequeno exército espanhol. Esse aliado, a que os Astecas e os outros americanos nativos não tinham capacidade de reagir, foram as doenças infecciosas.
Quando, em 1520, no ano seguinte ao da sua chegada, entrou em Tenochtitlan (actual Cidade do México), encontrou metade dos seus habitantes infectados com varíola.
Por volta de 1595, mais de 18 milhões tinham morrido de varíola, de sarampo e de outras doenças europeias.

Em Portugal, o último caso de sarampo reportado é de 2006. A varíola está considerada erradicada do mundo pela OMS desde 1979.
Benditas vacinas!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Iago



















- Sabes o que é a honra? Não percebes que há fundamentos que são fruto de uma vida, e de que se não pode abdicar só porque num determinado momento “pode ser conveniente”?
- Cansam-me os os teus …mas…, como se eu não soubesse que a mente humana é capaz das mais absurdas racionalizações. Há que ter um mínimo de coerência, e o modo como pões o problema, atinge-me como um insulto.
- Puseram-te na posição de árbitro, e tu insistes em adiar a decisão até perceberes quem vai ganhar, ... para votar nele. Temes que o apoio ao mais fraco te fragilize, e mandarias até um justo para o cadafalso, só para não te comprometeres.
- As tuas palavras não têm maior objectivo que a tua pessoa. Perdeste o tempo certo. Agora, quando muito, poderás salvar a face perante os outros. Estás marcado pelo oportunismo.

- Não és mais que um fruto deste tempo de “vale tudo”, porque sabes que amanhã outra coisa virá tapar o teu opróbrio.
- Tu não entendes que te exijo carácter, honra e integridade?! Ou pensas que esse assunto é só para os políticos?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Serviço de Urgência
























1985, um médico é abordado por um familiar de um doente alemão que aguardava ser atendido no Serviço de Urgência do Hospital de S. João.
- Dr. aconteceu alguma catástrofe?
Resposta:
- Aqui vivemos em regime de catástrofe permanente!

De lá para cá, com ligeiras flutuações, mantemo-nos no mesmo regime.
Será que faltou um Plano de Contingência?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Humor



É por estas e por outras que eu frequento o Blog : Memórias Futuras

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"A raposa e as uvas"


O título era: “A raposa e as uvas” e o autor, o brasileiro Guilherme Figueiredo.
Vi a peça no TEP (Teatro Experimental do Porto), em 1971, numa transversal à rua de Sá da Bandeira, numa sala com 3 ou 4 filas de espectadores, mesmo em cima do palco.
O teatro era sempre uma novidade. Espantava-me aquele faz-de-conta onde tudo se simulava e eu procurava acreditar.
Mas adiante que não é a isso que vem o texto. O escrito tem por mote a dita peça, onde um senador romano, vive da cultura do seu escravo filósofo grego. A certa altura pergunta-lhe:
-Diz-me, qual é a coisa melhor do mundo?
E o escravo dissertou sobre a língua. Sobre a transmissão dos conhecimentos que ela permite e sobre todas as coisas que o homem é detentor, por ter este extraordinário meio de comunicação.
O senador satisfeito foi para o senado, e voltou ufano com o seu sucesso na tribuna.
Momentos depois, numa outra cena, depois de lhe contar o quanto gostaram da sua anterior palestra sobre a língua, pergunta-lhe de novo:
-Agora diz-me, qual é a pior coisa do mundo?
E o filósofo grego respondeu-lhe:
-É a língua, e dissertou de igual modo sobre os malefícios que ela nos pode trazer.

Não esqueci, embora nem sempre a use do modo mais eficiente.

domingo, 25 de outubro de 2009

Caim



Não é mais que um dos muitos sinais, que o livro “A Bíblia”, já não cumpre muitos dos objectivos de coesão da sociedade ocidental.

No livro “Evolução para todos”, David Sloan Wilson define o porquê das religiões e o modo como elas são fruto de uma evolução e adaptação ao ambiente e, como qualquer ser vivo, correm o risco de se extinguirem, caso passem a “dançar com fantasmas”.

Muitos dos textos bíblicos estão nesta circunstância, pese embora a acção dos exegetas lhes deformarem o sentido, para assim tirarem ilações que os possam suster à luz da actual realidade, ao ponto de se desaconselhar ler a Bíblia sem anotações de roda pé e até se aconselhar a sua leitura unicamente nas igrejas, para que um padre lhe possa dar a "interpretação correcta".

Quando li o livro “O Jogo do Anjo”, fez-se-me luz no espírito, ao concluir que o livro que é encomendado ao seu principal personagem, não é mais que uma Bíblia, pois um conjunto de pequenas histórias paradigmáticas é um meio muito mais eficaz de divulgar conceitos que uma simples lista de normas de actuação.

A Bíblia, ao ser considerada obra final, sem necessidade de novas histórias que respondam aos problemas da actual sociedade, torna-se ineficiente e leva ao descrédito das religiões que nela se apoiam.

Já o disse e repito-o: a próxima Religião ocidental vai ter como fundamento o darwinismo, mas a sua afirmação irá demorar a ser integrada na sociedade pois, embora tenha havido cuidado na divulgação dos seus conceitos, não lhe foi dada a componente vertical (transcendental) necessária para a veneração e cumprimento inquestionável.

sábado, 24 de outubro de 2009

Catarino


Farias 80 anos, caso não decidisses partir, calmamente e sem um adeus.
Foste um homem diferente. Aceitavas a vida com nobreza, enfrentando as adversidades com o humor de quem espera solidariedade igual àquela que disponibiliza. Foste leal e disponível como se fosses da família e, apesar do teu passado de dissabores, nunca te vi um azedume.

Um estúpido acidente de viação tirou-te o único filho e deixou-te um neto com sequelas para educar, e conseguiste resultados que pareciam impossíveis, com essa mesma naturalidade com que fazias um muro ou deitavas um carvalho abaixo.

Agora as tuas botas estão para ali sem serventia e as alfaias esperam as tuas mãos para dar ordem ao jardim, que fica com o travo da tua ausência, pois aquelas horas em que tudo se fazia brincando, não eram de trabalho, eram um tempo de lazer em que, sem custo, nos ensinávamos.

Estás ligado a um ventilador, mas já te foi recusada a cirurgia que te poderia valer, pois a falência multiorgânica em que estás, torna o acto cirúrgico um assassínio. Tentámos tudo, mas chegámos tarde a um mal que rapidamente te destruiu e que os teus anos não foram capazes de suster.

Não vais para o céu, nem para o inferno. Vais andar na memória de quem te conheceu como um exemplo e nas coisas em que tocaste na marca que lhes deixaste.

Nota Biográfica: José Catarino (1930-2009), nasceu em Mora (Évora). Filho de carpinteiro, foi carpinteiro de carros de mulas, até os automóveis lhe escassearem o trabalho, e ir para Montemor-o-Novo encher chouriços numa fábrica. Aí casa, e começa a sua vida de funcionário público ao ingressar como operário indiferenciado no Serviço de Fomento Mineiro. Começa por abrir poços, mas a grande facilidade em resolver problemas e o reconhecimento das suas capacidades humanas e de liderança, fazem com que seja chamado a assumir progressivas responsabilidades, algumas, até então, a cargo de Agentes Técnicos de Engenharia.
Viverá 8 anos em Évora, até uma ordem de serviço o obrigar a ir para Caminha, para ocupar tacitamente o lugar de Chefe de Secção, até à reforma aos 65 anos.
O casamento e morte do seu filho, bem com a educação do neto irão prendê-lo definitivamente a esta terra.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Possível e o Desejável


Se alguém assume poder ditatorial, assume também a responsabilidade por todo o mal que se faz no seu mandato.


Defendo o poder partilhado, onde as Instituições garantem o cumprimento de planos em que participaram, ajudando a definir os objectivos possíveis.
Para tal é fundamental que se diferencie o possível do desejável. É que os espaços de decisão não são bancadas do futebol, onde pouco se valorizam as incapacidades e a acção contrária do adversário, e tudo parece uma questão de "querer".

Ter opiniões obriga a responsabilidade e compromisso.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A minha alma de sherpa


















Um explorador inglês caminhava por um trilho nos Himalaias, seguido por uma fila de sherpas que lhe transportavam a logística montanha acima, quando decidiu parar para todo o grupo descansar.
Passado o tempo que ele achou suficiente para o descanso, deu ordem para que todo o grupo se pusesse de novo em marcha, com o objectivo de cumprir uma qualquer meta a que se tinha proposto, quando o chefe dos sherpas, lhe argumentou: "Ainda não podemos continuar, porque a nossa alma ainda não chegou aqui!"

Eu tenho uma alma destas. Quando vou de férias ela só chega uma semana depois. Quando volto ao trabalho, nem ao décimo dia me faz companhia.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O pó!























-E o Orlando, como está?
-Está cheio de falta de ar, mas aguenta-se!
-O tipo tem sete vidas. No Porto só o operam quando não estiver infectado, mas cá para mim ele não sai desta!
Durante semanas o Orlando debateu-se com uma endocardite bacteriana e com um sem fim de complicações, que todos os dias surgiam a agravar a sua já pouca saúde.
Era um rapaz bonito de olhos azuis, cabelo ondeado e aquela magreza de capa de revista. As cicatrizes nos braços das flebites eram a única coisa que o desfeava.
- “Ele já esteve pior! Agora pelo menos tem o antibiótico dirigido ao agente identificado.”
E o Orlando aguentava-se, com o fole a dar a dar, rodeado de tubos, fios e drenos e a cabeça a vogar como uma traineira em mar encapelado, sem perceber o que se passava em seu redor.
Eram os 17 anos e a resistência àquelas doenças, que à uma o atormentavam, que nos surpreendiam.
-“Não se safa!”
-“Vais ver! Estes gajos não morrem! Se fosse alguém que cuidasse da saúde, já tinha ido. Mas estes tipos têm sete vidas!” E entravamos na enfermaria a medi-lo com o dia anterior.
-“Oh Orlando, estás melhor?”. E o Orlando, no meio das muitas inspirações, balbuciava uma resposta onde se percebia um sim.
- “Ouve lá! Onde é que tu te drogavas?”
- “Nas muralhas!”
- “E como é que fazias?
- “Deitava o pó numa carica, depois punha sumo de limão e misturava.”
- “Então andavas sempre com uma carica para o preparado!”
- “Não! Por ali havia sempre caricas no chão, e eu apanhava uma!
- "Ahh!"

Sobreviveu à infecção. Foi operado para substituição de uma válvula cardíaca. Regressou e esteve, no total, três meses internado. Após a alta, manteve-se na consulta não mais de um ano.

Um dia, num Café, em que eu não era habitual, é ele que me serve.
-“Então como andas, Orlando?”
Era já um homem, mas mantinha aquele ar frágil e inseguro. Trabalhava ora aqui ora ali sem se deter muito nos empregos, mas deslocava-se sem aparente dificuldade. Tomava Metadona e vivia com a mãe.
- “Lembras-te do que passaste? Pensaste que não escapavas!?
- “Não! Só me lembro que só pensava no pó!”

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

James Taylor



James Taylor (1948 - ... ) compositor, interprete e guitarrista, nasceu em Boston, Massachusetts, USA.

Era assim que eu me gostava capaz.

domingo, 18 de outubro de 2009

Lavrista























-E a sua profissão qual era Sr. José?
-Lavrista!
-Lavrista?
-Sim! Lavrava a pedra!!
-Era canteiro! ?
-Era lavrista! Sr. Dr.! Fazia estátuas de santos em granito!
-E onde é que aprendeu a arte?
-No Vale dos Caídos em Espanha com o mestre Frederico Santos. Depois estive em Paris, mas aí era mais canteiro. A gente fazia o que aparecia!
-Você conheceu o Mestre Quintino de Esposende?
-Estou muito cansado Sr. Dr.!
-Deixe lá, Sr. José! Os seus 86 anos e a doença, não lhe perdoam! Continuamos depois com a conversa!

Nota: O Vale dos Caídos é um memorial monumental, erguido entre 1940 e 1958, a 40 km de Madrid, em memória dos mortos na Guerra Civil Espanhola, de 1936-1939. Foi mandado erigir pelo ditador Francisco Franco, que, apesar de não ser uma vítima da Guerra Civil, está lá enterrado juntamente com 33.872 combatentes de ambos os lados participantes. Inclui uma basílica escavada dentro da rocha, onde estão sepultados os mortos. A sua construção foi feita quase na totalidade através da exploração da mão-de-obra dos republicanos derrotados.

sábado, 17 de outubro de 2009

Alice Rosa


Ainda me lembro dos teus 17 anos esmagados contra mim no corredor da enfermaria. Qualquer um falaria de assédio, pois só eu ouvia o que me dizias desesperada.
Tinhas então uma recidiva da tua Doença de Hodgkin e a memória do que tinhas passado nos ciclos do tratamento anterior, com náuseas e vómitos de uma intensidade tal, que agora os iniciavas dias antes da sua administração.
Outros tempos, em que os anti-eméticos eram pouco potentes e se exigia aos doentes passarem por aquele crivo, na esperança de uma cura.
Eras linda, decidida e capaz de mover montanhas mas, naquelas alturas, vacilavas entre o medo da morte e o medo do tratamento.
-“Alice Rosa! Hoje fazes tratamento!”, dizia-te depois de ver as análises. E, de imediato, o pânico dos efeitos laterais daquela Mustarda Nitrogenada (gás de guerra na 1ª Guerra Mundial e que agora te era injectado), avassalavam a tua cabeça.
-“Não! Hoje não! Que eu não estou preparada! Eu venho amanhã, e faço o tratamento. Mas hoje não! Eu prometo que amanhã me porto bem, mas hoje não!”, imploravas. E, perante a minha negativa, empurravas-me e agarravas-te como um náufrago, na expectativa de um acordo, a que eu me forçava a negar, por saber que os resultados dependiam também do cumprimento das datas.
-“Não Alice! Tem de ser hoje!”, respondia-te a contragosto, enquanto me tentava afastar para compor o quadro.
-“Hoje não!”, e voltavas ao ataque, inventando uma qualquer razão que na hora te vinha à mente, enquanto a tua mãe, perplexa e impotente, se deixava ficar à espera do desfecho daquele combate, onde eu esgrimia promessas de mais cuidados no controle sintomático.
Eram uns vinte minutos dramáticos que se repetiam a cada ciclo de quimioterapia, que me deixavam em ponto de lágrimas a ver-te chorar impotente de revolta.

Isto deve-se ter passado em 1982. Entraste em remissão completa e não tiveste mais recidivas da doença. Anos depois fui ao teu casamento dar-te um beijo enquanto fazia votos para que a quimioterapia não te tivesse esterilizado.
Pensava-te agora longe de quem por força da vida te abandonou, mas o telefone trouxe-te de novo até mim.
Estavas feliz e tinhas um filho!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Odete


Nessa altura, embora eu não fosse uma estampa, as doentes engraçavam com o jovem médico que por ali andava a fazer-lhes perguntas e a mexer-lhes no corpo à procura de solução para as suas aflições.

Eu sentia que a Odete gostava muito de mim. Deveria ter a minha idade ou um pouco mais, e transpirava ainda a beleza de uma juventude que lhe fugia a passos largos.
Conhecemo-nos num dos seus já muitos internamentos e, aos poucos, fomos juntando as pequenas histórias com que se faz uma amizade.
Era do conhecimento geral. “Oh Gomes, a Odete está na cama 22! Tens de ir lá vê-la, que ela já perguntou por ti mais de mil vezes!”, e eu lá ia fazer-lhe um carinho.
-“Tens de tossir Odete! Tens de deitar essa expectoração toda para fora. Não é só na Fisioterapia. Tens de te deitar nas posições que sabes e tossir, para ela sair! Sabes como são as bronquiectasias!” e, se tinha disponibilidade, ajudava-a com umas palmadinhas, até ela se cansar. Depois dizia-lhe uma graça e ia à vida mas, sempre que passava pela porta da enfermaria, atirava-lhe um sorriso para ela digerir.
No último ano, poucos foram os dias que passou em casa, sempre com infecções cada vez mais difíceis de debelar e, mesmo quando tinha alta, era com a certeza de que voltaria na mesma semana, para novo ciclo de exames, tratamentos, gestos e sorrisos com que sempre me presenteava, mesmo quando aflita, afugentava a morte que a rondava.

Numa noite de Urgência, logo à minha chegada, dizem-me: “A Odete está na Sala de Observações! Tens de ir vê-la, que ela a primeira coisa que fez, foi perguntar por ti! Olha que desta, ela não se safa!”, e eu ainda confiante: “Não! Ela já entrou assim tantas vezes e safou-se! Não vai ser desta!”.
Visto-me, e ainda antes de receber o turno, empurro a porta de vai-vem da Sala de Observações e encontro-a sentada na cama, extenuada, cabeça pendente com a máscara de oxigénio desalinhada e tubos de soros por todos os lados.
Sentiu o movimento. Levantou a custo a cabeça enquanto tentava localizar a nova presença.
Fixou-me e iluminou-se-lhe o rosto. Arregalou os olhos por curtos segundos, disse muito a custo: “Dr. Goooooomesssssss!”... , e sem conseguir suster a posição, todo o corpo lhe estremeceu, os ombros caíram ... e não voltou a inspirar.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Sertanense


O Sertanense volta a Jogar com o Futebol Clube do Porto. Agora sem o Brasil da outra época a dar-lhe a música que eu gostava de ouvir. É que o treinador e os 8 jogadores que viviam como gladiadores à espera de uma sorte na Europa do Futebol, voltaram ao Rio de Janeiro.
Hoje na entrevista prévia ao jogo não ouvi nada semelhante àquela entrevista acalorada de 2008, em que o treinador, dizia com a voz fininha e musicada: “Se a gente botar a boneca no berço, vai ser um Deus nos acuda! Porque o Estádio vai virar um caldeirão!”.
Perderam por 4-0.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Em defesa de Auxiliares de Enfermagem nos Hospitais




















Os enfermeiros são fundamentais para que se possam tratar doenças graves em doentes internados, já que os actos médicos (médicos ou cirúrgicos) aqui praticados necessitam de vigilâncias que estão sob a sua responsabilidade, bem como toda a hotelaria e gestão de recursos.

Uma Equipe Médico / Enfermeiro coesa, é fundamental para os melhores resultados de qualquer tratamento.
Mas ... , não é assim que a profissão de Enfermeiro se tem vindo a desenvolver.

Na procura do estatuto profissional e social que lhe é devido, definiram-se caminhos que não privilegiam os pontos de contacto com os médicos, com prejuízos para ambos e para os doentes.
Assinalo alguns destes entraves: o registo informático (SAPE) no Processo Clínico, a "distribuição dos doentes por grau de dependência" pelos enfermeiros nas Enfermarias, a tipologia das Passagens de Turno e a execução de trabalho indiferenciado (higienes aos doentes).

O Enfermeiro tem de ter tempo para se relacionar com o doente e com os outros profissionais, e para tal não deve executar tarefas indiferenciadas, deixando-as para Assistentes Operacionais sob sua vigilância, deve escrever de modo sucinto os factos relevantes no Processo Clínico em suporte de papel, e deve ter passagens de turno limitadas aos seus doentes em conjunto com o médico.

O modo como se processou a informatização do Processo Clínico, obriga-os ao preenchimento de múltiplos quadros de difícil e moroso entendimento, com consequentemente afastamento dos doentes e dos médicos, e sem qualquer vantagem, já que a escrita em suporte de papel (à semelhança do que fazem os médicos), é mais rápida de executar e de aceder.

A cumprirem-se estas alterações, torna-se evidente que faltam mais Assistentes Operacionais que Enfermeiros em muitos dos Serviços Hospitalares.

Será que assistimos à acção de um Ensino/negócio, a estimular o regular aporte de alunos às Escolas de Enfermagem para se poderem sustentar, com o beneplácido dos Sindicatos que vêm a suas fileiras engrossadas de insatisfeitos?

Em 2008 havia em Portugal ~ 46 mil enfermeiros no activo, o que corresponde a um rácio de 4.6 enfermeiros por cada mil habitantes, numa Europa que propõe 7.5 enfermeiros por mil habitantes. Mas estas propostas integram, em muitos países, Auxiliares de Enfermagem (que em Portugal foram extintos em 1975).

Se todos eles forem Enfermeiros, há o natural risco de desclassificar a profissão e de lhes pagar de acordo com este facto.

O Plano Nacional de Saúde previa para 2010 - 517,3 enfermeiros por 100.000 habitantes e, em 2008 estes eram já 524,5 / 100.000 .
A OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development) dá uma ideia das necessidades e da evolução da Saúde no Mundo, onde se vê Portugal e os seus profissionais numa posição nem sempre desfavorável, em relação à Europa.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Crónica de Fim de Férias




-Não me digas que vão acabar as férias e não vamos a Lisboa. Nem que sejam dois dias!
-Está bem! Vamos com a Delfina e o Noé, a Maria del Cármen e o Jaime, a Maria José e o Manolo, que eles querem ir ver a exposição da Paula Rego e a Exposição que está no Museu de Arte Antiga.
-OK! Vamos no dia anterior, e vamos ao teatro.

1: Centro Cultural de Belém:

Amália Coração Independente, uma iconografia da artista e uma Exposição sobre Evolução das Artes Gráficas no século XX de onde tirei estes conceitos sobre “O Tempo”
… Enquanto os segundos se arrastam, os anos passam a voar. O nosso sentido de tempo é relativo. Está sobretudo ligado á memória, que por sua vez se relaciona com a quantidade de experiência. Os desenvolvimentos decorridos ao longo dos séculos XX e XXI têm causado mudanças drásticas na nossa apreensão do tempo. Novos modos de produção, transporte e comunicação parecem alterar a cadência dos dias.
… Os ritmos impostos pela industrialização e pela pós-industrialização exercem um domínio profundo sobre a vivência pessoal e colectiva.
O tempo é acima de tudo uma medida política. Para Marx o que é apreendido como comércio de bens e serviços é, de facto, o comércio do tempo de trabalho materializado. Contrariar o tempo é resistir.
… A experiência da passagem do tempo foi influenciada pelo enorme aumento no ritmo e volume de informação facultada a cada indivíduo. Em vez de uma noção de dinamismo as tecnologias digitais criaram muitas vezes uma sensação de dilúvio.
… O rebentar da bolha dot-com em Março de 2000 foi prova de que as novas tecnologias não possuem poderes transformadores ilimitados. Num cenário em que as evidências crescentes confirmam uma actual realidade de crises ambientais, a chegada ao calendário dos primeiros anos do século XXI coincidiu com a necessidade de reconsiderar o tempo em todos os seus sentidos: biológico, tecnológico, científico, histórico, cultural e vivencial.

2: Teatro:

“A Bicicleta de Faulkner" na Barraca. Cá fora, uma sexta-feira de juventude pelas ruas de cerveja na mão, ou com ar de quem vai para um outro lado semelhante àquele de onde saiu. Lá dentro somos 10 espectadores (contra 4 actores) a assistir a uma peça bem construída e bem interpretada sobre “a vida de uma família” com as suas crises de identidade, as suas doenças e os seus amores e desamores.
A Maria do Céu Guerra não merecia isto do público português! Mas também nenhum dos outros actores, nem quem com eles defendeu esta peça.
Será que temos de voltar à Grécia Antiga e pagar para que a população assista a Teatro?

3: Museu de Arte Antiga:

"Encompassing the Globe" - a presença de Portugal no mundo durante os Descobrimentos nos séculos XVI e XVII. Fomos nós portugueses que unimos o Atlântico e o Índico e construímos a estrada comercial entre dois mundos que mal se conheciam. Fomos muito importantes.


Edifício da autoria do arquitecto Eduardo Souto Moura e Exposição de Paula Rego.
Não sou particular fã da artista, mas confesso que a disponibilização de “assistentes educativos” a explicar as razões de cada quadro, me deram uma dimensão diferente da pintora e da sua pintura.

5: Pelo meio houve Bairro Alto, Alfama, Chiado e nenhum Futebol (parece que ganhámos 3-0 à Hungria e que ainda é possível o Mundial), e à ida, houve passagem por Fátima para ver a Igreja da Santíssima Trindade com projecto do arquitecto grego Alenxandrus Tombazis, onde cabem nove mil crentes sentados.

domingo, 11 de outubro de 2009

D. Perpétua


Então D. Perpétua, como está? Pergunto enquanto a visito em sua casa, três dias depois da morte do marido de 94 anos, acamado há mais de dois.
-“Oh! Sr. Dr.! Ele fazia-me muita companhia!”, responde contristada, acentuando o negro da roupa, enquanto me estende a mão mole num cumprimento. –“Sabe a gente habitua-se, e depois é uma tristeza muito grande!”.
- “Eu calculo D. Perpétua!. Ele, se bem que trinta anos mais velho que a Sra., deve-lhe ter dado muitas e boas recordações!
- “É verdade Sr. Dr.! Mas eu também o ajudei muito, porque a família dele nunca apoiou o nosso casamento", diz enquanto se senta. Depois, enquanto alisa a saia preta sobre os joelhos, olha para mim e eleva um pouco a voz: -"Não sei se reparou como a filha dele ia no enterro? Com aquele decote que quase se viam as cuecas, e saia tão curta! Desculpe Sr. Dr., mas não é figura que se apresente! Melhor fez a outra, que nem apareceu!”
- “Não!. Não reparei, D. Perpétua! Mas eu também não estava lá para reparar nessas coisas, e a outra filha, se calhar, não pôde mesmo vir!”, tento acalmar-lhe o ânimos, enquanto ela se levanta e compõe o pequeno xaile nos ombros.
- “Ai que não pôde! Ela só não veio para não se encarar comigo! É que nós nunca nos demos! Ela até me põe culpas na morte da mãe dela!", e afasta-se num longo suspiro.
-“Deixe lá isso!. Agora o que a Sra. tem é de se distrair um pouco, e não ficar aí a pensar todo o dia nessa morte!"
-“Tem razão Sr. Dr.!, e eu até já pensei em ir para as Termas. Há uns anos, fui com o meu marido, e melhorámos muito. Olhe que então, eu tinha uma grande prisão de ventre. Comia e ficava toda empanturrada, e quando fazia, era, assim, uns cagalhotos grossos, … como bolas!”, e simulava um esgar enquanto levava a mão direita semicerrada do estômago às nádegas, “e, depois daqueles tratamentos todos, até viemos com outras cores. O Dr. o que acha de Caldelas?”
- “Não há melhor! D. Perpétua! Não há melhor!"

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Jazigos e Minas



Um jazigo é uma zona de concentração de minerais úteis, passível de ser explorada economicamente. O seu valor depende do seu volume, do grau de concentração desses minerais, da cotação do minério em questão e dos custos de exploração.
Um jazigo descobre-se; uma mina faz-se.
Uma mina é uma exploração de um jazigo mineral que, num determinado tempo justifica a extracção do minério.
Como o valor dos metais (no caso de minérios metalíferos) e os custos de exploração variam de acordo com o mercado, uma mina pode hoje ser rentável e amanhã não.
A exploração de um jazigo deve obedecer a normas. Não se deve fazer uma exploração gananciosa, retirando primariamente a parte mais rica, pois isso iria inviabilizar a exploração total de uma riqueza que não se renova.
Uma mina deve ser gerida "comme un bon père de famille", de modo a garantir segurança, economia e bom aproveitamento e, à medida que se explora o jazigo, devem prosseguir estudos para melhor definir as suas reservas (já que a exploração se deve iniciar sem um estudo excessivamente pormenorizado, que demoraria um tempo incompatível com a necessidade de ir criando receitas), cuidando do impacto ambiental, para que no final da exploração o terreno da sua implantação possa, de novo, ser utilizado para a agricultura, floresta ou outros fins.

Ouço, e associo estes conceitos à minha vida: "comme un bon père de famille" - com limites, gerindo com sensibilidade e programando o futuro. É assim em todas as artes.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Fausto

Fausto Bordalo Dias, - (1948 - …) compositor e músico.
Autor de “Por Este Rio Acima”, editado pela primeira vez em 1982, remasterizado e re-editado em 1990, que se baseia nas viagens de Fernão Mendes Pinto, relatadas no seu livro “Peregrinação”.
É, na minha opinião, o álbum mais bem conseguido da música popular portuguesa.
http://www.moo.pt/musica/Fausto/Por+Este+Rio+Acima/




Navegar, navegar ; Mas ó minha cana verde
Mergulhar no teu corpo ; Entre quatro paredes
Dar-te um beijo e ficar ; Ir ao fundo e voltar
Ó minha cana verde ; Navegar, navegar

Quem conquista sempre rouba ; Quem cobiça nunca dá
Quem oprime tiraniza ; Naufraga mil vezes ; Bonita eu sei lá

Já vou de grilhões nos pés ; Já vou de algemas nas mãos
De colares ao pescoço ; Perdido e achado ; Vendido em leilão ;
Eu já fui a mercadoria ; Lá na praça do Moca ; Quase às avé-marias
Nos abismos do mar

Navegar navegar...
Já é tempo de partir ; Adeus morenas de Goa ;
Já é tempo de voltar ; Tenho saudades tuas ; Meu amor de Lisboa
Antes que chegue a noite ; Que vem do cabo do mundo
Tirar vidas à sorte ; Do fraco e do forte ; Do cimo e do fundo
Trago um jeito bailarino ; Que apesar de tudo baila ; No meu olhar peregrino ;
Nos abismos do mar

AI navegar, ó cana verde ; Ir no teu corpo entre quatro paredes
Ai dar-te um beijo e ir ao fundo; Ó cana verde ai navegar navegar




Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas

Vai de roda quem quiser
E diga o que tem a dizer (Certo!)

Sonhei muitos, muitos anos por esta hora chegada
De Lisboa para a Índia vou agora de abalada
Mas em frente de Sesimbra
Logo um corsário francês
Nos atirou para Melides
Com o barco feito em três
E por Deus e por El-Rei
Que grande volta que eu dei

Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo

Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas

Ena que alegria enorme
Uns mais ou menos conforme (Certo!)

Mas que terras maravilha mais parece uma aguarela
Que eu vejo da minha barca branca, azul e amarela
A Lua dormia ali e com o Sol é tal namoro
Que as montanhas estavam prenhas e pariam prata e ouro
Com Jesus no coração faz as contas ó Fernão

Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo

Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas

Mais cuidado no bailado
Que andamos tão baralhados (Certo!)

Nunca vi bichos medonhos tão soltos e atrevidos
Que nos fomos logo a pique c'o bafo dos seus grunhidos
E todo nu sobre um penedo de mãos postas a rezar
'Té me tremiam as carnes por os não ter no lugar
'Inda por cima a chover vejam lá o meu azar

Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo

Ó ai meu bem como baila o bailador
Ó meu amor a caravela também
Ó bonitinha ai que é das penas, que é das mágoas
Sendo nós como a sardinha
A voar por cima das águas

Eh valente rapazinho
A cantar ao desafio (Certo!)

Matei mouros malabares quem foi à guerra fui eu
Afundei grandes armadas nunca ninguém me venceu
Mas ao ver o cu de um mouro foi tal susto grande e forte
Qu'inté a bexiga mijei e de todo estive à morte
Siga a roda sem parar que a gente vai a voar!

Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo
Ó é tão lindo, ó é tão lindo




Salto no escuro; Entre dentes trago a faca
E nos meus olhos coloridos; Juro
Vem ver o fogo no mar; Os peixes a arder
Ó Ana vem ver; Ó Ana vem ver; Ó Ana vem ver

Voando em arco; Esgueiro o corpo num balanço
Como um piloto do inferno; Assalto
Nas asas guerreiras de um anjo; Seja louvado
Atacamos mui baralhados; Como um bando endiabrado
Por Jesus na sua cruz; Chora por mim ó minha infanta
Escorre sangue o céu e a terra; Ah pois por mais que seja santa
A guerra é a guerra

Coro:
Malaca Malaca; A guerra é a guerra
No céu e na terra; Nos dentes a faca
Avanço avanço; A guerra é a guerra
No céu e na terra; Balanço balanço
Cruzado cruzado; A guerra é a guerra
No céu e na terra; O mais enfeitado
Largar largar; O fogo no mar

Seja bendito; De todos o mais enfeitado
Olha p’ra mim o mais guerreiro; Ao vivo
Olha p’ra mim o teu amado; E o céu a arder
Ó Ana vem ver; Ó Ana vem ver; Ó Ana vem ver
Barcos em chamas; Erguidas
Parecia coisa sonhada; Queimados
Os gritos horrendos da besta; Ferida
E lá dentro ardiam homens; Encurralados
E cá fora à cutilada; Decepados
P’la calada; Pelos peitos já desfeitos
Chora por mim ó minha infanta; Escorre sangue o céu e a terra
Ah pois por mais que seja santa; A guerra é a guerra

(coro)

Foge saloio; Eh parolo
Aguenta António de Faria; E a fidalguia
Todo o massacre; E todo o desconsolo
Que já lá vem o Coja Acém; E o mar a arder
Ó Ana vem ver; Ó Ana vem ver; Ó Ana vem ver
Diz-nos adeus o pirata; O labrego
De cima daquele mastro; Trocista e airoso
Mostrando o traseiro cafre; Preto escuro de um negro
Levando-nos coiro e tesouro; Rindo de gozo
Perdeu-se o resto na molhada; Pelo estrondo
Na quebrada; No edema da gangrena
Chora por mim ó minha infanta; Escorre sangue o céu e a terra
Ah pois por mais que seja santa; A guerra é a guerra

Nota: Diário da viagem, Fernão Mendes Pinto
“De Diu embarquei para o estreito de Meca, daqui fomos a Maçuá e daí, por terra, ao Reino do Preste João. Passei ao Reino dos Batas e de fugida pelo Reino de Quedá como adiante darei parte. Em Patane conheci António de Faria, capitão a quem servi na venda da mercadoria. Fomos atacados e roubados pelo perro do Coja Acém, temido pirata depois que Heitor da Silveira lhe matara seu pai e dois irmãos. Por isso, Coja Acém havia prometido a Mafamede matar todos da geração de Malaca. Em pequenas fustas, enfrentei também a grande armada do turco que bordejava na nossa esteira com as velas quarteadas de cores e muitas bandeiras de seda.”

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Artesãos e Artistas


Artesão: 1- Pessoa que fabrica manualmente determinadas peças ou produtos (de olaria, carpintaria, tecelagem, renda, etc.). 2- Pessoa que faz os seus próprios produtos e os comercializa directamente!

Artista: 1. Pessoa que pratica uma das belas-artes, especialmente uma das artes plásticas ou dos seus prolongamentos actuais! 2. Pessoa que interpreta uma obra musical, teatral, cinematográfica, coreográfica. 3. Pessoa que, dedicando-se a uma arte, se liberta das pressões burguesas.

Estas definições se bem que convenientes, não exprimem a diferença fundamental que eu sinto entre estes dois tipos de pessoas, pois em qualquer profissão é possível ter uma postura de artista ou de artesão.

Artista é aquele que, detentor de vastos conhecimentos do seu ofício (e não só), é capaz de opções inovadoras de reconhecida qualidade pelos seus pares (em vida ou póstuma), enquanto o Artesão aplica a fórmula que lhe dá a garantia de sucesso com base na história recente.
Um Artista (em qualquer profissão) tem de correr o risco de não ser entendido, por não haver capacidade, na sociedade, para integrar essas opções. Como dizia Nitchze: “Há homens que nascem póstumos!” - esses sim, são os verdadeiros artistas!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

“Rio das Flores”, de Miguel Sousa Tavares























Estavas há mais de 1 ano à espera de tempo para me abalançar às tuas 600 páginas, e li-te de um fôlego, já que o tipo e tamanho da letra o facilita.

As histórias pessoais são paradigmáticas do nosso estar, e os fragmentos da História que encerra são fundamentais para nos compreendermos como portugueses na época presente.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Amazonas


As sociedades exclusivamente femininas são um mito que a cultura grega imortalizou nas Amazonas - belas mulheres belicosas que odiavam os homens, que viviam nas proximidades do Cáucaso e que repetidamente invadiam a Grécia. Eram altas e fortes e usavam o arco e flexa com destreza enquanto cavalgavam. Algumas tribos cortavam a mama direita para facilitar o uso da arma. Praticavam a eugenia escolhendo ter filhos dos guerreiros mais altos e fortes que capturavam. A sua rainha Pentesileia, morreu às mãos de Aquiles que, ao vê-la morta no chão, a chorou por ser ainda tão jovem e bela.

Daqui por uns anos, se a tecnologia e as vontades evoluírem nesse sentido, as mulheres poderão casar umas com as outras e ter filhos, formando famílias verdadeiramente homosseXXuais, dando resposta a uma eventual falta de homens para o casamento, a um agravamento do hiato cultural (já existente) que reduza o número de homens com quem seja agradável viver ou como solução precoce para uma solidão que se antevê.

Os filhos de um casamento feminino, nasceriam obrigatoriamente por fertilização “in vitro” de modo a que partilhassem o material genético das duas progenitoras, unindo o núcleo de um dos óvulos com o outro, e obtendo-se assim um ovo sempre feminino (XX).
Esta expansão do pool feminino, relegaria os homens para as actividades onde a testosterona se pudesse expressar, principalmente em manobras onde o risco lhes fosse apelativo e considerado (por elas) necessário.
De facto, na nossa sociedade, a maioria dos jovens machos, perde na competição nas provas dependentes de aquisição de competências técnicas, como é o caso do acesso a um curso superior, porque nessa altura as exigências do corpo se sobrepõem às do espírito e impossibilita-os de ficar as horas necessárias a estudar, para lhes poderem ganhar.

É por isso, que eu sou a favor de cotas para homens nos cursos superiores.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Professor















- Deixe-me rever o que disse! Então o homem nasceu em Almas, e só foi para a Escola aos 8 anos, porque o pai fê-lo esperar pelo outro irmão para irem os dois juntos? Para cúmulo reprovou na 1ª classe e só depois é que o professor lhe descobriu capacidades que era uma pena perder, e diligenciou para que ele fosse estudar para o Porto?
- Pelo menos foi isso que o meu pai me contou. O pai dele era carpinteiro em Tuias, chamava-se Fernando Azevedo. O professor Carlos Andrade vinha muitas vezes cá a casa falar com o meu pai, e lembro-me de ele se espantar com o miúdo, dizendo que lhe antecipava os raciocínios e que era uma pena que ele não prosseguisse os estudos, e foi por sua diligência que o pai do Belmiro pediu ao tio e padrinho, que era fiscal de obras no Porto, que lhe desse comida e dormida, já que ele só pagava os livros.
- É curiosa a importância desse professor na vida do país, a ser como conta.
- Nessa altura os professores primários, como o meu pai, o professor Aguiar (1900-1991), eram figuras importantes. O meu pai foi condecorado Cavaleiro da Ordem de Instrução Pública pelo Presidente da República, o General Craveiro Lopes, em 1936. Quer ver? E agora tem nome numa rua aqui no Marco de Canaveses. !