Gosto da palavra inexoravelmente. Nunca a usei, mas gosto! Li-a uma vez num texto apocalíptico (também gosto desta), onde o autor escreveu: “Caminhamos inexoravelmente para a solidão!”, e fique fã.
Por outro lado, não gosto da palavra “nomeadamente”, talvez por a ter ouvido demasiadas vezes na boca dos policiais chamados a comentar na TV. Cá em casa, quando há acidente, crime ou qualquer embrulhada em que vá aparecer um policial no écran, fazem-se apostas de quantas vezes ele irá dizer “nomeadamente”, e quem apostar no duas, o mais certo é ganhar, “nomeadamente” se entrevista durar mais de trinta segundos.
Com “inexoravelmente” é diferente. É daquelas palavras que espera que um letrado a atire para a ribalta, para reviver. É como com as memórias colectivas que só o são quando se batalha para o serem.
Hoje fui à feira comprar curgetes para plantar. Atendeu-me uma jovem campesina, bonita, despachada e de sorriso fácil.
- Donde é que vocês são?, pergunto, enquanto ela revolve a bolsa à procura do troco.
- Somos de Belinho!
- Ah! Da terra do poeta António Corrêa de Oliveira! Conhece?
- Não! Nunca ouvi falar!, responde intrigada.
- Então, se a menina é de Belinho, já deve ter passado pela sua estátua à entrada da freguesia e deve ter frequentado alguma das escolas do Agrupamento de Escolas António Correia de Oliveira!?
Não viu, nem ouviu falar. E a mãe que se aproxima também não conhece. “Não é do seu tempo!”. E continuam a arrumar os tabuleiros com alfaces, pimentos, pepinos e o que mais por ali anda, para dentro do camião, na azáfama do fim de dia.
Vivem em Belinho e não conhecem um dos bardos do salazarismo que habitava a Selecta Literária de Português dos meus primeiros anos do Liceu.
Não perdem nada, mas c’um raio, a freguesia continua a dar-lhe honras. Por favor, … um mínimo de curiosidade.
Aquela quinta murada da família Cunha Sottomayor, com historial desde o século XVI, acolheu o “poeta” e foi centro de intensa actividade social e política. Há benefícios no povoado com o seu nome e forneceu um ministro (José Gonçalo da Cunha Sottomayor d' Abreu Gouveia Corrêa d' Oliveira – 1921-1976) ao Estado Novo (Ministro de Estado Adjunto do Presidente do Conselho, entre 1961 e 1965, e Ministro da Economia de 1965 até 1968)! É certo que se suicidou em Paris, lançando-se do 10º andar do hotel onde vivia, sabe-se lá porquê, talvez por ter sido acusado de envolvimento no escândalo do Ballet Rose, …talvez por causa do 25 de Abril, mas ... foi um filho da terra que chegou a nº2 do país.
Do poeta ficou uma rocha com um bocado de bronze em cima, em forma de cara humana e uns dizeres por baixo que ninguém lê, umas Escolas e umas ruas com o seu nome que ninguém relaciona com a sua fraca obra. Do ministro, nem isso.
Caminhamos “inexoravelmente” para o esquecimento. Quiçá o Ronaldo se safe, “nomeadamente”.
Aquela quinta murada da família Cunha Sottomayor, com historial desde o século XVI, acolheu o “poeta” e foi centro de intensa actividade social e política. Há benefícios no povoado com o seu nome e forneceu um ministro (José Gonçalo da Cunha Sottomayor d' Abreu Gouveia Corrêa d' Oliveira – 1921-1976) ao Estado Novo (Ministro de Estado Adjunto do Presidente do Conselho, entre 1961 e 1965, e Ministro da Economia de 1965 até 1968)! É certo que se suicidou em Paris, lançando-se do 10º andar do hotel onde vivia, sabe-se lá porquê, talvez por ter sido acusado de envolvimento no escândalo do Ballet Rose, …talvez por causa do 25 de Abril, mas ... foi um filho da terra que chegou a nº2 do país.
Do poeta ficou uma rocha com um bocado de bronze em cima, em forma de cara humana e uns dizeres por baixo que ninguém lê, umas Escolas e umas ruas com o seu nome que ninguém relaciona com a sua fraca obra. Do ministro, nem isso.
Caminhamos “inexoravelmente” para o esquecimento. Quiçá o Ronaldo se safe, “nomeadamente”.
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