segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Carta aberta o Pai Natal


Pai Natal: 

Tenho-te escrito com alguma regularidade nesta época em que toda a gente com acesso aos meios de comunicação social, disponibiliza uns minutos aos "dispensáveis" desta sociedade universal do comércio, que enriquece uma minoria e faz parecer a democracia um jogo dos poderosos.

Na tua época, os monges alegavam ser a pobreza “a primeira das bem-aventuranças” e tu, agora,  fazes despudoradamente o jogo do consumismo! Como é?! Até pareces acreditar que são os empresários que se movimentam de negócio em negócio nos mercados livres, que garantem o crescimento económico e a prosperidade mundial e que tudo o que os governos devem fazer é sair-lhes da frente, sem considerarem factores de constrangimento como o espaço geográfico, os recursos naturais e os ecossistemas frágeis que frequentemente, estão na génese da pobreza. 

Pela primeira vez na História, todos os povos da Terra têm um presente comum e sentem o choque dos acontecimentos que ocorrem no outro lado do mundo, amplificados pela imprensa e pelas redes sociais. A variedade está a desaparecer. Todos os povos se copiam e em todos os cantos do mundo se encontra a mesma maneira de agir, de pensar e de sentir.
Estimula-se a ambição, não tanto por uma necessidade real, mas pelo desejo de ultrapassar os outros, num “mimetismo apropriador” que faz desejar objectos, porque os desejos dos outros nos dizem que esses objectos se devem desejar, e muitas das grandes palavras da justiça, da lei, da ajuda aos fracos, da filosofia e do progresso da razão, são iscos inventados por políticos inteligentes para se imporem aos simples.

Ora é essa onda que tu surfas, entretido com vendas de inutilidades, em vez de te preocupares com uma alternativa ecológica que não nos desgrace o futuro.
Devias ter percebido que a tecnologia vai criar um número crescente de desadaptados que, mesmo que lhes seja dado dinheiro para “comprar”, se sentirão insatisfeitos por lhes faltar o reconhecimento social. A Inteligência Artificial e a Robótica (se o estar mundial se não modificar), deverão causar uma alteração brutal no mercado de trabalho, pois só haverá necessidade de empregar 20% da população para que as suas necessidades sejam satisfeitas. O conhecimento exigido para ser um membro produtivo já está a mudar e o sucesso do ensino não se irá medir pelo número de licenciados, mas pelo número de graduados relevantes no mercado de trabalho.

A maioria dos humanos incapazes de entrar nesta corrida poderá revoltar-se e, se dirigidos por homens frustrados, poder-nos-ão levar ao anarquismo ou a nacionalismos fundamentalistas de má memória. 
Eu sei que não se vêm alternativas plausíveis ao actual “credo” que diz que as classes médias criadas pelo capitalismo industrial originarão governos representativos, estáveis, responsáveis e capazes de prestarem contas, que a religião cederá o seu lugar ao laicismo e que as forças do irracionalismo serão derrotadas.

É por isso que te escrevo a pedir que uses o teu reconhecimento público (nas sondagens vais muito à frente do menino Jesus) e abraces uma causa que não nos desenraíze da Natureza e nos tire do limite de termos de rogar a Deus muita saúde para o carro, para ele não avariar. 
Mas não me perguntes como fazer, que eu, quanto mais leio, mais me confundo. Por um lado, acho que a ciência é o caminho para a nossa salvação como espécie, ao nos fazer entender que na Terra há uma multidão de outras espécies que têm papel fundamental no seu equilíbrio e que este nos tem sido favorável e que, qualquer outro, pode levar a ajustes onde não consigamos igual vantagem. Por outro lado, também penso que, quanto mais competências se exigirem para se ser o tal "membro produtivo" da nova sociedade, mais "dispensáveis" se criarão e mais frustração grassará no mundo! 

Tu, embora tenhas residência oficial no Pólo Norte, vais frequentes vezes ao Céu, e, de lá de cima, tens distância para analisar os futuros e avisar as elites arrogantes que há mais vida para além do capitalismo apátrida.
Procura o Maomé, o Buda, o Marx, o Adam Smith, a Nossa Senhora de Fátima, mais quem tu entenderes e vê se no dia 25 os sentas à mesma mesa com o tal "espírito de Natal", para impedir que os humanos se apropriem tudo o que há no Universo e dêem espaço às outras formas de vida!

É este o meu desejo!
Fico à espera!

Um abraço!
Oh! Oh! Oh!

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