segunda-feira, 31 de março de 2014

Caderno Afegão



É quase uma lei. Gosta-se de um livro e somos compelidos a outro.
No caso, o “Caderno Afegão”.

Eu admiro mulheres como Alexandra Lucas Coelho (Lisboa, 1967), com capacidade de achar soluções num país falhado, talvez o mais perigoso do mundo, como o é o Afeganistão, onde a sharia nega direitos básicos às mulheres. Mas é a sua invulgar capacidade de observação e a sua escrita directa, que me seduziram nestes seus relatos jornalísticos de 2008, onde cada parágrafo é um ensinamento.
Um livro de viagens, em tempos de guerra, ao "islão profundo", que nos custa a entender.

domingo, 30 de março de 2014

O Xico-Esperto


Encontramo-los em todo o lado. São trabalhadores indiferenciados, escriturários, empresários ou quadros, tecnicamente medíocres, com padrinhos nas forças vivas da cidade, promovidos por avaliadores desleixados ou temerosos de lhes ver barrada uma reforma confortável.
Cheiram a testosterona requentada quando, mentalmente, percorrem os fluxogramas na procura de uma pequena vantagem que possa dificultar a vida ao outro. Têm a memória saturada de automóveis, futebol e esquemas de um indefinido sonho exótico.
Movem-se por dinheiro ou pelos objectos onde julgam ver a felicidade. Contrariam-se no que fazem em gestos despegados de copy-paste. Usam o seu pequeno/grande poder para exigir portagens, certos da constância dos costumes e de que não serão nem social nem criminalmente punidos. Opõem-se a qualquer eficiência, porque é na ineficiência e no poder de activar a alcateia (onde até as fêmeas lhes tomam os trejeitos), que têm o seu espaço.
É o chico-esperto português. O fruto da não promoção da competência.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Os homens do Pìfaro



Em 1282, a Cidade de Hamelin sofreu uma infestação de ratos. Um dia, chega à cidade um homem que reivindica ter a solução para o problema. Prometeram-lhe um bom pagamento  - uma moeda pela cabeça de cada rato. O Homem aceitou. Pegou numa flauta, hipnotizou os ratos e levou-os a afogarem-se no Rio Weser .
Apesar do sucesso, a cidade recusou pagar, afirmando que ele não havia apresentado as cabeças dos ratos. O homem deixou a cidade, mas voltou semanas depois e, enquanto os habitantes estavam na Igreja, tocou novamente a sua flauta e atraiu, desta vez, as crianças de Hamelin que o seguiram para não mais serem encontrados.
Na cidade, ficaram os opulentos habitantes com as dispensas e os celeiros repletos, protegidos por sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza. Apenas três crianças restaram: uma cega, que não conseguiu seguir o flautista, uma surda, que não ouviu a flauta, e uma deficiente que caiu das muletas no caminho.
E foi isso que sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.

Em 2008, nos Estados Unidos, desencadeou-se uma crise financeira que afectou gravemente todo o mundo ocidental. Um dia, chegam a Portugal uns homens que reivindicam ter a solução para o problema português.
Prometeram-lhes um bom pagamento em troca. Eles aceitaram e, de imediato, iniciaram um "aumento brutal de impostos".

Mas ..., mesmo com o país a pagar, atraíram os recém-formados e levaram-nos para o Norte da Europa, onde vão ser enfeitiçados para não mais voltarem.
No país ficaram meia dúzia de opulentos habitantes com as dispensas e os celeiros repletos, protegidos por sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza nos Lares de 3ª Idade, para onde foi ou vai ter de ir metade da população.

Quem é capaz de descobrir a diferença entre a história de 1282 e a de 2014?

domingo, 23 de março de 2014

Morangos

Antes de me ir a eles, lembrei-me das aulas de Ciências Naturais, onde os pensava classificados nas Infrutescências. Errei.
O morango não deriva de uma inflorescência pois tem uma única flor, cujo ovário é formado por diversos carpelos ligeiramente aderentes entre si. Deve ser classificado como um "fruto agregado”. A sua parte carnuda é o receptáculo de múltiplos frutos, que são “os grãozinhos” à sua superfície.
O figo, a amora-de-silva e o abacaxi, esses sim, são infrutescências, pois derivam de muitas flores que crescem conjuntamente.

Revista a ciência, fui ao canteiro onde os tinha colocado no ano passado (de onde não colhi mais que 1Kg,  predado por tudo o que era bicho), decidido a usar técnica diferente que, não só aumente a produção, como me proteja de quem toma o pequeno-almoço muito antes de mim.

Sachei, limpei, adubei, montei sistema de rega, plantei. Uufff!!!!! ... e ainda falta proteger! Duas tardes e a sensação de que, mesmo que consiga quantidade, vou ter os morangos mais caros da região. 
E… a luta continua, que vai ser desta que eu ganho à natureza!




sexta-feira, 21 de março de 2014

Desespero


-Sr. Dr.! São estas vozes na cabeça que me não deixam. É como um disco riscado, sempre o mesmo todo o dia. Eu é que faço por não lhes ligar, senão já tinha acabado comigo.
- Dona Idália! O que é que essas vozes lhe dizem?
- Estão sempre a dar-me ordens! Até tenho vergonha! Ontem estava na banca a cortar um frango e elas sempre a dizer-me “corta a mão! corta a mão!”, no outro dia diziam-me para tirar a roupa e ir passear nua na praia. E não se calam! Uma vez eu estava na cama e elas começaram a mandar-me ir andar nua em volta da casa. Como era noite, fui, só para ver se elas se calavam, mas elas continuaram, mesmo depois do meu marido lá me ter ido buscar. Sr. Dr.! Eu quase não durmo por causa delas. ... Nós vivíamos tão bem! ...

segunda-feira, 17 de março de 2014

A velocidade dos objectos metálicos


Tiago R. Santos, de acordo com a sua diferenciação em guionismo, recria um estar adolescente, na zona de Lisboa, onde pontuam a “iatrogenia” dos professores e o “dialecto jovem”, prolífico em palavrões a fazer  pontuação e a dar ênfase às afirmações.

É um livro de “maus da faca”, que nos leva a pensar  nas condições sociais que facilitam comportamentos aberrantes das famílias, no sistema educativo e na necessidade de um Dia Mundial do Adolescente, que mais não seja para lembrar que não é possível educar com pais ausentes.

Da página 83, retiro este pequeno trecho que me parece definir a base onde o livro assenta.

(a partir deste momento e até indicação em contrário, aviso os leitores de que esta é uma tentativa de transcrever de forma literal as palavras do Cinquenta e Sete. Sendo que não tinha, durante a conversa, qualquer possibilidade de gravar, frase a frase, o seu discurso, recorro à memória. Aceito que algumas das linhas que se seguem não correspondam por completo à realidade, mas encaixam na percepção que tenho daquilo que ouvi e acredito que o passado se constrói nestes alicerces, não como factos mas com a impressões, porque a forma como nos lembramos das coisas, a sua essência e capacidade de nos transformar, é mais importante que a verdade. …)

O autor estará na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, no dia 28 de Março, às 21.30 horas.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Manipuladores


Chega "Laranja" por "ideação suicida". É a 25ª vinda ao S.U. .
"Está desesperado" e "sente-se só". Entrou de férias. "O trabalho era um escape"!
Vive sozinho num quarto e "diz" estar a tomar três antidepressivos.
Está bem arranjado, gesticuloso, chamando a atenção para o suor que lhe cobre a testa neste dia de calor. A interrupção que pede, para ir fumar um cigarro, parece premeditada.

Será um bipolar ou um manipulador?
Prolongo a conversa, decifrando-lhe os gestos e as meias palavras.
-Amigos? pergunto. Responde que não gosta de conversas de café nem de futebol. - Família? Tem mãe e duas irmãs. - Pode telefonar a uma delas, para eu lhe falar.
...

- Oh Dr! Eu já me cansei! Ele sempre foi mulherengo. Há cinco anos a mulher fartou-se e divorciaram-se. Desde então tem vivido com várias, geralmente em casa delas, raramente só. Agora, parece que está a viver num quarto. Ele não ganha mal, mas quer que cuidem dele sem dar nada em troca.
Há um ano, quando eu ainda o ouvia, foi chorar para a minha porta, a dizer que tinha um aperto no peito que nem o deixava engolir. Tive pena! Sentei-o à mesa e ele comeu três grandes costeletas e uma pratada de arroz que dava para uma família. Não me contive e disse-lhe: Oh Luís! Ainda bem que não te passa nada na garganta, porque senão comias uma vaca inteira!
Dr.! O que ele agora quer, é ir para a casa da minha mãe que tem 84 anos. Mas a minha irmã, que vive com ela, não está para sustentar cavalos malandros.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Ler, faz bem ao Cérebro!


- Permite aquisição de conhecimentos difíceis de desenvolver e aperfeiçoar de outro modo.
- Melhora a linguagem por ampliar o vocabulário, e aperfeiçoar a estrutura gramatical.
- Aumenta a memória, a atenção e a concentração, expandindo as capacidades da mente.
- Estímula o pensamento abstrato por nos mostrar a realidade através da fantasia.
- Incentiva a reflexão e formação de opinião, questionando conceitos preconcebidos – nossos e de outrem - tornando-nos mais «abertos» ao «novo e diferente».
- Amplia a capacidade crítica ao nos confrontar com outras opiniões sobre determinado assunto, cria bases de argumentação mais consistentes e desenvolve a iniciativa.
- Fortalece a criatividade e a brincadeira. Quando lemos transformamos mentalmente, factos, cenários e personagens, desenvolvendo o nosso potencial criativo. A leitura permite-nos criar um mundo onde somos livres de sonhar e nos divertir, sem nos sentirmos pressionados. Quem lê desconhece a solidão.

Há milhares de anos a humanidade teve necessidade de transformar a linguagem em códigos escritos e assim nasceram as letras, dando origem à leitura e à escrita. Esta capacidade foi adquirida porque no cérebro humano existem células que se conseguem diferenciar para exercer esta tarefa. Ao contrário da linguagem oral, não se desenvolve espontaneamente por provavelmente não se tratar de uma tarefa imprescindível para a sobrevivência da espécie ou do indivíduo. Estas funções requerem o envolvimento e o treino de muitas áreas do cérebro.
Para ler, primeiro fazemos uma análise visual dos símbolos que compõem as palavras escritas. Se for uma palavra conhecida, numa «olhadela rápida», o cérebro, acede a um arquivo de significados – a semântica - gera a imagem do objeto, da ação ou caracterização que a palavra implica e, também a um arquivo de palavras – o léxico - e dá-nos a resposta correta. Depois é só verbaliza-la. Quando a palavra é desconhecida juntamos as letras e as sílabas, e temos que fazer várias tentativas de comparação dos sons que lemos, com os de palavras que já conhecemos (às vezes em voz alta), e também com a semântica e com o léxico para darmos um sentido à nossa leitura. A maior parte de nós lembra-se ainda de o fazer, quando em criança aprendemos a ler. Mas depois de muito treinarmos, hoje lemos este texto usando a primeira forma, ou seja, usamos a leitura global que é muito mais rápida.
Ao aprender a ler, o cérebro, que tem grande capacidade plástica, modifica-se, para «acomodar as novas capacidades», e reage ativando várias áreas cerebrais, quando vê palavras escritas. A esta conclusão chegou o grupo de investigação de José Morais, professor jubilado de Psicologia da Universidade Livre de Bruxelas, num dos muitos trabalhos que realizou sobre leitura, escrita e literacia. Numa investigação recente, os mesmos autores concluíram que nunca é tarde para aprender.
Com a ajuda de exames de imagem como a Ressonância Magnética Cerebral Funcional, outros grupos de investigação, perceberam que quem já sabe ler deve ler mais e mais difícil. A leitura de prosa e poesia clássica pode melhorar as redes neuronais, pois estimulam mais o cérebro do que a leitura dos mesmos textos em linguagem comum. Sempre que surgem palavras difíceis ou raras, estruturas gramaticais complicadas ou frases inesperadas, o cérebro é estimulado a aumentar o nível de funcionamento, encorajando a atenção nas frases seguintes. Por sua vez, a poesia, também estimula uma área relacionada com a memória autobiográfica, provavelmente por desencadear resposta emocional e reflexão sobre as próprias experiências.
Portanto, voltemos a ler os clássicos:


Ditoso seja aquele que somente
Se queixa de amorosas esquivanças;
Pois por elas não perde as esperanças
De poder nalgum tempo ser contente.

Ditoso seja quem estando ausente
Não sente mais que a pena das lembranças;
Porqu'inda que se tema de mudanças,
Menos se teme a dor quando se sente.

Ditoso seja, enfim, qualquer estado,
Onde enganos, desprezos e isenção
Trazem um coração atormentado.

Mas triste quem se sente magoado
De erros em que não pode haver perdão
Sem ficar na alma a mágoa do pecado.


Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
Sec. XVI

Escrito por Dra. Élia Baeta, Neurologista. Publicado em "Aurora do Lima"

terça-feira, 11 de março de 2014

Iatrogenias


- Dona Dulce. Não pode ser! A senhora vem da Consulta de Dor Crónica com essa medicação? A Sra disse à médica tudo o que estava a tomar?
- Disse, Sr. Dr.!
- E falou-lhe do penso de Fentanil, que usa há 15 dias?
- Falei, Sr. Dr.!
- E mostrou-o à médica?
- Não! Eu tenho-o na nádega e custa-me muito sair da cadeira de rodas.
- Desculpe a minha insistência, dona Dulce, mas vai ter de me dizer - exactamente - as palavras que usou quando lhe falou do penso!
- Disse-lhe que tinha aqui um emplastro!
- Oh dona Dulce! Um emplastro não é isso! A senhora tem um penso transdérmico de um medicamento que é cem vezes mais potente que a morfina. Um emplastro é uma medicação caseira, um adesivo impregnado com um rubefaciente para aquecer o local onde se coloca.
Se a Sra. não tivesse vindo aqui depois dessa consulta, ia ser um sarilho de toxicidade. Para a próxima, quando for ao médico, leve as caixas de todos os medicamentos que está a usar. Está bem!?

domingo, 9 de março de 2014

Ladysmith Black Mambazo - Homeless



Emaweni webaba
Silale maweni
Webaba silale maweni

Homeless, homeless
Moonlight sleeping on a midnight lake

Zio yami, zio yami, nhliziyo yami
Nhliziyo yami amakhaza asengi bulele
Nhliziyo yami, nhliziyo yami
Nhliziyo yami, angibulele amakhaza
Nhliziyo yami, nhliziyo yami
Nhliziyo yami somandla angibulele mama
Zio yami, nhliziyo yami
Nhliziyo yami, nhliziyo yami

Too loo loo, too loo loo ...

Strong wind destroy our home
Many dead, tonight it could be you

And we are homeless, homeless
Moonlight sleeping on a midnight lake

Somebody say ih hih ih hih ih
Somebody sing hello, hello, hello
Somebody say ih hih ih hih ih
Somebody cry why, why, why?

Yitho omanqoba (ih hih ih hih ih) yitho omanqoba
Esanqoba lonke ilizwe
(ih hih ih hih ih) yitho omanqoba (ih hih ih hih ih)
Esanqoba phakathi e england
Yitho omanqoba
Esanqoba phakathi e london
...
Kuluman
Kulumani, kulumani sizwe
Singenze njani
Baya jabula abasi thanda yo
Ho

sábado, 8 de março de 2014

Dia Internacional da Mulher



Este livro de Alexandra Lucas Coelho parece autobiográfico.

Lê-se de um fôlego.
Tem um interessante olhar sobre o conflito israelo-árabe, mas o mais é a “mulher–vulcão” com que todos os homens de meia idade sonham.
Para maiores de 35 anos, com um pouco mais do 12º ano.

Sublinhei na página 198:
- O orgulho protege a nossa vontade de viver. De outra forma, as pessoas não teriam energia. Em vez de falarmos como vítimas, podemos falar como sobreviventes. A vítima é impotente, o sobrevivente ainda controla. E esse é o domínio da dignidade, que está acima do dinheiro e da comida.

terça-feira, 4 de março de 2014

Bêbados


Todos têm nome de guerra. Juntam-se ao fim do dia naquela esquina tornada passagem pelo fecho abrupto das lojas. Perto um supermercado vende-lhes o vinho a 60 cêntimos o tetrapak. Uns deitam-se no lajedo frio do passeio. A outros ainda sobra energia para desequilíbrios de trapezista. O Mudo  não faz mal a ninguém mas assusta pelos guinchos. O Teixeira é  campeão em idas ao Serviço de Urgência. Tem um telemóvel. A Mulher do Mudo, raramente engrossa o magote.
Se há festa, dispersam-se e desaparecem, levados  pelos movimentos caóticos dos arraiais, para se encontrarem dormentes ou feridos, caídos mais que prováveis, na soleira de uma porta, num banco de jardim, de borco num boeiro.
Este chamou a atenção, esparramado, o cão a rondá-lo, ganindo. Está morto!? Chamem o 112! conclui o povaréu que entretanto se junta.
Chega a ambulância e a VMER. Correm enfermeiros, médico e socorristas com macas, desfibriladores e malas de primeiros socorros. Abre-se uma clareira na gente que se afasta.
- É o Mickael Jackson!
Viram-no de lado. Tosse e mais um vómito. -Estás bem?! abanam-no. Esboça um gesto. Tem pulso, respira. Dá vontade o deixar ali, e ir embora, mas o público está atento e, à mínima indecisão do artista, disposto a patear. Colocam-no na maca. O cão aproxima-se e ele abre um olho e agarra-o.
-Oh Mickael! Larga o cão que o bicho não pode ir na ambulância!
-O cão vai comigo! Senão eu não vou!, afirma.
Uns sorriem, outros não entendem a demora em partir. Do grupo, uma mulher confronta a enfermeira da VMER:  -Bocês que bão para o Hospital, é que lhe podiam lebar o coum! Carago!

segunda-feira, 3 de março de 2014

A Esperança


Contava Gabriel Garcia Márquez que, numa campanha eleitoral no México, os dirigentes do Partido Revolucionário Institucional, no poder há mais de 70 anos, julgando-se imbatíveis, tinham caído na apatia.
Como exemplo dessa circunstância, num encontro, o candidato limitava-se a ler, com voz monocórdica, a lista dos projectos que haviam sido levado a cabo, perante uma multidão indiferente e desatenta quando, de súbito, sem se saber de onde, se levantou um enorme cartaz onde se podia ler:
“Basta de realidades! Queremos promessas!”

É a esperança que nos move. Mal vai um país onde a crueza da verdade não é acompanhada por uma garantia de capacidade em ultrapassar os males que nos afligem - uma utopia que justifique o esforço e o sofrimento!

sábado, 1 de março de 2014

Ética


E lá fui eu ouvir falar de Ética.
Cheguei à hora, receoso de não ter lugar sentado. Felizmente que tinha lugar no parque. Corri até à porta da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Viana do Castelo e a passo acelerado até ao seu Auditório. UUFFF!!!. Olho o relógio ante de entrar: 21:30h em ponto. Empurro lentamente a porta para não incomodar. Na mesa, ninguém! Na plateia duas pessoas. Uma no centro, outra numa ponta da última fila, como a dizer "se isto durar muito, vou-me embora sem ninguém notar".

Sento-me. Passam longos minutos. Agora entra um, depois outro. Mais minutos e entram mais quatro que cumprimentam um dos que já cá estava. São 21:50h quando entra uma revoada de vinte pessoas. Três dirigem-se à mesa, um com flores que pousa no centro, e se dirige para o púlpito para ligar um computador. Entra o orador ao lado de um idoso que irá presidir à sessão. Pede desculpa pelo atraso, referindo que o material de apoio informático que ontem enviou por mail, se … extraviou! Quieto no meu lugar pergunto-me se será possível que não tenha uma cópia ou que não tenha acesso ao mail, que mais não seja no telemóvel, para ter resolvido o problema antes da hora de início da sessão?
Por fim, um dos supostos assistentes, depois de vários cumprimentos a gente do público, dirige-se ao púlpito e troca o Portátil. Segundos depois surge no écran o ficheiro correspondente à palestra.

Pedido de desculpas de 2 minutos. São 22:10h quando se ouvem as primeiras palavras sobre ética. Estão vinte e cinco pessoas na sala.

Crítica:
A par de conceitos elementares, algumas dicas interessantes (a necessitar de confirmação), ditas num tom excessivamente “leve” como p. ex: de que na Holanda 70% dos engenheiros agrónomos são proprietários agrícolas e em Portugal 70% trabalham no Ministério da Agricultura.

Mas como resumo “resumido”, o palestrante não separou Ética de Lei, quando é essa mistura que nos tolhe os movimentos e impede um Portugal moderno.

Lei é aquela linha que não se pode descer sob pena de graves penalizações.
Ética é, como ele disse e bem, ir além daquilo a que a lei obriga.

Em 20 dei-lhe 13 valores, o que é mau para quem é doutorado em Economia e Filosofia.