quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Eleições













É mais fácil mobilizar gente “contra” uma solução, que gente a favor de uma outra.
“Ser contra”, não implica apoiar alternativa mais credível. “Ser contra” é a reacção primária, por resistência à mudança. O passo seguinte é a análise e a proposta alternativa.
Mobilizar vontades “a favor”, define qualidade, “ser contra” é para “qualquer um”.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Conversa de médicos.


- Então já saiu o Acordo Colectivo da Carreira Especial Médica?
- Sim! Acabam os contratos individuais de trabalho e cria um documento que regula as carreiras médicas nos organismos do Estado.
- Mas essa de dividir as áreas de exercício profissional em Hospitalar, Medicina Geral e Familiar, Saúde Pública, Medicina Legal, não perspectiva um posicionamento correcto dos médicos no futuro.
- Que queres dizer com isso?
- Quero dizer, que a política “hospitalocêntrica” tem de acabar, e que os Centros de Saúde vão ter que ter áreas de actividade das Especialidades ditas Hospitalares. O sistema vai ter que evoluir para que haja Alergologistas, Pediatrias, Endocrinologistas, Gastrenterologistas, Neurologistas, Cardiologistas, Reumatologistas, Pneumologistas, e outros, nos Centros de Saúde, que poderão ter simultaneamente actividade hospitalar, estarem lá por períodos em rotação ou em permanência de acordo com a política do seu Serviço. - Vai dizer isso aos médicos e vais ter um levantamento maior que aquele dos professores.
- Vai nada. Isso já foi assim. Eu vivi a implementação do conceito organizacional, que orientou para os Hospitais a Especialidades, o que, a meu ver, foi a principal causa dos grandes problemas do tratamento dos doentes do SNS fora dos Hospitais.
Eu fui “médico da Caixa”, quando os Centros de Saúde davam os primeiros passos e então, a quase totalidade dos médicos hospitalares trabalhava nestes espaços, quer a fazer consultas gerais quer de especialidade, e embora houvesse outro tipo de problemas, havia a possibilidade de contacto entre os diferentes saberes, o que formal e informalmente facilitava a actualização e a solução atempada de muitas situações.
- Mas olha que aquilo nos Centros de Saúde está muito mais burocratizado.
- É igual. A burocratização do sistema terá que diminuir cá e lá, e conquistar maior credibilidade médica, de modo a não se ter de dar resposta positiva a todas as solicitações de uma população insegura e ávida no consumo de saúde, para acabar com a tentativa de colmatar as deficiências em tempo e em capacidades com a multiplicação de exames.
E a verdade é que nos Hospitais as Especialidades Médicas evoluíram mais para as actividades de Consulta Externa e para os Meios Auxiliares de Diagnóstico, e diminuíram a sua actividade no Internamento, apesar do número crescente dos seus médicos.
- Então tu entendes que num futuro próximo os Centros de Saúde deixarão de ser só áreas de actividade da Medicina Geral e Familiar e que passarão a integrar muitas das Especialidade ditas Hospitalares?
- Estou certo disso. E mais, se calhar para facilitar as coisas, o melhor era chamarem-lhes Hospitais de Dia. Então agora com as ULS isso está mais que facilitado.
- Fico a ver!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

More than words - Extreme/Nuno Bettencourt


"More Than Words"
Saying I love you
Is not the words I want to hear from you
Its not that I want you
Not to say, but if you only knew
How easy it would be to show me how you feel
More than words, is all you have to do to make it real
Then you wouldn’t have to say that you love me
Cos I’d already know
...

Gosto da guitarra do Nuno Bettencourt (nasceu nos Açores em 1966 e emigrou para os USA - Hudson, Massachusets aos 14 anos ).
Também gosto de ver a bandeira, subliminar, lá atrás.
A música é de 1990 e é um hino à linguagem corporal.

domingo, 27 de setembro de 2009

No velório


Era um pândego! Agora, ninguém calcula como ele era em novo. Quando saíamos, estava sempre a criar confusão, só para nos rirmos e passarmos uns tempos divertidos.
Um dia, nos anos 50, queríamos ir para a praia na Foz, e os eléctricos iam cheios. Vai daí e ele diz: “Querem ver como consigo um lugar sentado?” e pouco depois de entrarmos, dá um uivo e simula um ataque epiléptico, enquanto nós surpresos o agarrávamos para ele não cair. E logo um fulano se levantou para ele se sentar. Mas a cena não acabou, porque ele manteve a simulação da convulsão. Para cúmulo alguém sugere um daqueles remédios caseiros que não lembram ao diabo: “Ponham-lhe uma chave na mão, que isso passa!”, e em segundos surge um molho de chaves que a custo lhe põem na mão fechada, e ele ao terceiro movimento atira-a pela janela fora com o eléctrico em andamento.
Depois fingiu adormecer enquanto o dono das chaves tentava à viva força fazer para o eléctrico.

sábado, 26 de setembro de 2009

Inteligência


Inteligência é a capacidade para resolver problemas complexos em circunstâncias mutáveis.
Os testes de medição da Inteligência (Q.I. - Quociente de Inteligência) têm vindo a perder a importância concedida na primeira metade do século XX, quando serviram as necessidades da época para avaliar os resultados do ensino e detectar pessoas com mais capacidades intelectuais para a execução de tarefas, ao mesmo tempo que deram cobertura a justificações rácicas e de poder.
A sua importância diminuiu a partir do momento em que se passou a considerar a inteligência como um processo e não como um resultado, realçando-se a importância do carácter adaptativo e criativo na resolução de problemas, bem como a influência da motivação no desempenho de tarefas, pois concluiu-se que as emoções (Q.E. - Quociente Emocional) e a presença de "pensamentos tóxicos" interferem na qualidade dos raciocínios.
Mas ainda hoje são frequentemente utilizados. Um Q.I. igual a 100 será revelador de uma inteligência normal. Como não há testes validados/adaptados à população portuguesa, não se sabe qual a percentagem de débeis e de dementes em Portugal.
A OMS calcula que 68% dos humanos teriam Q.I. entre 90 e 110 e, por isso, estariam aptos ao desenvolvimento intelectual pleno, e eu permito-me achar estes números muito optimistas. É que “resolver problemas complexos em circunstâncias mutáveis” numa “sociedade tecnológica”, implica não só uma cabeça a funcionar bem, mas também ter uma base de dados que lhe permita interpretar com eficiência o mundo que o rodeia. Mesmo no âmbito do “utilizador”, o grande número e a complexidade dos sistemas disponíveis, tornam-nos rapidamente incapazes em muitas situações.

Debilidade mental, na Psiquiatria, define-se pelo Q.I. entre 50 e 70, sendo fronteiriços aqueles com graus de 70 a 90. Os portadores apresentam a capacidade de julgamento perturbada e não se adequam facilmente às novas situações, podendo, no entanto, prover uma vida social relativa.
A psicologia atribui-lhe uma idade mental correspondente ao de crianças com idade entre os 7 e 12 anos de vida.
Oligofrenia (do grego olígos = pouco; phrenós = espírito, inteligência), designa um défice de inteligência, compondo a chamada tríade oligofrénica: debilidade, imbecilidade e idiotia.
Recomenda-se agora a utilização de termos como Portadores de Necessidades Especiais, no lugar de expressões Cretino, Idiota, Imbecil, que adquiriram um sentido de ofensa que dificulta a inclusão social. Inicialmente estes termos científicos foram um grande avanço, pois substituíram a crença de que eram indivíduos amaldiçoados ou possuídos pelo demónio.

Fala-se em Demência quando o indivíduo teve completo desenvolvimento de suas faculdades mentais, e as perde posteriormente - diferindo, portanto, da oligofrenia, em que a morbidez ocorre antes desse desenvolvimento.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sardinheiras nas janelas























Sardinheiras, Pelargónias ou Gerânios.

Há múltiplas variedades e ficam bem nas floreiras solarengas das janelas, numa explosão de cor que dura da Primavera ao Outono.
São muito resistentes, mas para aproveitar todo o seu potencial, requerem um local muito ensolarado, bem arejado e um substrato fértil e bem drenado.

Algumas têm um perfume nas folhas que se diz repelente de mosquitos e, talvez seja essa a razão primeira (e não a ornamental) para estas lindas janelas tão esquecidas em Portugal.

Desde que estão meu jardim, os mosquitos são menos, mas picam com a mesma bravura.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Férias - A Garganta Divina
























O projecto inicial era Cain – Poncebos - Cain, mas quis o destino, e as obras na estrada, que o acesso a Cain nos fosse interdito, e que tivessemos de fazer 110 Km até Poncebos, para iniciar o trilho em sentido inverso: Poncebos – Cain – Poncebos.

Ida e volta - 24 km (6 horas e 30 minutos), ao longo do rio Cares, por um caminho rasgado no calcário de um desfiladeiro cinzento, onde as árvores se equilibram e as pedras resvalam até um rio que só nos é próximo nas imediações de Cain.
Há sempre alguém nos 100 metros que nos envolvem e, apesar da dificuldade de algumas subidas em pedra solta e do precipício que nos ladeia, cruzamo-nos com crianças e idosos, de múltiplos países.
Iniciámo-lo às 10:30h. Parámos 30 minutos, em Cain, para retemperar forças e repor líquidos.











Este caminho, foi construído entre 1916 e 1921, aquando da construção de um canal de alimentação da central hidroeléctrica de Camarmeña em Poncebos. O canal acompanha-o, e é visível em partes do seu trajecto.

Os Picos da Europa são uma formação montanhosa calcária que se estende pelas Astúrias, Cantábria e Castela e Leão. Destacam-se as suas elevações (em muitos casos acima dos 2500 metros) e os seus desfiladeiros. Geograficamente, encontram-se na linha da Cordilheira Cantábrica. São Parque Nacional desde 1995.
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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Coisas que eu gostava de ter escrito


... Mas ali encontro, derramados em todo o seu esplendor (e como em tantos outros sites e blogues da net), os dois piores defeitos, se não mesmo características, do portuguesinho: a inveja e a cobardia. A inveja dos medíocres para com os que se destacam ou triunfam, e a cobardia dos anónimos, dos que só têm coragem quando o inimigo está de costas ou a mão que atira a pedra é escondida. Já o disse uma vez e já o penso há muito: a net e o seu anonimato garantido parecem inventados de encomenda para servirem os piores defeitos dos portugueses. Não que a política e os políticos não mereçam tantas vezes desconsideração ou mesmo repúdio. Mas o teor e a arrogante ignorância destes comentários, a viscosa inveja que deles transparece sem subterfúgios, o tom de ofensa e calúnia pessoal com que tratam qualquer político, as escabrosas difamações pessoais como argumento de razão, são simplesmente deprimentes e chegam a ser revoltantes. Não conheço nenhum povo que trate assim o poder e os seus governantes, nenhum que tenha a soberba de achar-se sempre melhor, infinitamente mais sério e mais inteligente que os seus governantes. Palavra de honra que, embora tantas e tantas vezes eu próprio me irrite com a política e os políticos, custa-me a perceber como é que alguém ainda tem vontade de fazer política em Portugal: eu não aguentava nem quinze dias!"
Miguel Sousa Tavares in “Expresso”

domingo, 20 de setembro de 2009

A melhor Juventude



Conta a história de uma família italiana desde os finais dos anos 60 até aos nossos dias.

É um grande filme, um documento sobre a vida de uma geração, que viveu uma época de convulsões e mudança. É o fresco de uma geração que – apesar de todas as suas contradições, ingenuidade, violência ou mesmo uma raiva deslocada – se esforçou por não se resignar, não baixar os braços e tentar tornar um mundo em algo um pouco melhor.

"La Meglio Gioventù" Ano: 2003; Duração: 352 minutos. Foi produzido para a RAI, o canal público italiano, por Angelo Barbagallo e realizado por Marco Tulio Giordana.

sábado, 19 de setembro de 2009

O sapo


Consultas de Recurso nos C. Saúde. Doentes ?/ Utentes ?, sem médico de família, desde as 6h da manhã à porta, para conseguir uma das 12 “vagas” para o dia.
- “Sr. António, gabinete 6!”
Tem 82 anos, e um processo cheio de análises e poucos diagnósticos. Vai sendo seguido por vários médicos, entre Portugal e o Luxemburgo e, enquanto se senta, apresenta delicadamente um rol de análises de há 4 meses.
- “Bom-dia, menina Dra.. Eu sou um doente de risco!”
E assim começa a conversa. As doenças passadas, as histórias da sua vida, o elogio ao sistema de saúde do Luxemburgo com a qualidade medida pela disponibilidade imediata de fazer análises a custo zero. Entre todas estas histórias, lá consigo chegar ao que interessa.
- “Mas então, Sr. António, o que o traz cá desta vez?”
- “ Sabe, menina Dra., … lançaram-me um feitiço de morte há 3 anos! E desde então andei com um sapo dentro de mim, angustiado por saber que posso morrer a qualquer hora!
- “Um sapo?” – eu à espera que fosse uma forma de exprimir um qualquer sintoma.
- “Sim, menina Dra.! Um sapo! E que volta e meia tentava sair aqui por cima com as unhas afiadas. Grr grr…sentia eu” – diz, enquanto põe a mão em garra e faz um movimento de escalada da barriga à boca. - "Até fui ao Otorrino e ele disse: - Sr. António, o senhor tem a garganta arranhada. Foi a prova que o sapo estava lá".
“Andei em todos os médicos e fiz todos os exames e não me acharam nada, mas a angústia era tão séria, menina Dra – não desfazendo os srs. Drs., que sempre me trataram bem, a mim que sou um doente de risco, que no início do ano decidi ir ao bruxo".
"Foi o que me valeu. Também paguei caro – 5000 euros – mas ele lá fez umas rezas e deu-me uns medicamentos e fui para casa à espera que o sapo saísse. Passei dois dias entre a cama e a sanita e o raio do sapo não queria sair! Primeiro era só diarreia – com sua licença menina Dra! – mas depois “POC” lá saiu o sapo!”
- “Mas então o que o traz cá? – pergunto enquanto olho para a enorme lista de doentes que se seguem.
- “Bem. O que me traz cá, é que gostaria de fazer umas análises gerais, para ter a certeza que o sapo não deixou nenhuma maleita cá dentro!”
- “Mas sr. António, o senhor tem andado a sentir-se mal? Alguma coisa de novo?”
- “Não. Ando muito melhor! Mas as análises é que não sei…”
- “Mas o senhor tem aqui estas análises de Fevereiro, que estão excelentes para um senhor da sua idade!”
- “Pois, menina Dra., mas o mal só saiu de dentro de mim em Março!”
Neste momento páro para pensar como é que vou descalçar esta bota. De facto, a maneira mais fácil é passar-lhe a requisição das análises. Mas não faz sentido! Uma coisa é certa: não vale a pena argumentar com o feitiço, nem alegar custos desnecessários, pois, como bom português, não entende que o dinheiro do Estado é também dinheiro dele. Resolvo usar a técnica de pensamento conjunto.
- “Sr. António, pense comigo: Se em Fevereiro o mal ainda estava dentro de si e as análises estavam todas bem, o que o faz pensar que agora, que o mal já saiu, possa haver alguma coisa errada?”
Faz uma pausa prolongada e responde:
- “Tem razão, menina Dra., não tinha pensado nisso! Sendo assim, só preciso de um medicamento para a queda do cabelo, que desde que o comecei a pintar, ele tem caído mais!”
História de FFG

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Anedotas

Já gostei mais de anedotas, mas mantenho algumas como parte das minhas histórias, porque me lembram de olhar a mesma realidade de ângulos diversos.

1 - Um passarinho voava por sobre uma estrada e embate num motociclista, estatelando-se no asfalto. O motociclista pára, apanha-o, e reparando que ainda respira, leva-o para casa, e coloca-o numa gaiola. Passados momentos, o passarinho acorda, olha para todos os lados, só vê grades e conclui: “Queres lá ver que matei o motociclista!”

2 - Um alentejano mostra orgulhoso a sua propriedade a um agricultor texano. Ao fim de alguns quilómetros a andar, o texano diz-lhe: “Eu lá no Texas, para visitar a minha propriedade, tenho de andar cinco horas de automóvel!”, ao que o alentejano lhe contrapõe: “Eu também já tive um carro desses, mas vendi-o!"

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Conversa de Café













- Dizes que o problema está nas falsas expectativas que lhes criaram, que os motivou para um cenário que nunca existiu?
- Sim, de algum modo. Principalmente para aqueles que, por décimas, não conseguiram entrar num outro curso com maiores possibilidades de progressão e reconhecimento social.
- Eu concordo! Foi uma oportunidade perdida quando apareceram uns patetas a abrir Escolas em vãos de escada com programas excessivamente abrangentes, que incluíam muito trabalho indiferenciado. Basicamente desvalorizaram o curso, equiparando-o às profissões que secaram abaixo deles.
- Era bom que tivesse acontecido uma coisa semelhante à que aconteceu com o Tango, quando o Carlos Gardel e o Piazolla lhe deram dignidade. Todos lucraram, os músicos e a população, embora deixasse de ser para qualquer um interpretá-lo. Não foi por gritarem a sua qualidade ou necessidade que tal aconteceu. Aconteceu porque deram o salto. Com algumas profissões é igual. Mas não foi isso que se fez, e até os bons profissionais andam pelo folclore!
- É o eterno problema. Quando não se sabe (ou não se quer) promover qualidade, vai-se pela quantidade. É a casa que é tanto melhor quanto mais quartos tem, é o carro convertido em cavalos, é o vinho medido pelos graus do rótulo e tantos outros exemplos que enxameiam o nosso imaginário.
- Agora querem estatuto, mas a prática não o permite, e isso é evidente para todos.
- É verdade. Ouço-os todos os dias a tentar alternativas, mas quando até os seus professores recusam o título da profissão, como é que ela pode assumir dignidade?
- E o vencimento?
- Abaixo do teórico. Há muitos com pluriemprego para compor o ordenado a levar vida de cão!

- Olha, já se faz tarde! Eu pago o café. Ainda tenho que regar a horta e pôr sulfato nas roseiras! Até amanhã!
- Até um dia!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Três em um


Como composição, vale o que vale ..., mas é espantosa esta capacidade.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cheiras a desgraçado, meu filho!























- Vais ter de me contar essa história outra vez. É que o amor aos 17 anos tem a imprevisibilidade dos grandes fenómenos naturais.

- Ela teria uns 19 anos e, embora já conversada, fora nessa tarde de fim de Outono, que nos inflamámos na Levada do João Mestre. Entre gestos e palavras, os nossos corpos exigiram uma proximidade impossível, e ela sugeriu o seu quarto naquela noite!
- Arriscado!?
- Nem muito. Ela vivia com os avós, era um rés-do-chão virado para as traseiras e para o monte, que havia sido cortado na terraplanagem da construção. Os pais estavam emigrados.
- E os avós?
- Dormiam no andar de cima e para a frente, e eu só entraria quando visse um sinal de luzes, pois isso significaria que eles estavam a dormir.
- E depois?
-Depois do jantar dei uma volta pela aldeia a fazer horas, e às onze meti-me pelo monte e ali fiquei intermináveis minutos, sentado a olhar a janela à espera. Por fim a luz acendeu e apagou quatro vezes e eu desci monte abaixo os cem metros que distavam da habitação.
- E via-se bem?
- Não! Havia pouco luar, mas como não havia arvoredo denso, não me foi difícil chegar ao terreno da casa, iniciado por um pequeno talude de pouco mais de metro e meio, que me pareceu fácil de saltar. Saltei, mas quando os pés chegaram ao chão, em vez de estancar, dei por mim a escorregar por um declive húmido e a afundar-me numa pasta nauseabunda, para só parar quando a tinha pelo pescoço.
- Então caíste mesmo numa fossa!
- Literalmente! Julguei que morria. Esbracejei longos segundos naquela lama, consegui agarrar umas giestas que cresciam ao pé e sair dali barrado de merda de cima a baixo.
- E depois, ... foste ter com a rapariga?
- Nem pensar! Eu queria ir para casa, a uns dois quilómetros, mas antes tinha de arranjar modo de me ver livre daquela pasta que me envolvia e que cheirava que tolhia. Para cúmulo, nesse dia estreava umas calças à boca-de-sino, que a minha mãe mandara fazer ao alfaiate.
- Que horas eram?
- Pouco passava da meia-noite. Lembrei-me do local onde as mulheres costumavam lavar a roupa e fui para lá. Entrei no rio vestido a ver se aquilo saía, mas o lodo que estava por debaixo da roupa era tanto que tive de a tirar toda.
- E puseste-te a lavar roupa à noite?
- Encontrei uns pedacitos de sabão rosa no meio das pedras junto à margem e esfreguei o mais que pude peça a peça, mas nem assim o cheiro desentranhava. Estive lá até às 3h, a pendurá-la nos varões da ponte à medida que a ia lavando. Quando a vesti, cheirava igual.
Meti-me ao caminho, e ainda me cruzei com o Bipa e o Pireca que vinham da estiva e que estavam à conversa, e que, à minha passagem, comentaram “ Chiça, que este vai perfumado!”, ao que o outro retorquiu “Deve estar podre!”. A minha sorte foi ser noite e ter passado bem ao largo, para eles não me reconhecerem.
Quando cheguei a casa, despi-me no coberto, meti a roupa toda num saco de plástico, escondida junto aos detergentes, passei-me pela mangueira, e pé ante pé, para não acordar ninguém, meti-me na cama.
...
Estava no primeiro sono, quando a minha mãe entrou quarto adentro e abriu a janela enquanto dizia: "A Rosa do Raul deve ter andado a despejar a fossa, que está um cheiro que não se pára nesta casa!".
E eu, embrulhado nos cobertores, esperei que ela saísse para tomar um banho de uma hora que põe fim a esta história! É que, nesse dia, nem lhe ouvi o "cheiras a desgraçado!" com que me mimoseava, quando sentia o cheiro a tabaco na minha roupa!

domingo, 13 de setembro de 2009

Dançar com Fantasmas


Imaginem um sonho surreal que começa com uma sala de baile cheia de dançarinos elegantemente vestidos. De súbito, um membro de cada par desaparece, mas os seus companheiros continuam a dançar como se nada se tivesse modificado. Os seus braços permanecem estendidos e eles continuam a descrever círculos como se estivessem a dançar com fantasmas. Depois surge um poço sem fundo no meio da pista de dança. Ficamos a ver, fascinados, os dançarinos solitários aproximarem-se da beira do poço, como actores na beira de um palco. Infelizmente, os dançarinos mostram-se tão inconscientes do poço como da ausência dos pares. E nada podemos fazer quando eles mergulham um a um e desaparecem.
Esta fantasia sinistra torna-se realidade cada vez que um ser vivo se depara com um novo ambiente e as estratégias anteriormente bem sucedidas se tornam ineficientes. É que os organismos têm de residir num determinado meio ambiente durante um número suficiente de gerações para a relação organismo-ambiente se consolidar.

Desde tempos imemoriais, que as tartarugas marinhas bebés saem dos ninhos nas praias à noite e abrem caminho até ao mar. Evoluíram de modo a poderem orientar-se pela luz reflectida pela superfície da água, o que lhes proporcionou uma pista fiável até á altura em que começaram a ser construídas casas na praia. Agora as luzes brilham ainda mais que o luar reflectido no mar, o que leva as tartarugas a tomar a direcção errada, rumo à morte, exactamente como os dançarinos que caíam no poço do meu salão de baile surreal. …

Os carvalhos produzem as bolotas em resposta a pombos que já não escurecem os céus.

Estas espécies irão continuar a dançar com fantasmas até se extinguirem ou até a selecção natural lhes ensinar novos passos de dança.
….
Nós humanos, quando somos postos numa situação completamente nova, dispomos de alguma capacidade para compreender que temos um problema e de tentar arranjar uma solução. Mas o processo mental é em muitos aspectos limitado, pois antes de possuirmos inteligência humana éramos mamíferos e primatas com um arsenal de “planos de guerra” que evoluíram por meio de selecção natural, a que a nossa inteligência humana se foi adicionar. …
Os nossos hábitos alimentares constituem um excelente exemplo de dançar com fantasmas. O desejo que sentimos de gordura, açúcar e sal fazia todo o sentido num ambiente em que essas substâncias eram constantemente escassas, mas pôr um restaurante com fast food em cada esquina, é como iluminar o céu da ilha para as tartarugas marinhas bebés.

Bem, isto também está em “A Evolução para Todos” de David Sloan Wilson, e pôs-me a pensar que nos últimos 30 anos, o ambiente social se alterou de tal modo, que deixou muita gente a dançar com fantasmas.

Entendo a discussão em torno dos novos paradigmas morais, mas ignorar o conhecimento e as funcionalidades técnicas actuais, é correr inexoravelmente para o tal buraco, por mais apoios sociais que a sociedade em determinado tempo possa oferecer.

sábado, 12 de setembro de 2009

O Sr. Elisiário


O sr. Elisiário era Polícia, mas quis o destino que, na década de 1950, o governo exigisse a 4ª classe a quem se quisesse manter na profissão, e o Sr. Elisiário enfrentou aquele mar de dificuldades (ler e escrever sem erros, matemática, ciências naturais, geografia e História de Portugal), a meio da vida, para manter o ganha-pão.

No exame final, suava afluentes, linhas de caminho de ferro e cognomes de reis, mas, nesse dia, a sorte estava nos vertebrados.
- Então Sr. Elisário, o que é o Homem?, e o pobre olhava especado, incapaz de uma palavra.
E a professora complacente, a empurrá-lo para a resposta.
- Então? Se o homem é um animal que mama quando pequeno, o que é que ele é?
O Sr. Elisiário, depois de um longo minuto, arrisca: - Ma…mão?
- Mamão!!?? Não Sr. Elisário!, não é mamão. É um Ma…mi…
E o Sr. Elisário agradecido, com os olhos muito abertos, a sintonizar-se com a ajuda:
- jão?

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Jacqueline du Pré



Jacqueline du Pré (1945 - 1987) - uma das maiores intérpretes do violoncelo. Nasceu em Oxford, Inglaterra. Deixou de tocar aos 28 anos quando adoeceu com Esclerose Múltipla. Morreu aos 42 anos.
Du Pré tocava dois violoncelos Stradivarius. Casou com Daniel Barenboim

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Reforminha



















- Então Sr. Horácio, mandaram-no cá outra vez pelo mesmo motivo. Você fez o tratamento há dois anos e agora volta tudo a estar positivo!
- É, Sr. Dr.! Parece que dá sífilis outra vez!
- E você continua na mesma vida, ou agora os anos já não lhe puxam tanto para o desatino?
- Oh Dr. é menos, mas ...
- E a sua mulher sabe?
- Deus me livre! Se ela soubesse, então é que se matava mesmo, que ela, desde que lhe tiraram a reforma, anda à força de comprimidos! ... Já foi três vezes à Junta Médica, mas como é muito nervosa, começa a tremer e não sabe o que diz, e eles ... botam-na abaixo! ... É que ela esteve 840 dias de baixa profissional, 953 de baixa normal e agora, por causa do governo, tiram-lhe a reforma!
- E vocês vivem com quê?
- Eu tenho a reforma de França, uns 600 Euros, que são para os meus medicamentos e pouco mais, e ela agora não tem nada! Eu ainda quero ver de quem vai ser a culpa! ... Vai ser de rir, se um dia eu chego a casa e a encontro morta!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Psiquiatrices























- Oh Edgar! Ainda bem que chegaste! Vais ajudar-me, que hoje eu tive tanto que fazer de manhã, que mal vi os doentes que me passaram, por estarem sempre novos a chegar.
Isto de haver dias sem Psiquiatria durante as férias, é um imbróglio para o Chefe de Equipe, que tem de os avaliar para ver se a doença justifica uma transferência para o Porto!
Tu és novo nisto e não te faz mal nenhum abordar este, que vem acompanhado de dois guardas. Parece que fez uma tentativa de suicídio. Foi encontrado na auto-estrada pendurado numa ponte. Vê-o já, está bem?
- OK! Onde é que ele está?
- Está lá à frente na sala do Chefe de Equipe com os dois guardas!
… … … …
- Então já o viste? Conta!
- O homem está apanhado! Esteve sempre a querer levantar-se para espreitar à porta, porque dizia que estava à espera de um amigo que levara uns tiros de caçadeira, e foi difícil convencê-lo a contar o que se tinha passado. Ele diz que não se queria matar, ... "estava a fugir para se salvar".
- Ah, é? Continua!
- Segundo ele, havia lá na terra um lavrador de quem ele não gostava. Então "inventou" um comando que virava os carros ao contrário e os dobrava, e pôs-se na estrada com o amigo à espera que ele aparecesse. Quando ele ia a passar, accionou o comando, só que o homem quando sentiu o carro a torcer-se, parou e foi buscar a caçadeira ao porta-bagagem e desatou aos tiros. Ele fugiu, e nunca mais viu o amigo que deve ter ficado ferido, e era por causa disso que estava sempre a espreitar a ver se o via chegar. Depois foi pendurar-se do lado de fora da ponte, porque se ele viesse para o matar, ele não deixava ... "porque se matava primeiro"!
- OK! Esse vai já para o Porto! Obrigado!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Aprender com Shakespeare
























Eu aprendi... que ter uma criança adormecida nos braços, é um dos momentos mais pacíficos do mundo
;
Eu aprendi... que ser gentil, é mais importante do que estar certo;
Eu aprendi... que eu sempre posso fazer uma prece por alguém, quando não tenho a força para ajudá-lo de alguma outra forma;
Eu aprendi... que não importa quanta seriedade a vida lhe exija, cada um precisa de um amigo divertido para nos alegrar;
Eu aprendi... que algumas vezes, tudo o que precisamos, é de uma mão para segurar e um coração para nos entender;
Eu aprendi... que os passeios simples com meu pai, nas noites de verão, quando eu era criança, fizeram maravilhas quando me tornei adulto;
Eu aprendi... que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos;
Eu aprendi... que dinheiro não compra "classe";
Eu aprendi... que são os pequenos acontecimentos diários, que tornam a vida espectacular;
Eu aprendi... que debaixo da "casca grossa" existe uma pessoa que deseja ser apreciada, compreendida e amada;
Eu aprendi... que Deus não fez tudo num só dia; o que me faz pensar que eu possa?
Eu aprendi...que ignorar os factos, não os altera;
Eu aprendi... que quando planeio nivelar-me com alguém, apenas estou permitindo que essa pessoa me continue a magoar;
Eu aprendi...que o AMOR, e não o TEMPO, é que cura todas as feridas;
Eu aprendi...que a maneira mais fácil para eu crescer como pessoa, é cercar-me de gente mais inteligente do que eu;
Eu aprendi... que cada pessoa que a gente conhece, deve ser saudada com um sorriso;
Eu aprendi...que ninguém é perfeito, até nos apaixonarmos por essa pessoa;
Eu aprendi...que a vida é dura, mas eu sou mais ainda;
Eu aprendi... que as oportunidades nunca são perdidas; alguém vai aproveitar as que você perdeu;
Eu aprendi... que quando o ancoradouro se torna amargo, a felicidade vai aportar noutro lugar;
Eu aprendi... que devemos sempre ter palavras doces e gentis, pois amanhã talvez tenhamos que engoli-las;
Eu aprendi... que um sorriso é a maneira mais barata de melhorar sua aparência;
Eu aprendi... que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a esse respeito;
Eu aprendi... que todos querem viver no topo da montanha, mas toda felicidade e crescimento ocorre quando você a está escalando;
Eu aprendi... que só se deve dar conselho em duas ocasiões: quando é pedido ou quando é caso de vida ou morte;
Eu aprendi... que quanto menos tempo tenho, mais coisas consigo fazer.

As coisas que já se sabiam naquela época. Shakespeare (1564 to 1616).

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A beleza das frases


- Disseste que escrever é um prazer. Também disseste que é um sofrimento. Em que ficamos?
- As duas coisas são verdade. Quando estava a começar, quando estava a descobrir o ofício, era um acto alvoroçado, quase irresponsável. Naquela época, lembro-me, depois de acabar o meu trabalho no jornal, pelas duas ou três da madrugada, era capaz de escrever quatro, cinco, até dez páginas de um livro. Uma vez, de uma só assentada, escrevi um conto.
- E agora?
- Agora considero-me feliz se posso escrever um bom parágrafo num dia. Com o tempo, o acto de escrever transformou-se num sofrimento.
- Porquê? Dir-se-ia que com o maior domínio que tens do ofício, escrever deveria ser mais fácil.
- O que acontece simplesmente é que vai aumentado o sentido de responsabilidade. Temos a impressão de que cada letra que escrevemos tem agora uma ressonância maior, que toca muita mais gente.
.....…
Gabriel Garcia Máquez / Plínio Apuleyo Mendoza in

“O Aroma de Goiaba” (1982)

Sei muito bem, e tristemente, que a cultura das letras começa a desaparecer e está condenada. Mas não deixo de lamentar que o prazer de uma frase, de um parágrafo ou de uma vírgula maléfica se percam para sempre.
…......

Vasco Pulido Valente in "Público" 06/09/2009

Hoje, depois de escrever dez horas seguidas e sentindo-me cansado demais para continuar, levantei-me da mesa e tirei um livro da estante do corredor. Calhou ser Dickens, numa edição barata da Wordsworth. Tempos Difíceis. Abri-o onde resolveu abrir-se e apareceram quatro linhas mágicas: um filho visita a mãe, velha e muito doente. Pergunta
- Sente dores, mãezinha?
e ela responde
- Tenho ideia que anda uma dor por aí mas não estou certa de me pertencer
e fiquei parvo com isto. Entre parênteses adoro ficar parvo com o que os outros escrevem: só costumo ficar parvo comigo, a interrogar-me de onde é que aquilo saiu, porque não foi de mim com certeza, de maneira que penso que a mão de um anjo substituiu a minha. Tenho ideia que anda uma dor por aí mas não estou certa de me pertencer é uma pérola única. Igual à vida: quantas vezes senti isto, sinto isto, sem ser capaz de o exprimir. As dores que me pertencem são fáceis, as que não estou certo de me pertencerem custam tanto. Viro-as para um lado e para o outro, estudo-as contra a luz, experimento-lhes o cheiro, a consistência, a cor e a dúvida perpétua
- Pertence-me?
……….
António Lobo Antunes in Visão nº 861 – 3 a 9 de Setembro de 2009


O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.
óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó
(O vento lá fora).
...........
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) - 1944

domingo, 6 de setembro de 2009

Escolas


"A relação geral dos alunos relativamente ao saber é de rejeição. A ideia do professor como alguém que abre as portas para o mundo acabou ou está em vias de acabar. Isto tem de ser restaurado!".
José Gil“PÚBLICO” 29.05.2009

sábado, 5 de setembro de 2009

Os Mouros























Em 711 DC, com a invasão da península pelos mouros, o árabe foi adaptado como língua administrativa nas regiões conquistadas. Contudo, a população continuou a falar latim vulgar.
Logo que os mouros foram expulsos e se formou Portugal (conquista de Faro em 1249), verificou-se que a influência exercida pelo árabe na língua foi pequena.

O português moderno tem ainda no seu léxico cerca de 600 palavras de origem árabe, especialmente relacionadas com os alimentos e com a agricultura, devido às técnicas e objectos que trouxeram, o que não tem equivalente noutras línguas latinas.
São fáceis de identificar porque muitas começam por al. - Almofada (al + mohada), noutras este prefixo não é tão evidente Azeitona (al + ceitun).

Muitas já entraram em desuso, porque as novas tecnologias as tendem a substituir: Azenha (moinho de roda movido por água), Alcatruz (cada um dos vasos que tiram a água da nora), Picota (engenho ou cegonha para elevar água), Almocreve (recoveiro condutor de bestas de carga), Almoxarife (feitor de propriedade real), Alqueire, Açoteia (terraço para recolha de chuva a ser conduzida para depósitos ou cisternas),
…outras resistem: Açude (presa feita em rio ou levada para desviar água para moinhos ou outros usos), Levada (canal construído para conduzir água), Nora, Alicerce, Tapete, Alfaiate, Alicate, Azulejo, Aldraba,
…mas, para além da toponímia (Almada, Alcântara, Algarve, Alfandega, Arsenal…), são os produtos do campo que se integraram mais fortemente na nossa língua (Laranja, Limão, Alcachofra, Alface, Açúcar, Abóbora, Acepipe, Algodão, Açucena, Javali).

De menos conhecida origem: Refém, Aldeia, Arrabalde. Os adjectivos (Mesquinho e Baldio) e uma preposição (Até).

Também lhes devemos a numeração em algarismos que hoje utilizamos, e que substituíram a numeração romana, e a introdução do Zero (0)

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Flogisto


A teoria do flogisto foi desenvolvida pelo químico e médico alemão Georg Ernst Stahl (1659-1734).
Segundo Stahl os corpos combustíveis possuiriam uma essência (flogisto), que se libertava para o ar durante os processos de combustão (material orgânico) ou de calcinação (metais). Quanto mais combustível fosse um material, mais flogisto libertaria.
A absorção dos flogistos do ar seria feita pelas plantas.

"Flogisto" vem do grego e significa "inflamável", "passado pela chama" ou "queimado".

Esta teoria foi aceite na comunidade científica, porque permitia explicar vários fenómenos, como a perda de massa na combustão de um material (por perda de flogisto), a impossibilidade de um combustível arder sem a presença de ar (porque o ar é necessário para absorver o flogisto libertado), o término de uma combustão e a morte de um animal pequeno num recipiente fechado (ambos devido à saturação do ar com flogisto), mas não explicava porque é que o resíduo metálico (sem flogisto) pesava mais do que o metal donde é originado.

Em 1789, Lavoisier identificou o princípio vital da combustão e da calcinação, que baptizou de oxigénio.

Agora não se fala de flogisto mas todos os produtos de herbanária e cosmética do Sândalo à Camomila, estão impregnados de propriedades antiflogísticas, antidepressivas, anti-sépticas, afrodisíacas, antiespasmódicas, carminativas, calmantes, cicatrizantes, tónicas, emolientes, refrescantes, antialérgicas...
Na Medicina raramente se usa a palavra antiflogístico como sinónimo de anti-inflamatório, ou flogístico como inflamado.

Calcinação é o aquecimento ao rubro de uma substância da qual se pretendia eliminar, queimando-as, as matérias orgânicas, usando temperaturas da ordem de 1000°C, mas quando se aplica a metais ou rochas pode-lhes alterar a composição e a densidade, para mais ou para menos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Epidemias - Fogo de Santo António - Ergotismo


Na Idade Média, o Pão de Centeio, era o pão do norte da Europa. O milho, ainda não tinha vindo da América e o trigo, uma cultura mais exigente, só no sul era rentável.

Um fungo – Claviceps purpurea, infectava-o frequentemente, dando o aspecto de pequenas tachas cravadas nas suas espigas – a cravagem.

Este fungo produz alcalóides vasoconstritores e psicotrópicos que, quando ingeridos, podem causar convulsões, alucinações, gangrena das extremidades e morte.

De vez em quando, surgia uma destas epidemias que afectava pessoas e animais e era o divino que as tentava explicar – “o fogo santo”.






















Rapidamente uma Ordem Religiosa se diferenciou no seu tratamento, sem no entanto impedir que alguns acabassem nas fogueiras acusados de bruxaria, por não lhes entenderem as alucinações!

As peregrinações a Santiago melhoraram muitos, porque na península ibérica o pão era de trigo e mesmo o de centeio (por não haver condições para o crescimento do fungo), não tinha tanta maleita.

Agora, habituamo-nos a ver morrer um aqui e outro ali, habitualmente velhos, e quase sempre com hora marcada. -“Sr. Doutor! É coisa para quanto tempo?”, e o médico balbucia um prognóstico vago de semanas ou meses.

Nas epidemias não há estes rendados. A imprevisibilidade é a regra. É que Deus, nestas alturas, anda mais por uns lados que por outros!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Fátima

Fátima era a filha mais nova de Maomé. Casou com Ali, num casamento infeliz, mas foi a única das filhas do Profeta que teve descendência,

Fátima é alvo de veneração pelos muçulmanos, em particular pela minoria (~10%) xiita, que lhe atribue o título de "a Resplandecente". Por isso o nome Fátima é muito comum entre as mulheres muçulmanas, e a memória dela presente em objectos de uso corrente, como talismã.





A Hamsá - ou Mão de Fátima, é representada por uma mão com um olho no meio, e supostamente protege contra o mau olhado.




A Mão de Fátima colocada nos batentes das portas, dá sorte.











O professor Moisés Espírito Santo, no seu livro "Os Mouros Fatímidas e as Aparições de Fátima", afirma que a região portuguesa de Fátima e os seus arredores está impregnada, no inconsciente colectivo, por uma cultura herdada do tempo da facção fatímida dos mouros, que, na época, relatavam a visão de uma senhora de luz que consideravam ser Fátima, a filha de Maomé.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Meninas vamos para a Escola!


-Oh Fátima! Como é que dizes que se chama esta flor?

-Eu não lhe sei o nome, mas quando era pequena, chamavamos-lhe: "Meninas vamos para Escola", porque ela só aparecia nessa altura!

-É engraçado, porque então a aulas começavam a 7 de Outubro! Será que ela se está a adaptar à antecipação do período escolar?