segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Lar Lembranças do Olimpo (14)



O céu estava encoberto, a tarde já ia longa e Zeus dava sinais de querer iniciar, de imediato, a procura de Sísifo, na expectativa de que o médico o acompanhasse.

Hipólito falara sem pensar. A sugestão de procurar Sísifo no antigo convento, tornava-o cúmplice daquele suplício eterno, fora da sua lista de valores. Antes a morte, a castigos deste teor. Teria de adiar a sua procura. Talvez assim conseguisse uma outra solução. Aproximou-se do deus, olhou para o relógio e explicitou-se:
- Zeus! São quase cinco da tarde! Para ir consigo, tinha de ir a casa mudar de roupa e, com isso, a noite cai. E, para atrasar mais uma eventual saída, alongou-se: - Aquilo, embora próximo da cidade, é uma mata de eucaliptos, descurada pelos Serviços Florestais. Podia ser explorada para fins turísticos mas, tirando a zona do parque de Santa Luzia, anexo ao zimbório, é um emaranhado de galhos e folhas. Se um dia o fogo lhe pega, chega à cidade num instante. 

Zeus aceitou a conversa.
- Ok! Fica para amanhã! Vocês vivem tempos esquisitos. Não há quem plante para os filhos, quanto mais para os netos! Os eucaliptos e os pinheiros são as vossas árvores rainhas e as de crescimento lento são abatidas antes de atingirem a maturidade. Esquecem-se que para ter uma árvore com cinco séculos é necessário esperar quinhentos anos!, gracejou.

Hipólito aproveitou a boa onda e atreveu-se:
- Se me permite voltar ao assunto do Sísifo, porque é que aquela punição é assim tão importante para vós? Não vos chegam milhares de anos de suplício?
Zeus olhou-o, como a medir a sua capacidade para entender, convidou-o a sentar-se numa pedra em L que estava num canto da sala e fez aparecer uma mesa com um bule e duas chávenas. 
- Como já deve ter percebido, as religiões necessitam de pequenas histórias para centrar os seus valores, pois é assim que eles se tornam fáceis de memorizar. Sísifo rebelou-se e tentou repetidamente enganar-me. Como queríamos que o conceito da obediência fosse basilar, decidimos puni-lo eternamente. Não era possível uma pena menor.
Escolhemos-lhe aquela tarefa e fizemos com que a cumprisse. O normal seria ele tê-la abandonado, desesperado, ao fim de uma dúzia de tentativas. Aquela opção teve o propósito de marcar bem o absurdo de um fulano que se rebela e quer pensar por sua cabeça, ficar preso a um trabalho repetitivo e sem qualquer utilidade. Mas repare que as lides numa linha de produção têm um cariz muito semelhante.

- Percebi. Eu nunca fui a favor da especialização excessiva. Por isso fui para Medicina Interna. Mas, mesmo nesta especialidade, tenho colegas que derivaram para uma só doença, como se quisessem repisar diariamente os mesmos passos. Agora até são doutores e querem que lhes chamem professores, ... sem terem alunos!
- Nem me fale dessa gente! Sorriu Zeus, e bebericou a infusão de camomila. - Não há coisa pior na humanidade, que aquela ideia maluca de tentar ser quem se não é. De castigo, eu tenho-lhes dado uma significativa dose de angústia, directamente proporcional à sua disfunção!

Hipólito levantou a chávena, para dar sinal da sua concordância e voltou ao tema da punição de Sísifo, alegando que durante todo esse tempo, por certo, ele se transformara num homem diferente. Com a testosterona em níveis menores, se lhe oferecessem uma solução razoável, talvez ele lhes aceitasse a autoridade e se submetesse. - Com mil demónios, todo o homem tem um preço!
- Não tenha certezas dessas!, respondeu-lhe Zeus. - Olhe que, no outro dia, perguntei a um ex-presidiário, que cumprira uma pena por homicídio, se estava arrependido. Respondeu que sim! Que estava arrependido de só ter morto um, pois a pena era igual à de ter morto os dois com quem tinha conflituado! A cabeça dessa gente é muito complicada. Os primeiros anos de vida e a família onde se nasce, deixam marcas difíceis de apagar. É por isso que o Sísifo vai ter de voltar ao Tártaro, pelo menos até termos programas de reabilitação bem estruturados e monitorizados. Amanhã conto consigo depois do almoço.

- Ok!, concordou Hipólito, a congeminar um caminho diferente para o futuro daquele atormentado rei de Corinto. - Posso vir acompanhado de um psicólogo, para negociar com o homem? Eles agora estão na moda na gestão deste tipo de conflitos, e lá no hospital há muitos!

- É melhor não! Dr. ! Só ia criar confusão. Quando o acharmos, você fala com ele. Eu prometo que só lhe atiro com o raio em última instância.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Consulta


Lembro-me dela. Teria pouco mais de trinta anos, embora as rugas da face, em alguns ângulos, pudessem indicar mais uma década.
O motivo da consulta fora o filho que, temeroso, lhe segurava a saia. Coisa pouca, mas suficiente para dificultar a jorna desses dias. 

- A senhora é casada?
- Sim!. Baixou os olhos e respondeu entre dentes:
- O meu marido está preso!
E de seguida, para corrigir o que me podia parecer uma indignidade, olhou-me de frente e completou:
- Dr.! Mas é por matar! Não é por roubar!

Ribeira de Pena (1979)

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Lar Lembranças do Olimpo (13)



Eram duas da tarde quando Hipólito acabou o trabalho de enfermaria.
O registo da sua actividade no computador, depois de ter observado os doentes, ocupava metade do seu horário. Era trabalho de secretária pago a preço de hora médica que tinha de ser feito.
Os políticos do país centravam-se noutros números que os gestores locais se esforçavam por torturar para darem certo com o que lhes era pedido, ou distraíam-se com controles biométricos, que os incumpridores sabotavam impunemente.
A capital mandava e os médicos, aos poucos, iam-se tornando peças de uma máquina onde o doente passara a utente, e toda a população a cliente, onde qualquer defeito podia ser entendido como enfermidade.

O edifício crescera dando primazia aos meios auxiliares de diagnóstico. Surgiram psicólogos, gestores, assistentes sociais e “boys” do partido vencedor. Criaram-se doenças, para justificar os empregos, e divulgou-se nos meios de comunicação um extenso cardápio, para que quem sentisse dificuldades na vida se pudesse encaixar. Surgiu a “hiperactividade” das crianças, as fibromialgias, as depressões por dá cá aquela palha, os “burnouts” crónicos, as lombalgias laborais, os rastreios descontrolados e o desgoverno no número de consultas necessárias para resolver um único problema, fosse ele qual fosse. Tudo bem justificado por relatórios sociais, psicológicos, educacionais, porque as “contratualizações” exigiam números que não podiam ser esquecidos pelos gestores que tendiam a subvalorizar a qualidade, mesmo quando ela alterava o curso de uma ou de muitas histórias.
Indiferente a este estar, um núcleo duro mantinha o sistema eficiente e capaz para a população realmente doente.

No refeitório, comeu umas potas com batatas a murro e subiu para pegar em Eurídice.
- Estava a ficar preocupada, a pensar que não vinha!, disse à sua chegada à sala de espera do serviço. - Tenho tudo preparado. Até já me despedi das enfermeiras!
- Como podia esquecê-la!. retrucou o médico, de sorriso aberto. - Só se caísse o Carmo e a Trindade!, e ofereceu-lhe o braço, convidando-a.
Desceram pelas escadas para evitar a multidão que aguardava os elevadores e saíram por uma porta lateral, para que o diz-que-diz fosse menor, mesmo sabendo que, naquela casa, um supor era automaticamente tomado por verdade. Pareciam um casal em núpcias. Ela feliz com a solução e ele vaidoso por ter aquela linda mulher, a sorrir, ao lado.

Hipólito abriu-lhe a porta do automóvel. Eurídice sentou-se a olhar para todas aquelas luzes, que se acenderam quando ele meteu a chave na ignição e, temerosa, confessou:
- Que coisa é esta? O que é que vai acontecer agora?
O médico acalmou-a. - Esteja descansada! Está dentro de um automóvel. É como uma quadriga, só que as pessoas vão comodamente sentadas e não há cavalos a puxá-la. Tente abstrair e vai ver que a viagem vai ser rápida e confortável.
Eurídice deixou que ele lhe pusesse o cinto de segurança e agarrou-se ao assento com as duas mãos quando sentiu os primeiros movimentos.

Saíram. Os olhos dela, como faróis, tentavam seguir todos os objectos com que se cruzavam. Quando se cruzavam com uma camioneta ou passavam um edifício maior, levantava-se para os manter durante mais tempo no campo de visão. Ao atravessar a ponte, assustou-se com o comboio e, do outro lado do rio, mais calma, pediu para ir pela margem para ter uma imagem completa da cidade.
- É uma cidade bonita!, disse. – Pena é aquele prédio alto, ali no meio!
- É o prédio Coutinho! Há uma grande vontade de o implodir! Talvez daqui por vinte anos já lá não esteja! Em Portugal, quando um problema destes cai na esfera da Justiça, demora décadas. A ineficiência dá dinheiro a muita gente!
Vamos um bocadinho mais à frente, que vai ver o porto e um navio que hoje lá atracou. Pertencente à Enercon, um dos maiores fabricantes mundiais de turbinas eólicas, com várias fábricas em Viana. Está a ver aquelas quatro torres cilíndricas no convés? Têm vinte e sete metros de altura e captam a energia do vento para auxiliar a propulsão a diesel. Vem cá carregar torres de aerogeradores.
- Já vi que chegue, Dr., e não percebo essas palavras. Vocês são de outra galáxia. Se eu tivesse que ficar aqui, ia ficar velha em pouco tempo com o que tinha de aprender. É melhor levar-me aos tais deuses que me falou. Se me mostra mais coisas, ainda me dá um treco.

Hipólito entrou na nacional 13, andou dez quilómetros e, desviou para direita. Minutos depois, chegou ao parque de estacionamento do Lar.
- Venha comigo! Zeus, às vezes, sai por longos períodos. Mas a mulher dele é muito caseira, costuma ficar.

Subiram as escadas, Hipólito ia bater à porta, quando esta se abriu e apareceu Zeus com ar sorridente. Cumprimentaram-se.
- Estava ali à janela a apanhar um pouco de sol, quando o vi na curva da estrada! e, enquanto se dirigia a Eurídice, exclamou: - Ora bem! Hoje, vem muito bem acompanhado!
O médico apresentou-a.
- É Eurídice. Conhece-a, de certeza! Deve-se ter saído do Hades por uma porta errada, e perdeu-se. Pensou que ela dava acesso ao Lethes e saiu para o rio Lima.
- Claro que a conheço!, respondeu o deus. -É das almas mais bonitas que passaram por aqui. Ainda bem que a trouxe! Saíram várias por essa porta nesse dia. Umas, como ela, estavam programadas para voltar à terra, mas outras estavam a cumprir penas eternas. Houve um engraçadinho que desenhou uma porta ao pé do Tártaro e pôs lá a placa Lethes. Suspeitamos que tenha sido o Almada Negreiros, que ele tem a mania dos exotismos, mas não temos provas incriminatórias suficientes. O certo é que por essa porta também desapareceu o Sísifo. Você não o viu?
Há uma semana que o procuramos. Criou um motim e aproveitou o cão estar velho. Aquela coisa da pedra, pô-lo zangado. Se encontra alguém que o contrarie, desfá-lo em menos de um fósforo.
- Se ele esteve sempre às voltas com a pedra, o mais provável é que esteja escondido a descansar!, disse Hipólito. -Vamos resolver primeiro o problema de Eurídice, que ela já me mostrou vontade de sair pela porta certa e começar um processo de aprendizagem que lhe permita uma integração social de qualidade.

Zeus virou-se para Eurídice.
- Minha querida. Fico muito feliz com o seu regresso. Deve estar cansada desta semana de novidades. Vamos entrando, que a minha mulher prepara-lhe um revigorante hidromel !
- Estive doente, com febre e fui tratada no hospital do Dr. Hipólito. Ainda bem que saí junto à cidade. Se tivesse saído no meio de um monte não sei o que seria de mim!

Entretanto Hera encaminhara Eurídice para os seus aposentos enquanto lhe perguntava das experiências na sua recente aventura terrena, deixando-os a sós.
Hipólito aproveitou e questionou Zeus:
- Posso-lhe fazer um pedido para ela?
- Eu, se fosse a si, não me metia nisso e deixava que fosse o Acaso a determinar-lhe a sorte, mas, como a trouxe até aqui, vou dar-lhe esse privilégio. Peço-lhe, no entanto, que tenha cuidado com a sua formulação! Estou farto de ver gente vítima dos desejos dos outros!, advertiu o deus. 
Hipólito, não hesitou:
- Queria pedir-lhe que a fizesse nascer saudável e numa família com cultura!
Zeus, riu. - Você não é parco no pedir! Só faltava pedir para nascer rica! Agora que o PS vai acabar com a austeridade, talvez seja possível fazê-la nascer em Portugal. Para já volta ao submundo, que esta experiência foi um choque a exigir uns anos de repouso.
E quanto ao Sísifo. Onde é que o homem pode estar escondido? Já passámos a pente fino as casas da cidade e aldeias próximas e nada.
O médico, sem que estivesse sintonizado com Zeus, deixou que a fala lhe saísse da boca, sem medir as consequências.
- Já foram às ruinas do Convento de S. Francisco?, sugeriu. –  Aquilo está envolto em mato e fechado a cadeado. Eu começava por aí!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Lar Lembranças do Olimpo (12)


O Sporting ganhara e mantivera o primeiro lugar. Hipólito, que sofria de clubite dolorosa, fora ao Bar do Hospital tomar um café e picar portistas e benfiquistas.
- Ah leão! Que andas de unhas afiadas!, disseram-lhe os colegas, - Mas cuida-te, que o único clube português abençoado pelo Papa é o FCP!
- Não há volta! Já passámos o Natal! Este ano o Campeonato é nosso!
Riam e descomprimiam. O café da manhã, era um ponto de encontro para outros saberes ou notícias de quem não aparece mas, como as oportunidades não escolhem hora nem lugar, muitos assuntos técnicos era ali que encontravam solução.

- Dona Lucinda ainda bem que a vejo! O sistema informático está impossível! Se fazemos uma prescrição para o exterior, vai abaixo, se a fazemos para um doente internado, demora mais de dois minutos a abrir. E anda aí gente vaidosa com a informatização dos registos! Não sei se é a vossa manutenção que está a falhar ou se é o programa que está mal feito, mas alguém tem de se chegar à frente e dar uma volta nisto.
E o café, nesse dia, sabia um pouco a azedo.
Outras vezes sentava-se na mesa das Assistentes Sociais para lhes sentir o pulso.
- Dra. Lurdes, que me diz? Nós temos cada vez mais idosos sem retaguarda familiar e cada vez é maior a dificuldade em encontrar soluções para que os internamentos se não prolonguem!
E o café arrefecia.

Nessa manhã sentara-se na mesa dos Internos. Falava-se de encarniçamento terapêutico e Hipólito acrescentou:
- E o encarniçamento diagnóstico? Isto é, ter já informação suficiente para poder decidir e submeter o doente a mais exames só para conhecimento médico ou para dar a sensação de que ainda é possível prolongar a vida com qualidade?
A Lúcia, que era a mais velha dos internos, retrucou:
- Dr. Hipólito, se não tivermos práticas defensivas, as famílias criam-nos problemas de difícil solução.
- Nem todas! E é aí que é preciso actuar. Há muita gente que entende que chegou o fim do seu familiar e o sofrimento que mais exames e terapêuticas podem causar. Claro que para se fazer uma afirmação destas, é necessário que o médico ou a instituição mereça confiança.
As situações dúbias devem ser discutidas com médicos seniores para que o ónus da decisão de passar um doente para cuidados paliativos, não fique sobre o médico que tem o doente a seu cargo.

A conversa ficou ali porque o café chegara ao fim e o trabalho ia a meio.
Voltara à enfermaria, revira as terapêuticas, preparara altas, quando se surpreendeu com o nome de uma doente acabada de chegar, com o diagnóstico de Pneumonia e Amnésia.
Tinha sido admitida no Serviço de Urgência no fim-de-semana e ficara em vigilância na Unidade Polivalente. A punção lombar revelara uma irritação meníngea.

Voltou à enfermaria e olhou-a. Estava sentada na cama com a revista Blitz na mão. Tinha uma idade indeterminada que não escondia ter sido, em jovem, uma mulher de formosura serena. No seu punho esquerdo, uma fina pulseira de ouro tinha o seu nome gravado.
- Bom dia dona Eurídice! A senhora está melhor?
- Bom dia, Dr.! Obrigada! Parece que tive febre alta e um período de confusão, mas hoje já me sinto melhor!
- Desculpe interromper a sua leitura, mas estive a rever o seu histórico no SClínico e não encontrei registos anteriores. A morada que está na sua identificação é a de uma pensão e não temos informação de qualquer familiar. A senhora vive cá?
- Eu hoje já me lembro de algumas coisas! Sei que acordei na margem de um rio, cheia de frio e que tive de procurar uma pensão, onde estive dois dias cheia de tosse e febre, até me trazerem para este hospital!
Hoje de madrugada fiz uma intensa introspecção que me trouxe à memória factos soltos que estou a tentar organizar. Por exemplo, lembrei-me de ter nascido na Grécia e que o meu marido é músico e que se chama Orpheu. Olhe! Até pedi à enfermeira que arranjasse uma revista de música a ver se ele aparecia lá, mas a palavra mais parecida com o seu nome é Orfeão.

Hipólito não queria acreditar. Tinha conhecido os deuses gregos, em carne e osso, há pouco menos de um mês e agora até mortais da sua mitologia lhe estavam a aparecer. Intrigado, arriscou a perguntar:
- Dona Eurídice! Desculpe a pergunta, que nada tem a ver com a sua situação clínica, mas será que a senhora se lembra de ter sido mordida por uma serpente no dia do seu casamento?
- É verdade!, exclamou. - E depois … morri?! … Foi assim?
- Se a senhora é quem eu penso, deve-lhe ter acontecido qualquer coisa semelhante!

Não havia dúvida. Eurídice saíra do Hades pelo rio Lima, confundindo-o com o Lethes, que fazia as almas esquecerem-se de todo o passado no regresso ao mundo dos vivos. Este só lhe causara a doença.
Hipólito procurou ouvi-la contar a sua história de amor, dando-lhe as dicas para que ela completasse, enquanto lhe assomavam aos olhos grossas lágrimas.
Falaram de Orpheu e da sua música, e lembraram o seu desespero após a sua morte e a descida ao submundo para a recuperar.

- Lembro-me disso! . ... E depois! Que foi feito dele?, perguntou Eurídice.
-Que foi feito dele?, repetiu o médico. – Vocês não se encontraram no Hades?, insistiu. - Essa história passou-se há mais de dois mil e quinhentos anos. É muito tempo, dona Eurídice!
- Não sei se sabe que o Hades é uma espécie de limbo. As almas andam por ali feitas zombies, sem qualquer alegria ou tristeza. Não interagem umas com as outras. É como um SPA onde se relaxa do stress das vidas já vividas, enquanto se aguarda uma reencarnação. Por isso, não sei o que se passou depois da minha morte!
Hipólito olhou os fios de água que corriam dos seus olhos e, procurou a explicação mais simples para a não fazer sofrer, e disse só: - Nunca mais tocou até morrer!, evitando contar que se havia tornado amargo e solitário, até acabar barbaramente trucidado por um grupo de mulheres bêbadas adoradoras de Dionísio.

Eurídice limpara as lágrimas. Uma suave ruga assomou à sua testa, quando de novo se lhe dirigiu:
- Dr.! Obrigado por me ter ajudado a recordar esses factos. Devo ter saído do Hades pela porta errada. Devia ter saído pela que diz Lethes. Não sei o que terá acontecido!
Hipólito tentou justificar-lhe o erro: - Talvez tenha confundido o rio Lethes com o rio Lima. É que de Viana do Castelo a Ponte de Lima, não faltam alusões a esse rio da mitologia grega.
- Se calhar foi isso! É o que dão as pressas! Admitiu Eurídice. – E agora, Dr.?! Quando me der alta, para onde irei?
- Posso pôr o problema à nossa Assistente Social, mas creio que, dadas as circunstâncias, melhor será regressar ao Hades. É fundamental que a sua nova vida comece do zero e que a sua alma venha esquecida de todas as outras vidas que já teve.
Eu conheço uns deuses antigos que lhe podem dar uma ajuda. Se já se sente com forças, hoje à tarde, podemos ir ao encontro deles para regularizar a sua situação.

- Dr. Hipólito! Você é um amor! Fico à espera de si depois do almoço. Posso dar-lhe um beijo?, e, sem mais abraçou-o e espetou os lábios contra os seus.
Hipólito saiu corado, enquanto ela feliz, confirmava, sorrindo:  
- Não se esqueça! Depois do almoço!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Lar Lembranças do Olimpo (11)



Hipólito seguiu-os sem ter ouvido o convite. Dionísio tinha a porta da rua aberta e, no interior, pisava uvas na companhia de Pã.
Zeus cumprimentou-os.
- Então este ano vamos ter bom vinho ou vai ter de ser aromatizado com resina de pinheiro?
Pã, levantou a sua cabeça de bode e respondeu:
- Este ano a pinga vai ser de estalo. Quando chegar o São Martinho, se o Dionísio lhe der classe A, fica metade para nós e o resto vende-se aos chineses de Xangai, que eles não olham ao dinheiro. Se for como o de há dois anos, vai acompanhar à maravilha um queijo de Azeitão com pão do Alentejo. Qual Douro, qual Bairrada!
Zeus riu-se. Aquele fruto do seu amor pela cabra Amalteia, sua ama-de-leite, com aqueles cornos e patas iguais às da mãe, tinha um ar gaiato, embora os humanos entrassem em pânico se o viam depois do pôr-do-sol.
- Queira Zeus! Que é como quem diz, queira eu acordar para o lado certo, e esse vinho vai ombrear com os Bordeaux! Vocês não tiveram sorte com o do ano passado. Esse foi todo apara os plebeus!

Entraram de seguida no jardim interior, centrado por um grande lago, onde um vulto se debruçava sobre a água, quase em risco de cair. Hipólito correu a agarrá-lo pelos ombros. Hera foi atrás e descansou-o:
- Não se preocupe! É Narciso. Está apaixonado pela sua imagem e não consegue sair daquela posição. Vai morrer ali, de castigo! Andava-se a armar-se e as moças desprezadas pediram aos deuses para vingá-las.
O médico levantou-se.
- Pareceu-me o José Rodrigues dos Santos! Só quando o agarrei é que vi que era bem mais bonito. Vocês não o ajudam?
- Não! respondeu Hera. - Aqui um tipo, se quer chegar a velho não se pode dar a mariquices. Mas deixemo-lo. Nem de propósito, venha cá dentro ver um baixo-relevo sobre as Amazonas. Pu-lo ali para que o meu marido se lembre que há mulheres que são um perigo. Agora andam nos shoppings, nas discotecas e até em escolas superiores. Não vêm a cavalo como as antigas. Vestem-se de “hot pants” e smartphones para fazer os estragos. Se abrem a boca é uma ignorância de fazer tremer. Só sabem o que lêem na Hola e na Caras. Não têm a mínima noção do mundo. O pior é que conseguem escravizar uns rapazitos, que em meia dúzia de anos se rebela e quase se torna anti-social.
Repare bem. Estas do painel cortaram a mama direita para melhor lançarem as suas flechas. Deram cabo do corpo para a função a que se propunham. As de agora, fazem o mesmo. Injectam-se de silicone ou amputam-se para serem eficazes na caça. E … votam! Como é que que vocês querem sair da crise? Já tentei explicar isto ao meu marido mas ele tem demasiado sexo nos olhos, o que é que eu hei-de fazer!

Hipólito, sem lhe querer tirar razão, lembrou que, quando os níveis das hormonas lhes descem, voltam à realidade, passam a trabalhar nas fábricas e que … produzem.
- Dona Hera! Nesta sociedade, desde que se produza, se venda e se compre, tudo rola! Poucas terminam na droga, no álcool ou no tabaco. As depressões só lhes aparecem pelos quarenta. Essa gente paga impostos, morre cedo e não recebe reforma. No fim de contas, não dá prejuízo!

Aquilo saiu-lhe sem pensar. Para que é que ele se estava a meter entre os dois. Se Zeus quisesse ir embora, que fosse. Há tantos deuses neste mundo! Se desaparecerem uns quantos, não se iria notar. Para mais estando estes quase na falência. Se eles estivessem atentos, veriam que, há mais de mil anos, o Deus único era o que estava a dar. Na Índia e na África negra, ainda havia politeísmo, mas já quase só viviam do folclore. Mais cedo ou mais tarde, umas ONG, patrocinadas pelo Vaticano e outras pela Arábia Saudita, iriam introduzir, a par com umas chamuças e uns kebab, o tal Deus OmniTudo que resolve mais que o Liedson.
Estava ali como médico. Não tinha que dar opinião. Já percebera que aquele mundo era mais instável que o da Terra e os deuses mais voláteis que os políticos que conhecera.

O dia ia longo, já tinha que chegasse. Não precisava de ver o porco a andar de bicicleta. Deu uma corrida até Zeus, que se preparava para entrar, com Hera, nos seus aposentos, e chamou-os:
- Dona Hera! Deus Zeus! Esperem um pouco!
Pararam. Os dois ali de braço dado davam um quadro de altar. Refreou-se, ao passar-lhe pela cabeça uma selfie, e questionou-os:
- Estou um pouco atrasado. Queria ver o Sporting na SportTV, junto de uns amigos! Será que me posso ir?
Foi Hera que respondeu.
- Oh Dr. Hipólito! Nós estávamos a contar consigo para o jantar, mas não o queremos prender. Se tem esse encontro marcado, fica para outro dia!
E dito isto, chamou uma vestal e despediu-se calorosamente, enquanto dizia:
- Ainda por cima o Sporting! Não seja por nós que vai deixar de ver a sua progressão para o título! Felicidades! Olhe que o Nacional da Madeira está em boa forma!

Correu para o carro. Faltavam quinze minutos para o início do jogo e estava a chover. Com sorte chegaria ao Café em cima da hora. Não resistiu e balbuciou:
- Queira Zeus que não haja muito trânsito!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Emblemas de lapela



Aquela dor que, por uns dois meses me baralhou, foi amor! Que mais podia ter sido? Não dizem que ele não escolhe idades? Porque é que comigo havia de ser diferente!? Eu estava a-pai-xo-na-do! Ponto final! Senão qual seria a justificação para lhe ter dado a minha colecção de emblemas de lapela, que me custara horas e horas de trocas e pedidos?

Eram da Siera, da Grundig, da Blaupunkt e de outras fábricas de electrodomésticos, do Benfica, do Sporting, do Belenenses, de marcas de automóveis, dos bombeiros e até dois com asas de aviador. Um a um voaram para as mãos daquele anjo de caracóis louros, aos cachos.
Inocente, defraudou-me o património e, ao me não dar espaço no meio das suas bonecas, fez-me velho antes do tempo. Quase deixei o futebol de rua e, só ao fim da tarde me juntava ao bando, para as actividades radicais da época.

Ali esquecia-a, pois os riscos exigiam plena atenção para que não acontecesse a tão falada “morte do artista”. Eram horas do stress ao pôr-do-sol, quando o calor ressoava do chão e o grupo do bairro se juntava para a asneira. Podia ser um cigarro, uma fanfarronice, uma prova daquelas que não lembram ao tinhoso. O que contava era a superação.

-Vamos todos?
- Não! Hoje vão só três!, dizia o Cachopo Piqueno, exímio em fazer cara de macaco e em jogar à bola com os dois pés. E o grupo desfazia-se e ficava a observar.
- Estás a ver ali aquele par de namorados a entrar pela seara adentro? Vão vocês que são mais baixos. Quando as cabeças desaparecerem no meio do trigo, esperam um bocadinho, aproximam-se de-va-ga-ri-nho e, quando os tiverem ao alcance, atiram-lhes uns torrões e fogem. Eles não vão conseguir vir atrás de vós. Mas não deixem ver a cara, senão …!

Era a tal morte do artista de que todos tínhamos medo.

Mas também havia que saltar muros para comer o que as árvores tivessem, fosse limão ou maçã verde ou atirar umas fisgadas aos cães vadios para nos rirmos. Havia que encher o tempo, que ainda não se tinham inventado as ATLs.
Depois era ficar calado para não ser descoberto e evitar alguns lugares.

- Vai cortar o cabelo Fernando! Pareces um cigano!, dizia a minha mãe e, eu a lembrar-me que um dos que levara com os torrões era barbeiro no Cabanitas e, enquanto imaginava as tesouras e a navalha junto ao pescoço, planeava. Primeiro, passo na rua, depois, à porta, pergunto qualquer coisa a ver se ele dá sinal que me obrigue às de Vila Diogo.
Uma semana para parecer lavado!

Quando se acabaram os emblemas e sem ter mais com que a seduzir, larguei as nuvens e voltei ao dia a dia de pontapés nas pedras. Ficou-me o seu nome completo MMLML e a memória profunda dos seus caracóis.
Se a voltasse a ver, não a reconheceria.

A história podia ficar por aqui, mas o mundo dá mais voltas que as pernas de um infeliz com o síndrome delas inquietas e, quarenta anos depois, o seu espírito voltou a pairar sobre a minha cabeça para provocar duas lágrimas geladas.

Estava eu num jantar com médicos portugueses que participavam na “St. Gallen International Breast Cancer Conference”, quando a conversa se fixou nas mudanças frequentes de residência e nas suas implicações. Falou-se do afastamento dos amigos, das dificuldades em reconstruir uma rede de proximidade e de amizade capaz de um socorro numa aflição. E blá, blá, blá … que agora cada família vive acantonada no seu espaço e blá, blá, … quando eu, pecador, me confesso:

- Eu, já vivi em Beja, no Porto, em Vila Real, em Vila Pouca de Aguiar, em Matosinhos até parar em Viana do Castelo.
À minha frente, uma ginecologista, da minha criação, pergunta:
- Tu viveste em Beja? Quando?
Acertámos datas, escolas e zonas da cidade, até chegarmos aos amigos comuns.
- Tu conhecias os C.M.?
- Sim! Sou prima deles!
- Mas eu ia a casa deles e nunca te vi!
- Como estava interna no colégio, só lá ia aos fins-de-semana e nas férias mas, mesmo nessas alturas, a minha tia, que era uma mulher de Igreja, quando sentia rapazes por perto, não nos deixava aparecer. Chamava-os de galfarros!
- Cruz, Credo! Maria Santíssima! Eu não era flor que se cheirasse, mas para esse patamar faltava-me muito. Eu saí de lá aos treze anos. Que é feito deles? Ainda andam por Beja?

Tinham saído para Lisboa, pouco tempo depois de eu ter ido para o Porto. Tinham cursos superiores e  sucesso profissional. O Chico numa área de Saúde e o Zé em Direito. Muitos outros os tinham acompanhado.
- Lembras-te do John? E da Margarida?
- A MMLML?, pergunto curioso.
- Sim! Ela casou com o Chico. Tiveram 3 filhos. Eram um casal modelo. Depois ela deu em beber e começou a desgraça. Muitos remédios e tratamentos psiquiátricos até que, há-de haver uma meia dúzia de anos, se suicidou!
- Livra!!!! Ela ainda era bonita como quando era pequena?
- Não! Da última vez que a vi, estava balofa e pastosa. A morte foi um alívio para todos!

Calei-me e ali fiquei, a remoer uma pequena dor e a pensar no Destino, no Fado, na Sorte e no Azar e que a pior coisa que nos pode acontecer é sermos vítimas dos nossos desejos.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Permanente 1981



- Espera! Não saias já, que daqui a nada a chuva abranda!, disse a mulher, preocupada.
- Não posso! Tenho seis domicílios a fazer e, queira Deus, que não apareçam mais quatro. O modo como está pegada, parece para ficar. Já são quase 22:00h. Se não for já, vou chegar muito tarde! Dois são aqui perto. Entretanto pode ser que a chuva cesse. Vou tentar parar mesmo em cima das portas. Com este temporal, não deve andar ninguém na rua.

De facto assim foi. Chovia a potes ou, como dizem os franceses “comme vache qui pisse”. Rios de água pelas ruas, poças a esconder buracos, a insuficiência do pára-brisas para tanta água e os vidros embaciados a obrigar a limpeza constate para ver o caminho, as placas toponímicas e os números das portas. Mas porque é que ainda não divulgaram o ar condicionado para os automóvei???! Nem com o aquecimento no máximo consigo visibilidade suficiente. Para mais, de cada vez que saio, trago para dentro do carro um quarto de litro de água na roupa. Mas o que tem de ser tem muita força e não vale a pena estar com choradeiras.

23:30h. Já vi três. Todos a dizerem mal do tempo e a lamentarem-me.
-Oh Sr. Dr.! Andar por aí com uma noite destas!
E eu com os pés encharcados, a fazer de forte.
-Deixe lá. A vida não é fácil. Às vezes, quando não nos metemos nelas, é que ficamos pior. Todas as profissões têm coisas boas e dificuldades que nos obrigam a um esforço para além do habitual. Não vão ser umas gotas de água a mais, que me vão fazer parar em casa. Ando de carro, não ando ao tempo!
Mas também não me via a ir à Central justificar, que depois de ter aceite aquelas chamadas e ter gente à minha espera, soçobrara àquela contrariedade.
...
P’rá frente é que é o caminho, que só faltam três, dizia para dentro, sem saber o que me esperava. Era uma prova que, por certo, outros já tinham vivido e que eu também tinha de ultrapassar, sem mariquices, que um homem é um homem e um gato é um bicho!  
O quarto era numa rua da Foz Velha. Depois, no regresso, meteria pela Avenida Marechal Gomes da Costa e apanhava os dois que faltavam, no caminho de casa.

Entretanto a chuva intensificara-se. Descera a Rua Dom Pedro Menezes, passara as piscinas do Fluvial e entrara na Rua de Sobreiras, que margina o Douro. Estava atapetada por um lençol de água. Medi-lhe a altura por um carro que passou em sentido contrário, disse para dentro “ainda há malucos como tu!”, e fui por ali de cabeça encostada ao pára-brisas, pano na mão, a ver onde punha os pneus, a não mais de 30Km/h.
De repente – TUM! TUM! Meto uma roda num buraco e o motor pára.

- Ggggghhhhh!!!!, - Gggggghhhhhh!, - Ggggghhhhh!!!!, - GGGGGGHHHHHHHHHHhhhhhhhhhhhh!! - GGGGGGHHHHHHHHHHhhhhhhhhhhhh!!
O motor de arranque não consegue pôr o carro a trabalhar.
Mais - Ggggghhhhh!!!! - Ggggghhhhh!!!!
- GGGGGGHHHHHHHHHHhhhhhhhhhhhh!! - GGGGGGHHHHHHHHHHhhhhhhhhhhhh!!
O melhor é parar antes que acabe a bateria.

São 24:15h. Não passa ninguém e estou no meio da rua.
Ponho os mínimos. Olho em volta à procura de uma cabine telefónica. Há uma a uns duzentos metros. A chuva abrandou.
Saio. Meto os pés na água que corre em torrente e, em segundos, fico com as calças molhadas até acima dos joelhos. 
Dou graças por ter moedas no bolso. Entro na cabina e ligo: 25442 e espero.
- Está!? Quem fala?
- Sou eu, pai! Estou parado junto ao rio. Passei por cima de uma poça de água, e o carro pifou! O motor de arranque funciona, mas o carro não pega. Deve ter espirrichado água para o motor.
- E o que é que tu andas a fazer por esses lados a estas horas?
- Isso agora não interessa! Podes vir aqui ajudar-me?

Entretanto deixara de chover. Esperei meia hora até ele chegar, atarantado, com a roupa por cima do pijama.
- Deixa lá ver!
Ggggghhhhh!!!! Ggggghhhhh!!!! 
- Deixa limpar as velas! 
Cinco minutos depois.
-BBBrrrrrrrrruuuuuummmmm!!!!! BBBrrrrrrrrruuuuuummmmm!!!!! BBBrrrrrrrrruuuuuummmmm!!!!!, o motor a trabalhar como se não tivesse passado nada.
- Entrou-te água nas velas. Nada de maior! 
- Porreiro! Obrigado! Volta à cama que eu ainda vou a meio e vou aproveitar não estar a chover!
- Eh pá! Tu não devias …
- Adeus! E mais uma vez obrigado. Amanhã falamos!!

 No quarto domicílio lamentaram-me as calças, no quinto o aspecto dos sapatos, no sexto já não esperavam por mim.
- Posso utilizar o seu telefone para ligar para a Central?
- Faz favor!
- Sr. Sousa! Estou no último. Alguém mais telefonou?
- Não, Dr.! Hoje está com sorte!
- Sortes destas não lhe desejo, Sr. Sousa! Estou molhado até à cueca! Até Domingo!
 …
São 03:30h. Entro em casa, sorrateiro. Dispo-me na cozinha e penduro a roupa numa das cadeiras. Tomo um banho quente e enfio-me na cama.
- Apanhaste muita chuva?
- Um bocadinho! Dorme, que é tarde!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016