sexta-feira, 28 de março de 2008

Os Expostos

É ainda frequente chamar por alguém que tem por apelido - Exposto.

Hoje abro o programa do Hospital e procuro. Há 27. Quinze do sexo feminino e 14 masculino (2 já falecidos). O mais novo nasceu em Fevereiro de 2007 e o mais velho em Janeiro de 1906. Expostas são 12 (3 falecidas). A mais nova nasceu em Abril de 2003 e a mais velha em Dezembro de 1919.

Desde a aurora das civilizações que há aborto, infanticídio e abandono de crianças.

Na Grécia e Roma antigas os recém-nascidos defeituosos ou frágeis eram mortos, frequentemente por afogamento. As meninas mesmo se aparentemente saudáveis sofriam mais esse destino, pois mesmo uma família rica raramente criava mais que uma filha.
Este modo de estar tem par noutras civilizações (China, Índia, Japão, Esquimós, Brasil, …).

O abandono também era frequente. Na Roma antiga, reconhecia-se ao pater familia, o direito de enjeitar os filhos, mesmo os legítimos. As crianças enjeitadas – “exposti”, eram deixadas na Columna Lactaria, onde podiam ser recolhidas por casais que as quisessem adoptar ou por quem as pretendesse criar para delas fazer escravos.

A cultura judaico-cristã desenvolveu sentimentos de compaixão e caridade para com os recém-nascidos indesejados e em 374 o cristianizado Imperador Valentiniano I, criminalizou o infanticídio e o abandono.


Na Idade Média criou-se o hábito de deixar as crianças nos adros das igrejas ou às portas dos conventos, embora muitas fossem abandonadas noutros locais com risco de morrerem de frio, de fome ou de serem devoradas pelos animais.

Alguns conventos femininos criaram então um serviço organizado de recolha e assistência às crianças abandonadas que ficou conhecido pelo nome de roda dos enjeitados ou, simplesmente, a roda, que consistia numa janela aberta para o exterior do convento, onde um cilindro oco de madeira com uma abertura, girava sobre um eixo.
As crianças, muitos delas ilegítimas, podiam ser aí deixadas e bastava tocar uma sineta que estava ao lado, para que a irmã rodeira viesse recolher a criança abandonada.

Em Portugal, há notícia de expostos entregues ao cuidado dos conventos desde o início da nacionalidade.

Em meados do século XIX, com o triunfo do Liberalismo, as rodas dos expostos foram condenadas à extinção mas, por terem disparado os infanticídios e as mortes por complicações dos abortos, voltaram a funcionar nas Misericórdias de todas as capitais de concelho.
Estas entregavam as crianças a amas que se dispunham a criá-las a troco de um pagamento mensal, renovado anualmente.

A roda dos expostos extinguiu-se no final do século XIX, com o aparecimento de outras instituições de apoio à infância.


No ano 2000 o conceito reaparece na Alemanha “Babyklappe” e extende-se à Suiça, República Checa e Itália.

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