terça-feira, 28 de julho de 2015

A Corymbia





-Pára! Pára!
 -Que foi?
-Volta atrás, que eu quero ver aquela árvore!
-Onde?
-Na Sereia da Gelfa. Volta atrás que a Corymbia está em flor e eu quero vê-la de perto, outra vez. Não deve haver em Portugal outra tão linda como esta. Quem a vê o resto do ano toma-a por um eucalipto, com quem é aparentada. Esta floração é um espanto. Há outra de flor vermelha, lá atrás. Vamos vê-las, que este fogo não dura mais que duas semanas!
O nome correcto é Corymbia ficifolia. É natural da Austrália como os eucaliptos. É uma lotaria ter uma destas. Não florescem antes dos nove anos e não é possível garantir a cor da sua flor. Pode sair branca, rosa, púrpura, vermelha ou laranja, já que se pode cruzar com uma “prima” a Corymbia calophylla que tem flores brancas ou rosadas. Como não pega de estaca e tem de ser semeada há que esperar para ver.
-É o paraíso das abelhas. Vou dizer à Né para vir vê-la, que ela é doida por flores e, por certo, não conhece estas! Ou melhor! Vou esperar que ela venha aqui!

sábado, 25 de julho de 2015

"Noblesse oblige"!



- Tens de comprar pijamas de verão! Os que tens estão velhos e, na nossa idade, há que cuidar da roupa interior!

Constato a minha surpresa com esta afirmação. Mesmo sem intenções de morrer nos próximos tempos, a probabilidade de um achaque que nos leve a um Serviço de Urgência torna um buraco numa meia, umas boxers remendadas ou um pijama surrado, um cartão-de-visita nada recomendado, principalmente quando nos conhecem e nos tomam por “desafogado”.
Há que estudar a moda, deitar fora o que está “ruim” e rever a malinha dos "precisos" para que a imagem se não deteriore mais do que aquela que os anos vão causando.

Que o embrulho não nos apouque quando já estivermos diminuídos. 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

A dona Gracinda



A dona Gracinda escreve todos os dias. Vai a meio do caderno. Também gosta de agrupar moedas, umas em cima das outras, e das suas três bonecas. Para o Hospital só trouxe uma.
Vive acarinhada pelas irmãs mais novas. Uma meningite, na infância, limitou-a. Se lhe perguntarem a idade dirá, depois de muita insistência, um ou quatro, que são os números que conhece.

Há bem pouco tempo seria “medicamente” classificada como uma “imbecil” (do lat. “imbecillis”- ‘frágil’, ‘débil’, ‘vulnerável’) e não uma “idiota” (do grego idhiótis, um cidadão "privado" –usado depreciativamente, na antiga Atenas, para se referir a quem se apartasse da vida pública), por ter tido capacidade para adquirir linguagem falada e um desenvolvimento intelectual que permite um mínimo aprendizado, como o de conservar a capacidade de obedecer a ordens e cumpri-las de forma satisfatória.
Era assim a Tríade da Oligofrenia (do grego - olígos, «pouco» + phrenós - espírito, mente; inteligência): debilidade, imbecilidade e idiotia, onde a Debilidade representa o grau ligeiro, sem grandes prejuízos para a capacidade socializante dos portadores, que, no entanto, apresentam capacidade de julgamento perturbada e dificuldade em se adequar a novas situações.
Embora estes termos tenham sido tecnicamente substituídos por “cidadãos portadores de deficiências”, o seu futuro nunca deixou de estar coberto de nuvens negras, principalmente, como agora em Portugal, devido à emigração maciça de jovens com formação média/superior, à progressiva diminuição de recursos afectos às áreas da Saúde e à diminuição dos recursos das famílias.

A manterem-se as “regras” que Bruxelas impõe como “inevitáveis", que tendem a ignorar quem está fora da “máquina produtiva”, tudo se conjuga para o seu regresso à precariedade de uma institucionalização, mesmo para quem tenha irmãs com o grau de disponibilidade da dona Gracinda!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O peso da palavra

Ghhe! Ghheee! … Ghhheeeee! Gemeu o motor de arranque, à saída de casa.

Já lhe tinha sentido uma queixa - alguém mais expedito, entenderia como séria ameaça -, que eu, à boa maneira portuguesa, ignorei, na vã esperança de um “não vai ser nada!”, numa bateria de 8 anos, quase o dobro do seu  “habitual” ciclo de vida.

Desta vez não aconteceu na pior altura como dita a Lei de Murphy. Estava sem pressa e em casa tenho um carregador para lhe dar uma ajuda e pôr o motor trabalhar. 
Arranquei até à Electro-Auto, esquecido dos outros afazeres.

- Sr. Lages, a bateria do meu carro está “fraca”. Será que com uma carga aguenta mais uns tempos?
- Isso vê-se já!, e se assim o disse melhor o fez. No minuto seguinte, um pequeno aparelho, dava o diagnóstico.

RUIM & SUBSTITUA

Assim sem mais – RUIM : "mau ou perverso, que não possui nem expressa sentimentos bons, que pratica actos de maldade, de péssima qualidade, prejudicial, que ocasiona danos, …

Podia ver lá escrito – Deteriorado, Avariado, Estragado, … mas o que lá estava, em letras maiúsculas, era - RUIM, para me tirar de todas as hesitações e dizer adeus aos 80 Euros, sem um mínimo de remorso.

Vai-te bateria velha! Abrenúncio!!!!!! T´arrenego!  … Uffff!!!


sexta-feira, 10 de julho de 2015

Grécia


Como disse hoje Vladimir Putin: "Onde estava a UE" quando os problemas da Grécia se acumulavam?

E é também aqui que eu ponho a tónica. É só medir o tamanho da maçã comercializável e definir como construir WC nos consultórios e restaurantes, ou essa “malta que ganha milhões em Bruxelas” não soube o que se estava a passar nos Bancos e nos Partidos que usam os Estados sem um mínimo de cumprimento das tais “regras” por que se devia reger a União Europeia?

Assumir o poder sem postura que contrarie quem é disfuncional e não cumpre regras básicas é ser “político de pacotilha” cuja principal preocupação é não levantar ondas para sair incólume no fim do mandato.

Há muito que se sabia que a Grécia não estava a cumprir o “estar Europeu”, como acontece ainda em muitos sectores em Portugal onde é possível viver impunemente no “faz de conta”. Quadros superiores incompetentes ou incumpridores que se mantêm activos depois de longos anos devidamente identificados, empresários cujo “sucesso” está apoiado em encomendas facilitadas por partidos políticos, políticos corruptos a usar facilidades para enriquecimento ilícito, advogados "espertalhões" a fazer cortinas de fumo a toda esta gente e tudo isto a acabar num Sistema Judicial ineficiente por vícios antigos e escassez de recursos.

Temos sido governados por gente que sente que sabe jogar com as regras do capitalismo liberal, onde o momento dita o gesto e não há qualquer projecção colectiva da sociedade, ignorando que não é possível uma União Europeia onde cada Estado se procura “safar”, seja ele a Grécia com espertezas saloias, ou os países do norte que para vender automóveis e aviões à China sacrificam os países do Sul. 

domingo, 5 de julho de 2015

O meu irmão

 
Sinopse: Com a morte dos pais, é preciso decidir com quem fica Miguel, o filho de 40 anos com síndrome de Down. É então que o irmão – um professor universitário divorciado e misantropo – surpreende e alivia a família, chamando a si a responsabilidade.

O autor usou a sua experiência pessoal - tem um irmão mongoloide - mas, ao contrário do que eu esperava, trata o tema com a autenticidade e ambivalência que estas situações despertam no comum dos mortais.

É um romance que prende pela qualidade da escrita e pelas imagens que nos dá do ambiente em que se movem as famílias e instituições com deficientes intelectuais a seu cargo, neste Portugal actual à espera que um D. Sebastião lhe dê um rumo consistente.

Um livro de verão para quem tem ligações à Saúde, ... e não só.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Frase do dia


"Alcohol may not solve your problems, but neither will water or milk."

quarta-feira, 1 de julho de 2015

IACs


Bem! A coisa é quase sempre assim: eles calados, temerosos, elas a querer mostrar o que valem. Eles de sapatilhas, T-shirt e calças de ganga. Elas, sem peias, de tacão alto, sedas e transparências. Todos capazes de ouvir à primeira aquilo que, por vício, sempre repito.
É assim que, nos últimos anos, me surpreendem os jovens médicos Internos do Ano Comum (IACs) nos confrontos com as realidades e as irrealidades que fazem parte da ciência e da vida no Hospital. Atentos e preparados para aceitar dificuldades.
Hoje foi dia de mudança. Os que partem deixam uma memória - um nome, uma característica, uma história.
Esta por arregaçar as mangas para se medir, aquele por uma timidez que só a custo se ultrapassa. Da Teresa, para além da feminidade que discretamente pôs em tudo o que por aqui fez, fica-me a receita de um Tiramisù.

Boa sorte a todos. Voem alto e sejam humildes, ... mesmo que a sorte vos bafeje!
Até sempre

Tiramisu
1 pacote de palitos “la Reine”
200ml de nata
200ml de leite condensado
2 yogourts gregos
Café
Cacau em pó

Bater a nata. Acrescentar o leite condensado e os yogourts.
Deixar arrefecer o café (pode-se acrescentar vinho do Porto a gosto).
Molhar os palitos no café durante 3 a 4 segundos e fazer uma camada numa travessa funda. Depois colocar o creme, outra camada de palitos e outra de creme.
Por cima pôr o cacau em pó.

Enfeitar com morangos

Tiramisù - em italiano, tirami su, de tirare + mi + su: "levanta-me" ou "puxa-me para cima", qualquer coisa como "amanda-me para o tecto!"