quinta-feira, 3 de março de 2022

Os russos

 

Eu tenho medo dos russos e não é coisa de agora, nem é por eles serem comunistas e comerem criancinhas ao pequeno almoço. Nada disso! Eu tenho medo deles desde pequeno. 

Talvez a primeira vez que a palavra me alertou, foi quando os meus pais não me levaram a Espanha “por eu ser ruço!”, teria eu não mais que quatro anos, numa altura em que Salazar era rei e se rezava pela conversão da Rússia. Já no Liceu o sofrimento de Roma às mãos das invasões bárbaras vindas do Leste, ficou-me a borbulhar no bestunto como um perigo a que era necessário estar atento, não se fosse repetir e, quando estudei um pouco da mitologia grega e me deparei com as Amazonas que  também desciam desses lados para matar tudo o que era homem, então é que até delas iniciei receios, mesmo quando os seus cabelos louros e feições perfeitas estimulavam a minha líbido de teenager.

Agora, olho para os russos como os descendentes dos Tártaros e tártaro não é uma coisa boa, pelo menos para os nossos dentes. Admiro-os nas artes, sejam elas artes plásticas, música, dança ou literatura, mas não os tenho em consideração no desporto, nem pelos seus feitos bélicos ou aeronáuticos. Aqui, onde eles também são bons, vejo atitudes de confronto, onde vale tudo para cumprir objetivos determinados centralmente por governos que se põem continuamente em bicos de pés, em vez de se preocuparem em percorrer o caminho paulatinamente com mestria e segurança para dar ao seu povo as melhores condições de progresso.

Os seus heróis metem-me medo. Pedro o Grande construiu S. Petersburgo, no início do século XVIII, num pântano, com o trabalho escravo de prisioneiros de guerra suecos e de presos russos onde morreram aos milhares. De Ivan “o Terrível” ficou-me o filme sombrio de Sergei Eisenstein, cheio de intrigas e traições. Rasputin mete medo a qualquer um e os revolucionários de 1917: Lenine, Trotsky, Estaline arrepiam pela desumanidade. 

A “pátria do comunismo” é egocêntrica e pouco eficaz em melhorar as condições das populações. É uma “potência” que pouco contribuiu para o mundo. Electicidade, motores a vapor e de explosão, máquinas de lavar, computadores e robótica pouco lhes devem, e, no campo da saúde, tirando o Pavlov, não trouxeram novidade prática. Os seus cientistas foram preferencialmente aproveitados para as armas e para a engenharia aeroespacial e nuclear, mas mesmo aqui, à custa de cérebros da  Alemanha nazi.

Vejo no imaginário russo, um povo guerreiro, pouco globalizado, com forte espírito nacionalista, disposto a submeter os outros à sua agenda. O colapso da URSS está-lhes entalado. Não aceitam que não foram capazes de gerir esse imenso espaço que foi a União Soviética e agora recorrem à força para fazer valer “os seus direitos” sobre quem já decidiu não querer voltar ao passado.

Hoje é a Ucrânia, já foi a Georgia, já foi a Moldávia. Quem será o país que se segue?

1 comentário:

capitão disse...


A Ucrânia é o maior deles e era onde a Rússia tinha colocado grande parte do seu material bélico (a Ucrânia detinha o terceiro arsenal de ogivas nucleares do mundo, desmantelado totalmente nos anos seguintes, após um acordo entre a OTAN e a Rússia - memorando de Budapeste). A profunda crise económica que a afectou nos anos 90, tornou-a incapaz de fazer a manutenção de todo esse material herdado, muito dele virou sucata, pese embora o esforço de tirar peças de um lado para pôr no outro para assim manter algum dele funcionante.