sábado, 27 de setembro de 2014

Futebol


Havia arreganho e pertinácia, mas faltava pundonor naquele jogo, tido como decisivo pela equipa da casa, para quem o empate era suficiente.
Os primeiros minutos foram jogados numa toada morna, para ambientar os jogadores, pois muitos dos titulares estavam amarelados, lesionados ou a cumprir castigo, pelo que a primeira parte não teve história. Os treinadores observaram o adversário e não arriscaram lances que pudessem fragilizar a defesa. 
No início da segunda parte surgiram as picardias a meio campo e, de rajada, três jogadores do PSD – Governo levaram cartões amarelos. A partir daí, a equipe do AllStars-Oposição desdobrou-se em fintas e rodriguinhos para provocar o vermelho.
O empate persistia. Alugava-se meio campo, com os visitantes a atirar repetidas vezes a bola para a grande área do PSD-Governo na expectativa do golo num lance fortuito
O guarda-redes do AllStars, retirara as luvas e limava as unhas no poste da baliza, o treinador gesticulava para o relvado, o público berrava e insultava e o árbitro deixava jogar.
Faltavam quinze minutos para o final quanto Paula Cruz, numa entrada de pés juntos, atinge os tornozelos de Tribuno que rebolou pelo relvado com um grito lancinante. O árbitro conferenciou com os assistentes e, no meio de assobios, de pedidos de vermelho directo e de uma chuva de objectos, mostrou-lhe cartão amarelo.

A falta de qualidade do jogo punha as bancadas a lembrar a ratice de um Carneiro para a frente de ataque, o estilo raçudo do Mendes para confundir a defesa, a habilidade para as bolas altas do Santana ou a trapaceirice do Menezes, velhas glórias com as botas penduradas.
Aos 80 minutos, aconteceu novo caso. Numa completa falta de jeito, o avançado Crato num carrinho atropelou um defesa e um apanha-bolas. Os adeptos levantaram-se temendo a expulsão. O jogador recompôs-se e correu rápido para o árbitro e, ajoelhado, pediu perdão, justificando-se com o mau estado do relvado. Levou cartão amarelo.

Aproximava-se o minuto noventa, sem que a toada do jogo se alterasse e sem que os médios do AllStars dessem criatividade ao ataque, quando surgiu o caso do jogo.
Foi mão dentro da grande área? A falta foi “casual”? Pedro Coelho apontou para o ombro e o árbitro não viu razão para desconfiar da sua palavra. As imagens em “slow-motion” confirmam que a bola ia em direcção à baliza e que foi desviada ao nível da cintura, mas o emaranhado de pernas impediu uma clara observação. Interrompeu-se o jogo. Houve sururu dentro e fora do relvado e temeu-se uma invasão do campo.
Ao fim de alguns minutos um “in dubio pro reo” deu recomeço ao jogo, sem qualquer admoestação ao jogador.
Zero a zero - resultado final. 
A AllStars desespera. Culpa o árbitro, o peso da bola, o estado da relva, a hora do jogo, a falta de prolongamento, a “mão de Deus”, a corrupção e fala em vitória-moral e no próximo jogo.

São assim os jogos da terceira divisão!

terça-feira, 23 de setembro de 2014

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A vida no campo


- É o que lhe vale. Está sempre bem-disposto. Ri mais do que o que fala. A mãe teve quatro filhos e nenhum deles sabe quem é o pai. Este só sabe assinar o nome. Até há um ano tinha a mania do vinho e, quando estava entornado, ameaçava-nos com pedras- Agora anda com as vacas no campo e não chateia ninguém. À semana para as tocar, leva uma vara velha e ao domingo usa uma nova só para aquele dia.
Desde que a pedra do valado lhe partiu o pé, em Julho, que anda assim. A mãe não o deixou cumprir repouso e pô-lo a andar em cima do gesso. Ainda o levei um tempo para minha casa, mas começou a ficar inchado e mal disposto e foi-se a ver e era ele que não queria sujar a sanita e evitava defecar. Teve de ir outra vez para casa da mãe para que se resolvesse. Agora está com o pé inchado e com bolhas. Ele ali não vai melhorar!

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sexo Oposto


Muita água havia ainda de correr debaixo das pontes até o monge austríaco Gregor Mendel concluir, em 1865, que cada característica de um indivíduo era determinada por um par de factores hereditários de origens distintas e se fundamentasse a agora tão corrente noção de "sexo oposto".
Até então a maioria da população entendia o feminino como o terreno onde a semente masculina germinava, apoiando o conceito de que só existe um sexo que se desenvolveu plenamente, exprimindo órgãos sexuais claramente visíveis – o masculino, entendendo o feminino como uma paragem intra-uterina da maturação, do que resultam órgãos sexuais atrofiados, que unicamente servem de terreno fértil para a semente que o macho lá poderá depositar.

Com o aparecimento dos primeiros microscópios (1590) que permitiram a descoberta dos espermatozoides, houve “gente de ciência" que afirmou ter visto no seu interior uns diminutos seres preformados - os “homúnculos” que iriam crescer no ventre materno que, nesse processo, poderiam adquirir algumas características da sua mãe.

Esta teoria (o Preformismo) respondia ao imaginário colectivo, que acreditava que a raiz da mandrágora (que por vezes assemelha a forma humana), era um pequeno homem que dormia dentro da terra e, como tal, detentora de importantes qualidades medicinais e mágicas.

A raiz da mandrágora estava envolta em inúmeros rituais, a que não são alheias as suas propriedades alucinogénicas. Para a retirar do solo havia que ter muito cuidado pois o “homúnculo”, ao sair do seu descanso, dava um grito tão lancinante que podia matar quem o ouvisse. Deveria ser arrancado numa sexta-feira à noite, depois do equinócio de verão, pouco antes do nascer do sol. Fazia-se uma vala à volta da raiz para lhe expor a parte inferior, amarrava-se ao pescoço de um cão preto e fugia-se para bem longe. Depois chamava-se o bicho para que ele a arrancasse. O cão morreria inevitavelmente, mas então passava a ser seguro manuseá-la.
Para que os seus poderes se fortalecessem, cortavam-se-lhe as extremidades, enterrava-se na campa de um morto durante trinta dias e regava-se diariamente com leite de vaca diluído onde previamente se haviam afogado três morcegos. A meio da noite do 31º dia, ia-se buscar, secava-se num forno aquecido com ramos de verbena e envolvia-se numa mortalha.
A mandrágora mais não era que uma semente humana que havia crescido na terra e não num útero feminino.
Dizia-se que eram frequentes por debaixo do patíbulo dos enforcados.

domingo, 14 de setembro de 2014

O Islão, os Cristãos, os Judeus, os ismos e catecismos


Talvez esta coisa da “expansão” esteja no gene humano, mas quando o que se tenta expandir é a “solução” de um só livro, seja ele a Bíblia, o Corão, a Tora, a General theory of employment, interest and Money ou qualquer outro, o certo é que os seus fundamentalistas irão fazer rolar ou estourar cabeças.
Confesso o meu medo dessa gente que propõe soluções organizacionais únicas e imutáveis.

Hoje é o Islão que cativa os pobres e os desiludidos, que vêm nele oposição à opulência das elites de um ocidente que, nos últimos cinco séculos, sugou o planeta, a coberto de um Deus redentor das almas dos pecadores submissos e implacável para com os “infiéis”.
Quando o hemisfério sul iniciou a emancipação dos impérios ocidentais, esse mesmo Deus foi incapaz de ensinar cidadania e os comportamentos em sociedade passaram a ser maioritariamente determinados pelas Leis dos Tribunais com os seus subterfúgios e "inconseguimentos" processuais.

A Sharia é uma mistura de Ética com Lei que põe a vida das comunidades nas mãos dos seus mullahs, sem as superestruturas dos recursos ou excomunhões papais. Uma ”Justiça na hora”, a branco e preto, ao gosto dos desocupados, iletrados e desesperados, que só vêm no ocidente os desmandos dos opulentos a pavonear-se na Internet e nos canais de TV.

Se pretendermos evitar as hordas de ladrões, sequestradores e assassinos numa explosão de anarquia e vandalismo, há que dar formação aos deuses e pô-los a aprender informática, saúde, sociologia, economia, engenharia e colocar os teólogos fundamentalistas de todos os "ismos" em lugares turísticos, para podermos consultar o passado e entender as coisas onde todos eles falham, que é no respeito pelo outro.
E aos que emigrarem para zonas com outras culturas para impor os seus "deuses únicos e omniscientes", deve-lhe ser dado um bilhete de ida sem possibilidade de regresso. É que a globalização não obriga a haver de tudo em todo o lado.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Bartleby, o Escrivão


Tempo de férias e de leituras atrasadas, para tentar dar algum sentido ao inacreditável de todos os dias.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Manutenções

Ligo a TV e num rápido zapping ouço os Noticiários da Ucrânia, do Iraque, do entorse do Coentrão e dos índices de significado dúbio que são empolados como sinais de recuperação da "economia".
Tiro-lhe o som e pego numa das revistas que na mesa aguarda uma passagem de olhos. Sai-me a Proteste de Setembro de 2014.
Leio a notícia da capa “Reparadores sob investigação” e pasmo em cada parágrafo.


Resumindo: entre abril e julho de 2014, contactaram de forma anónima, 29 empresas das áreas da Grande Lisboa e do Grande Porto para reparar uma máquina de lavar roupa em casa. Usaram máquinas novas e da mesma marca e modelo. Como os aparelhos estavam abrangidos pela garantia legal de 2 anos, informaram que tinha sido oferecida por um familiar que a tinha numa casa de férias.
Causaram duas avarias fáceis de identificar e reparar. Desligaram a ficha da electroválvula principal de entrada da água e desnivelaram a máquina, alterando o curso do parafuso de um dos pés frontais, para que o aparelho trepidasse durante a centrifugação. Marcaram ainda várias peças, para verificar se eram substituídas. 
A identificação do problema requeria algumas acções, mas a reparação era simples, bastava apertar os terminais e encaixá-los. Indicaram urgência na reparação e explicaram o que acontecia quando se ligava a máquina.
Contactaram apenas reparadores independentes. 
Dos 29 que responderam só 7 mereceram apreciação positiva. Os restantes revelaram incompetência e desonestidade que acrescentaram custos.
Quinze apresentaram uma hora para a visita do técnico, os outros indicaram horários distendidos que causavam dificuldade em organizar a vida para quem não tem presença constante em casa.
Só 13 profissionais detectaram e repararam o problema durante a visita e informaram o consumidor do mesmo. Três deram pela ficha e ligaram-na, mas foram desonestos e referiram anomalias inexistentes, para encarecer o serviço, e dois deles entregaram peças velhas de outras máquinas, que traziam consigo.
Os restantes reparadores fizeram diagnósticos errados e seis propuseram levar a máquina para a oficina, para fazer um orçamento e arranjar, caso o cliente aceitasse. Três nem tentaram reparar o aparelho e um desses pediu € 30 pela deslocação.
Quanto ao desnível da máquina só dois o não corrigiram.
Metade não entregou factura legal, apesar de a terem pedido.
Houve quem cobrasse 237,39€ (que é quase o custo da máquina nova), e um cobrou-se de 20€ pela resolução das avarias.


Com problemas destes os noticiários preocupam-se com o entorse do Coentrão, ignorando que as nossas escolas para além de não darem competências técnicas não ensinam cidadania. 
Como ter mão pesada para estes camaradas arraçados de hiena, que grassam na nossa sociedade?