quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

O meu pai

 
O Pai do meu pai (o meu avô Isidoro): Nasceu em Constância, em 29/12/1889, filho do 2º casamento do Sr. Florêncio, comerciante da região, que defendia que “até com cascas de alho se pode negociar”.
Com a 4ªclasse, sem jeito para o negócio e detentor de uma caligrafia invejável, cedo o encaminharam para os papéis e, num passo, era amanuense da Câmara Municipal. Em 1915 casou. Georgina irá dar-lhe 6 filhos. Na procura de maiores proventos aceita o lugar de Tesoureiro da Fazenda Pública em S. Vicente na Ilha da Madeira, mas aquele desterro, longe da família, sufoca-o e volta à terra poucos meses depois, para espanto de todos. O facto pendeu para a tolerância e, em 1924, é colocado em Macedo de Cavaleiros, terra que não conhecia e onde não tinha laços familiares. Desta vez leva a família. A esposa morre em 1927, na 7ª gravidez. Casa segunda vez e terá outra filha. Em 1935 ruma a Vila Verde. Mais tarde irá para Ponte de Lima e por fim para Vila do Conde onde se reforma e virá a falecer. Coloca os filhos num colégio do Porto (1929-1940). Cinco irão tirar curso superior e dois seguir-lhe as pisadas (Tesoureiros da Fazenda Pública).

O meu Pai: Nasce em Constância. Aos 4 anos vai com a família para Macedo de Cavaleiros. Aos 7 fica órfão. Aos 9 vem estudar para o Porto, juntamente com os irmãos. Fica num “Colégio”. Faz o secundário no Liceu Alexandre Herculano. Tira o curso de Engenharia de Minas, na Universidade do Porto, com uma passagem de dois anos por Coimbra, onde vive numa República. Foi sempre muito bom aluno. Não fez serviço militar “por falta de peso”! Ingressa no Serviço de Fomento Mineiro e é destacado para a mina de S. Domingos. Casa no Porto e quando lhe é entregue a chefia da Brigada de Prospeção Mineira do Sul, muda a família para Beja. Cedo teve a sorte do contacto com engenheiros e geólogos de vários países, de companhias mineiras aí sediadas, que lhe abriram horizontes. Caracteriza a Faixa Piritosa do Alentejo e identifica várias “anomalias” gravimétricas, entre as quais a que dará origem à descoberta da Mina de Neves-Corvo. Em 1962 é destacado para o Porto, mantendo a direção da Brigada do Sul de prospeção mineira até 1974, e inicia prospecção na região de Caminha. Teve muita esperança com o 25 de Abril, mas a realidade da política defraudou-lhe os projectos. Foi professor convidado na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto durante 20 anos e também leccionou na Universidade do Minho. Reformou-se por limite de idade aos 70 anos, procurando manter-se atento à evolução da ciência e do mundo. Já com 80 anos, inscreveu-se numa escola de informática “The Future Kids” para aprender a usar o PC. Escreveu o Blog “Vivências Mineiras” entre 2008 e 2018, onde assinala a importância do seu trabalho e os erros que se cometeram e que “muito prejudicaram economicamente o país”. Não tem escrito mais, porque “não tem tido tempo”. Agora, tudo é mais lento. O vestir, o comer, os exercícios físicos a que se obriga diariamente, a necessidade de mais repouso, os comprimidos, as consultas médicas, os fadinhos no YouTube, as fotografias a passar continuamente no écran e a escrita do diário no PC. Vive com a esposa (96 anos) num T2 com o apoio diário (4 horas) de uma empregada. Fala de tudo e mais alguma coisa. Lembra-se dos professores e dos colegas que teve no Liceu e na Universidade e também dos autores de muitos dos livros técnicos por onde estudou. Sabe alguma coisa de Latim, porque “não era possível não aprender com aquele professor que teve no Liceu”. 

Quando tenho dúvidas sobre ciência telefono-lhe. É sempre uma conversa interessante e bem-disposta.
Sempre foi vaidoso, não pela aparência ou pela posse, mas pelo “saber”. Desde que foi entrevistado anda “num sino”! É assim o meu pai, com 100 anos e 4 meses.
Obrigado Helder Reis


1 comentário:

MJN disse...

Parabens para o seu pai, é um exemplo com 100 anos
Está muito bonito, que a vida lhe continue a Sorrir.
Um abraço para todos, um feliz natal