quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Simplificar

Este desenho demorou-me 10 segundos a fazer. A intenção foi representar rapidamente um coelho, sem intuito de produzir obra de arte. Este coelho foi “roubado” ao Dr. Mota Torres, pediatra da minha infância, que o fazia para me conquistar. Usei-o em circunstâncias iguais.
Fruto da repetição, sai-me agora com extrema facilidade.

Também faço burros, elefantes, gatos, cães, galinhas, crocodilos, golfinhos, girafas e até pessoas, porque a mão se foi lentamente afeiçoando a eles, nos períodos enfadonhos dos dias.

Gosto de me sentir capaz de desenhar de memória ou à vista o essencial dos objectos do dia-a-dia, que na maior parte das vezes é o seu contorno.

Considero que representar qualquer coisa complexa por meia dúzia de traços é uma necessidade do homem civilizado. Os traços podem não ser de desenho, mas de escrita, mas a finalidade é a mesma - definir com clareza uma situação.

A complexidade crescente do nosso dia-a-dia, exige dos nossos licenciados um esforço de simplificação, sejam eles professores, juízes, enfermeiros, psicólogos, ou de qualquer área onde o escrever faça parte da actividade.

Aquelas imensas pastas que enchem as secretárias dos nossos tribunais, repartições públicas e escolas, tresandam a ineficiência e a incapacidade, a par de algum propósito (não confesso) em criar dificuldades para vender facilidades.

Os Tribunais andam entupidos por uma lógica que não responde às necessidades de um país moderno.
Os professores atafulham-se em "fichas"  que, para além de atentarem contra a privacidade dos alunos e suas famílias, amontoam dados, sobre os quais raramente se actua, sufocando a actividade docente  com burocracia.
Os registos informáticos nos Hospitais do SNS, agrupam dados de um tal modo, que a sua consulta se torna “impossível” em tempo útil, separando os diferentes grupos profissionais.
Nas repartições públicas frequentemente exige-se mais forma que conteúdo.
Portugal nos últimos vinte anos perdeu muito do seu sector produtivo (agricultura, pescas, indústrias extractivas e transformadoras), e centrou a sua população no comércio e em serviços. Sem simplificar processos, perdeu eficiência e facilitou a corrupção.

Como consequência, estamos a pedir dinheiro à Troika para subsistirmos.
Se não formos capazes de ganhar eficiência, amanhã virão cérebros da China para nos dizer como fazer!

5 comentários:

JARRA disse...

Olha que crónica tão boa ...
Transformamo-nos em obsessivos recoletores de papéis, é bem verdade!

capitão disse...

Em todo o mundo a produção de "papéis" não pára de aumentar.
A maior parte é lixo produzido para justificar um ordenado.

Anónimo disse...

Um historiador britânico chamado Trvelyan chama a isso mentalidade de forum e considera que é típica dos latinos.

Anónimo disse...

Entao, e o tatu?
Desse, lembro-me bem.

AC

capitão disse...

O tatu!!!! Esse, há muitos anos que não vem à pena. Já não mo pedem como antigamente, mas não o esqueci! Mas a todo o tempo ele pode voltar.