quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Bairrismos

Há uma boa década ouvi, num programa da TV, uma actriz indiana “glorificar” Calcutá por ser uma cidade onde era possível encontrar pessoas a viver em vários séculos - do século XII ao XXI. Tal deu-me para pensar que em Portugal também há gente a viver sem se adaptar às grandes mudanças que a nossa sociedade sofreu nos últimos 50 anos e teima em “dançar com fantasmas” agarrada a ideias e situações que já não existem e só como história têm utilidade.

O mundo tem mudado a um ritmo difícil de acompanhar. A Inteligência Artificial e a Robótica vieram para ficar e vão obrigar-nos a rever comportamentos para que possamos viver em paz uns com os outros e com a natureza.
O que há bem poucas décadas se podia fazer sem constrangimento, pode hoje ser inadequado e até severamente punido. Em 1950 poucos falavam em pedofilia, violência doméstica, racismo, igualdade de género, bulling, impacto ambiental, e por aí fora. A população mundial era então de cerca de 2,5 biliões e a mobilidade reduzida. Em 2020 era o triplo - 7,8 biliões “globalizados”, a viver mais e melhor. Tal só é possível graças à enorme evolução tecnológica em todas as áreas, pese embora os inúmeros problemas que ela própria levanta, nomeadamente em relação à poluição.
O “comboio dos combustíveis fósseis” que foi posto em velocidade de cruzeiro neste período, é difícil de abrandar sem graves consequências para a economia. O Mundo acordou para o problema e iniciou alternativas à medida que as soluções se foram tornando mais seguras e economicamente rentáveis, atento aos acidentes de percurso para não desanimar com as vozes de quem fala saudoso do “antigamente”, esquecidos da sardinha para três, do trabalho de sol a sol, da falta de um SNS e de uma Segurança Social, que em fim de vida levava o pouco que se tinha poupado na vida activa.

Em Portugal há quem ainda viva no início do século XX, “pessoas boas” com fortes valores de solidariedade e que necessitam de ajuda para viver neste mundo digital, mas também cá estão uma meia dúzia de “velhos do Restelo” de mentalidade pequenina e olhar enviesado, a tentar “desacreditar” qualquer alteração ao que pensam ser uma ameaça aos seus interesses imediatos.
A população portuguesa (e a mundial) tem hoje grande mobilidade. Nasce-se num lugar, vive-se e trabalha-se onde há emprego e, com alguma sorte, vai-se morrer à terra de origem. É possível ir para Leiria vender seguros para toda a Europa, ir para um Call Center na Irlanda resolver problemas em Portugal, ou contratar italianos para trabalhar na WestSea em Viana do Castelo.

Linguagem discriminatória não é bem-vinda nos tempos que correm e é bom que os “bairrismos” se moderem para não serem considerados agressivos em relação a quem é excluído.
Se o Homem é hoje o ser mais importante na Terra, foi por ser capaz de colaborar com quem não conhece, debaixo de uma mesma bandeira, seja ela um país ou uma empresa. O “chico-esperto” armado de “razões” não ajuda nada, porque “Razões para explicar qualquer coisa nunca faltaram, mesmo não sendo as certas!”. Lembra-me o que li n"O Filomeno” de Gonzalo Torrente Ballester - -“Você tem razão, mas não a tem toda, e a pouca que tem, não lhe serve para nada!”

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Carvalhos centenários

Em 16/02/2021 dei com esta notícia no Guardian: Para restaurar o pináculo de 96 metros da Catedral de Notre Dame, destruído no incêndio de 2019, serão necessários mais de 1000 carvalhos com idades entre 150 e 200 anos. 
Os peritos franceses decidiram reconstrui-lo exactamente como era. 
As árvores deverão ser direitas, ter entre 8 e 14 metros de altura e entre 50 e 90cm de diâmetro. Devem ser cortadas até ao fim de Março, para que a madeira não fique muito húmida. Depois de cortada, as vigas serão deixadas a secar durante 18 meses. O artigo refere que só se irão utilizar árvores de florestas de produção, não de exemplares protegidos ou em áreas de conservação. 

Apesar de não ser comum, é notável haver em França zonas florestais de produção para construção com mais de dois séculos. Nos comentários a esta notícia leio: A silvicultura de longa rotação continua a ser largamente ignorada em Portugal. 

Em França, o valor/m3 da madeira de carvalho (antes do corte) pode atingir cerca de 270-390 Euros em troncos com diâmetro à altura do peito de 50-70cm. Em locais apropriados com condução adequada podem-se atingir fustes com essas características num arco temporal de 100-120 anos. 

Para a maioria dos portugueses a noção de plantar para os netos é uma loucura. 
Num carvalhal, a periodicidade de ocorrência de incêndios, embora maior nas primeiras décadas, decai à medida que ele se vai estabelecendo e ensombrando o sub-bosque, especialmente se forem feitos os desbastes e as desramas. 
A vantagem das longas rotações é a de poder executar os cortes de acordo com a valorização do mercado e os retornos intermédios provenientes dos desbastes cíclicos. 

Urge uma política de incentivos para que o pequeno proprietário invista em autóctones. 
Quando nascemos recebemos um património arbóreo, algum dele com centenas de anos. É bom que nos lembremos que as gerações vindouras também têm direitos semelhantes.

Há pouco mais de 1 mês vi, aqui em Carreço, um TIR carregado com carvalhos que penso serem centenários. Espero que não sejam substituídos por Eucaliptos e pinheiros bravos.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Sibarita




No dicionário: relativo ou pertencente à antiga cidade de Sybaris ou pessoa que é dada à indolência, ao luxo e aos prazeres físicos.

Sybaris fundada em 720 (AEC - antes da Era Comum), foi uma cidade importante da “Grande Grécia”, o que os historiadores romanos chamavam às zonas costeiras do sul de Itália e da Sicília, onde os gregos haviam fundado colónias. Estava situada no Golfo de Taranto, no sul de Itália, entre os rios o Crati e o Coscile
Dispunha de grande riqueza, graças à terra fértil e ao seu movimentado porto, e os seus habitantes ficaram famosos entre os gregos pelo seu hedonismo, festas e excessos, pelo que o termo sibarita ficou sinónimo de quem vive na opulência, luxúria e na procura ostensiva de prazer. Para que o ruido não perturbasse a sua tranquilidade, proibiam dentro da cidade ferreiros e carpinteiros e também os galos. Para maior comodidade dos seus intermináveis banquetes inventaram os urinóis e as banheiras.

In 510 AEC a cidade foi conquistada pelos seus vizinhos e, segundo a lenda, “como haviam ensinado os seus cavalos a dançar ao som da flauta, tiveram de presenciar, impotentes, o avanço do inimigo enquanto as suas montadas dançavam ao som da música que aquele exército tocava”.
De acordo com o relato de Estrabão, os crotoniatas, uma vez tomada Sybaris, desviaram o curso do rio Cratis para a apagarem do mapa. As ruínas do que havia sido uma das cidades mais importantes do mundo grego, foram localizados na década de 1960, debaixo de quatro metros de depósitos aluviais.

Ficaram na História para exemplo de quem não se sabe moderar quando a sorte o bafeja e cai em desmesura, atraindo a desgraça.  

Ouvi pela primeira vez esta palavra da boca do meu avô paterno, quando na adolescência não seguia as suas sugestões, que só entendi a utilidade décadas depois, quando interiorizei os seguintes princípios da filosofia estoica: A virtude é o único bem e caminho para a felicidade; Devemos sempre priorizar o conhecimento e agir com a razão; O prazer é um inimigo do homem sábio; As atitudes têm mais valor que as palavras; Os sentimentos externos tornam o homem um ser irracional e não imparcial; Não se deve perguntar porque algo aconteceu e sim, aceitar sem reclamar, focando apenas no que pode ser modificado e controlado naquela situação; Agir de forma prudente e assumir a responsabilidade sobre os seus atos; Tudo ao nosso redor acontece de acordo com uma lei de causa e efeito; A vida e as circunstâncias não são idealizadas. O indivíduo precisa conviver e aceitar a sua vida da forma que ela é.