segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Georgina























A minha avó, que não conheci. Nasceu em Constância.
Faleceu em Macedo de Cavaleiros, com 36 anos, em 11-3-1927.
Teve seis filhos.
A sua morte precoce criou um silêncio em seu redor.
Tão estranho!

Casamento de Isidoro da Silva Gomes com Georgina Ferreira Rocha

Às catorze horas e trinta minutos do dia doze de Dezembro do ano de mil novecentos e doze, na rua Luiz de Camões e casa residência de João Rocha, perante mim, José Vicente Anes d’Oliveira, funcionário do Registo Civil, compareceu o noivo, Isidoro da Silva Gomes, vinte e dois anos de idade, estado de solteiro, natural da freguesia de São Julião, Concelho de Constância, domiciliado e residente na Praça Alexandre Herculano, desta vila de Constância, filho legítimo de Florêncio da Silva Gomes, natural da dita freguesia de São Julião e de Joaquina da Conceição, de profissão doméstica, natural da freguesia e concelho de Proença-a-Nova e residentes com seu filho; e a noiva, Georgina Ferreira Rocha, de vinte anos de idade, de profissão doméstica, no estado de solteira, natural da dita freguesia de São Julião, domiciliada e residente na dita rua Luiz de Camões desta vila de Constância, filha legítima de João Rocha, marítimo, e de Maria Ferreira de profissão doméstica, ambos naturais da dita freguesia de São Julião e residentes com sua filha, se declaram perante mim e as testemunhas adiante nomeadas que, de sua livre vontade, desejavam celebrar, como por este acto celebram, o seu casamento definitivo, segundo o regime de comunhão de bens.

Tendo previamente procedido em tudo conforme determina a lei, cumprindo todas as formalidade do artigo duzentos e vinte do Código do Registo Civil e nada havendo que a isso me impedisse em nome da Lei e da República Portuguesa, declarei os contraentes unidos pelo casamento.

Foram testemunhas presentes a todo este acto, os quais declararam querer ser padrinhos, Florêncio da Silva Gomes, pai do noivo contratante e José Vicente da Silva Rocha, solteiro, maior comerciante morador nesta vila de Constância e testemunhas João Soares Esteves casado, administrador do Concelho de Constância e José Francisco Gameiro Burguete, casado, comerciante e morador nesta vila de Constância.

E para constar, lavrei este registo que vai ser assinado por todos e por mim, José Vicente Anes de Oliveira, ajudante da Repartição do Registo Civil depois de ser perante todos lido e conferido com o seu extracto. Foi dado por escrito a autorização a que se refere o artigo quinto do Decreto de vinte e cinco de Dezembro de mil novecentos e dez.

A importância dos emolumentos é de seis escudos e sessenta centavos, estando neles incluído a quantia de cinco escudos por o casamento ter sido efectuado em casa e a importância dos selos que vão colados no extracto e de um escudo e vinte centavos e cinco milésimas.

Constância, em doze de Dezembro de mil e novecentos e doze.

 Isidoro da Silva Gomes
Georgina Ferreira Rocha
Florêncio da Silva Gomes
José Vicente da Silva Rocha
João Soares Esteves
José Francisco Gameiro Burgete
José Vicente Anes de Oliveira

sábado, 25 de agosto de 2012

Agradecimento

Não há intenção de diminuir quem o escreveu, mas somente registar, para memória futura.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Olhos

Há olhos eternamente baixos ou fixos no horizonte para que nada os perturbe.
Há olhos frinchões para contarem o que imaginaram sem perceber a essência do que viram.
Há olhos que comem e outros que desnalgam de tão vis.  
Há o “galanço” e o "micanço" para constituir família, e o "olhar de megalusa" p'ra tentar fazer tremer o mais pintado.  
E há olhos que se cruzam e que se dão para receber.

sábado, 18 de agosto de 2012

Ladrões



Disse mal dos melros, dos gaios, dos estorninhos e dessa passarada que acorda cedo para, de bico em punho, dar cabo da fruta mal ela começa a pintar. Podei, tratei, limpei, esperei e, quando me preparava para provar, dou com ela no chão, a apodrecer.
Lembrei-me tarde do espantalho.
Lamento-me, e surpreendo-me a ouvir outros roubos aqui por perto. Àquela levaram-lhe as abóboras que cresciam no meio do milho, a outro as couves que tinha na veiga, mais além um campo de batatas numa noite de luar, e isto sem falar nas castanhas e nas nozes que já ninguém contabiliza.
Depois lembro-me de um teixo que me desapareceu, porque "as plantas roubadas pegam melhor!”
Grandes melros que aqui há!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Escrever


...
Enquanto esperava …, sentiu que podia escrever uma cena como a que se desenrolara junto à fonte, incluindo um observador escondido, como ela própria. … Conseguia ver as frases simples, os símbolos telepáticos a acumularem-se, a jorrarem pelo aparo. Conseguia escrever três vezes a cena, de três pontos de vista diferentes; a sua excitação vinha da perspectiva de liberdade, de ser poupada à penosa luta entre o bem e o mal, entre heróis e vilões. Nenhuma das três versões era má, nem particularmente boa. Não teria de julgar. Não teria de haver ensinamento moral. Apenas teria de mostrar mentes individuais, tão vivas como a sua própria mente, a debaterem-se com a ideia de que havia outras mentes igualmente vivas. Não eram apenas a maldade e as intrigas que faziam as pessoas infelizes: era a confusão e os mal-entendidos. Era, acima de tudo, a incapacidade de entender a simples verdade de que outras pessoas eram tão reais como nós próprios. E só numa história era possível penetrar em tantas mentes diferentes e mostrar como todas elas tinham o mesmo valor. Era esse o único ensinamento moral que tinha de haver numa história.
...
in "Expiação" de Ian McEwan

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cinco Ciclistas Chineses

Era assim aquela "brincadeira" estúpida. Um fulano estava distraído no recreio e uma mão rápida agarrava-lhe os testículos por entre as pernas, enquanto lhe dizia: “Diz cinco jogadores do Sporting!”, ou qualquer coisa do género. Depois apertava ou desapertava, de acordo com a agilidade mental do visado.
Brincadeiras de mau gosto de crianças, dirão. Mas recorrentemente lá aparecia para gáudio de uns quantos, que acham graça à aflições dos outros.

Lembrei-me disto ao imaginar Pedro Passos Coelho a ter de responder a uma Troika que lhe pede "Sete medidas para ajustar o que gastamos ao que produzimos!".
A mão que aperta são os “mercados” e a pressão com que o faz são os “juros da dívida”. As dores sentimo-las nós.
- Diz sete medidas!. E o homem a procurar as que estão mais à mão:
- Aumentar impostos, vender a TAP, … acabar com metade das Fundações, … vender parte do SNS a privados, … aumentar impostos!
-Essa já disseste, não vale!
- … Diminuir todos os salários em sete por cento!
-Lindo menino! Faltam duas!
-… Fechar 20% das autarquias, escolas e postos de saúde!
- Vá lá, só falta uma! E mais um aperto nos guizos para lembrar que o tempo urge.
- …Vender os submarinos e os F16!
- …Não isso não vale! Que ninguém os quer! Diz outra!
- …Pôr três corruptos em tribunal!
- Serve, mas vais ter que te mexer. Olha que daqui a uns meses a gente volta e, dessa vez, vais-te sentir como se te estivessem a perguntar o nome de cinco ciclistas chineses.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Suspicazes

Suspicaz: desconfiado, receoso, suspeitoso, cabreiro, acautelado, apreensivo, arisco, cismado, escabreado, escaldado, intrigado, peludo, escuso, suspeito, duvidoso …

Ontem veio por mau humor, num descontrole incontrolável (sic), possuído (sic), com ideias deliróides persecutórias de automutilação e suicídio não estruturadas. Suspicaz.
Tem diagnóstico de "transtorno de personalidade". Aceita internamento e, no caminho, nos poucos minutos em que é deixado só, toma uma mão cheia de comprimidos que tinha numa sacola.
De imediato surgem os porquês e as justificações:
Ele estava calmo quando o deixámos ali sentado. Quem estava com ele foi tratar das burocracias da admissão. Deixaram-no ficar com a sacola para não o irritar. Talvez não tomasse tantos quantos disse, já que não tinha água com ele. Quando lhe lavaram-lhe o estomago, não saíram mais que dois ou três. "Oh Sr. Dr.! Ele aqui é mais um no meio dos outros!"
...............
-Uhhhh! Ainnnn!... Aiiiiinnnn!
-Que foi? Dona Maria do Céu? Que choro é esse?
-Uhhhh! Ainnnn!... Aiiiiinnnn! É a depressão! O meu psiquiatra foi de férias e tem o telefone desligado. Só ele é que sabe da minha doença! Uhhhh! Ainnnn!... Aiiiiinnnn!
Há 4 anos que anda bem. Diz a mãe que é a primeira recaída.
-Tenha calma que eu arranjo-lhe outro!
-Ainnnn!... Aiiiiinnnn! Ainnnn!... Aiiiiinnnn! Ainnnn!... Aiiiiinnnn! ..., e olha-me de soslaio, ... suspicaz.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Civilização – O Ocidente e os Outros


"Civilização – O Ocidente e os Outros" de Niall Ferguson, 2011.

Aquilo que estamos a viver agora é o fim de 500 anos de predomínio ocidental.

As civilizações comportam-se como todos os sistemas adaptativos complexos. Funcionam em aparente equilíbrio durante um período que não é predeterminável e depois de forma completamente abrupta, entram em colapso.

Uma civilização real para os seus habitantes, não são os esplêndidos edifícios, nem sequer o funcionamento impecável das suas instituições. No seu âmago, uma civilização são os textos que se ensinam nas escolas, que são aprendidos pelos seus estudantes e recordados em alturas de tribulação.

As provas mais inequívocas de que a deslocação do Ocidente para o Oriente é real, residem na Educação. Em 2005, num estudo sobre o desempenho académico de alunos com idades entre os vinte e cinco e os trinta e quatro anos, a OCDE encontrou uma diferença espantosa entre os países do topo – a Coreia do Sul e o Japão, e os do fundo da tabela- a Grã-Bretanha e a Itália. Verifica-se um fosso semelhante nos testes normalizados de aptidão matemática entre os alunos com catorze anos de idade, com os de Singapura a baterem de longe os da Escócia, situando-se os primeiros 19% acima da média internacional e os segundos 3% abaixo.

São algumas das conclusões finais. 
Mas o melhor é ler o livro, sublinhar as partes mais relevantes para depois voltar lá repetidas vezes para perceber bem.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A Religião e a Troika

Andamos envoltos numa nuvem de conceitos que nos orienta e dá limites. Uma nuvem dinâmica com muitos elementos indefinidos, mas onde é possível adivinhar os que lhe dão densidade e força.

A filosofia que engrossa as suas partículas, foi (e é) fortemente influenciada por conceitos religiosos onde os políticos se tentam encaixar. Como o sobrenatural tende a impor-se às criações humanas, é necessário que Deus ajude na procura e implementação de soluções para o bem comum e não ande a tratar da vidinha daqueles que "o conhecem melhor".

Quando, em 5 de Dezembro de 1496, Dom Manuel assinou o decreto de expulsão dos judeus, iniciámos não só a transferência das suas empresas e "know how" para o norte da Europa, como também nos distanciámos do movimento reformista de Martinho Lutero (1517).

Os povos (sul da Europa e América do Sul), que se mantiveram fiéis ao Vaticano, continuaram a suportar um clero (interposto entre cada indivíduo e Deus e em conluio permanente com os Estados), que os orienta para um limbo de inseguranças, para que os “padres-guias" os possam liderar.

Os protestantes ao estabelecerem uma relação “directa” com Deus, sem o clero como intermediário, “obrigaram” os crentes a ler a Bíblia, e promoveram assim a literacia e o caminho para o conhecimento.

Os povos dos países onde o catolicismo prevaleceu, mantiveram altos níveis de analfabetismo, e ficaram “a ouvir” o que se lhes achavam conveniente dizer, frequentemente em latim, para mais os confundir.

Esta “nuvem” católica, promoveu a irrelevância, obstruiu a imaginação, penalizou as dissidências, e impediu novas soluções no seu seio, obrigando os povos à “compra” do progresso criado sob outras “nuvens” por judeus, protestantes e ateus.

As “absolvições” a troco de favores, o “olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço”, as “cunhas” vestidas de preocupações sociais, que tanto a caracterizam, foram e são impedimentos à progressão por mérito. O celibato dos padres, as directivas sobre o preservativo e as promessas de felicidade celeste, são exemplos da conversa que distrai dos verdadeiros problemas.

A ética protestante, mais rigorosa e tolerante, premiou o mérito e facilitou o desenvolvimento da ciência, e da consequente revolução industrial e tecnológica, de que os católicos têm vindo a beneficiar.

Agora a “nuvem” protestante e judia avança, exigindo à “nuvem” católica “ajustamentos”, que mais não são que uma mudança de ética e, nesta circunstância, … ou Deus nos ajuda … ou estamos tramados!