Foi hoje o funeral de meu pai. Familiares e amigos juntaram-se para prestar uma homenagem sentida a um homem de saber profundo e rigoroso, de uma lealdade e integridade admiráveis. Um mestre, não só pela sua obra, mas também pelo exemplo com que impregnou alunos, colegas, amigos e todos os que com ele privaram.
O trabalho que o absorveu quase por completo, não fez dele um pai exemplar, mas foi um avô de mão cheia e um professor que deixou marca na Universidade do Porto, e foi com gosto que vi entrar na sala um professor da FEUP com um pequeno mapa (em vez das habituais flores), para pousar sobre as suas mãos, depois de nos explicar que aquilo era a anomalia gravimétrica de Neves-Corvo que ele definira e que servira para que uma companhia francesa (o BRGM) sondasse aquele local e ficasse com os louros da descoberta.
Fico triste e desapontado comigo mesmo por ter sido necessário este susto para me lembrar do quanto aprecias as minhas cartas; mas que melhor remédio para a tristeza que não uma carta ao meu bisavô?
Espero que fiques feliz ao saber que o sonho da arquitetura ainda está bem vivo e que já só me falta um ano para me candidatar à faculdade. Espero entrar no Porto, pois além de ser uma cidade arquitetonicamente lindíssima e bem planeada, é onde tenho mais família. Não sei se da última vez que estivemos juntos ainda praticava voleibol, mas agora já não. Esta carta está a ser redigida por um federado em Kickboxing; um desporto de combate. A palavra Kickboxing vem do inglês "kick" (pontapé) e "boxing" (combate com as mãos). Levo muita porrada, mas essencialmente forma o carácter.
Ando altamente entusiasmado com a guitarra e até faço planos para ir um dia, no verão, ao Porto, tocar na rua para ganhar uns cobres. Com o clarinete nem tanto, mas talvez lhe venha a pegar de novo, para teu prazer e de todos os que já me pediram para lá voltar.
No geral, tenho sido uma pessoa mais feliz e concretizada e, aos poucos, sinto que vou encontrando um propósito. Talvez não o convencional e lamechas "sentido da vida" porque a vida é demasiado arbitrária para ter um sentido. Cada vez mais, com a ajuda das pessoas de que me rodeio, os meus amigos, a minha querida namorada e a minha família, sinto que vou fazendo o que me faz feliz e a descobrir coisas novas que me fazem feliz.
Fazer as coisas que nos fazem felizes é que é um bom segredo para viver uma vida boa. Não é? Deves saber mais disso do que eu!
Prometo que vou crescer e me vou tornar num homem de quem terias orgulho. Essencialmente um homem bom para os outros.
O teu bisneto João, com já quase 17 anos feitos.
08/06/2022
Ao Avô Albertino
Sempre me fez muita confusão
aquelas pessoas já bem crescidas que quando se casam ou se juntam, passam de
repente a chamar ao sogro pai e à sogra mãe.
Os sogros, e especialmente as
sogras, são para ser muito bem tratados (não quero que sobre isso fiquem
dúvidas…) mas para mim são chamados pelo nome ou, vá lá, por uma qualquer
alcunha carinhosa, mas pai e mãe… isso é algo reservado para os nossos, não
para os dos outros. Esse raciocínio aplica-se também às outras categorias de
familiares. As irmãs da minha mulher, não são minhas irmãs, são minhas
cunhadas, mesmo sendo felizmente minhas amigas.
E no entanto, cada caso é um caso,
ou como diria o Albertino Engenheiro, quisque
causa differt.
Para mim começou só por ser o avô
da minha namorada. Depois, pouco a pouco, polus
per polus, foi sendo mais. Foi o famoso engenheiro de minas que deixava palitos
partidos (que eu apanhava) pelo chão da casa da Constituição. Era o renomado
professor universitário que gritava “strike, strike” quando era surpreendido nú
a sair da casa de banho. Era aquele riso maravilhoso e contagiante, as piadas
secas e os constantes ditos em latim. Era o fato e a gravata impecáveis no início
das refeições, e as nódoas na camisa e as migalhas no chão no fim de cada uma
delas. Era o amor e a amizade da sua parceira de sempre, Antonieta, a sine qua non, e as cotoveladas e os
pontapés debaixo da mesa que ela lhe ia dando nas inconveniências. Era o
reformado de 80, depois 90 e até com 100 anos que fazia flexões de braços e a
ginástica sueca. Era o distinto Senhor Engenheiro impecável a comer a sua
pescada número 3 no restaurante, e o nudista atrevido ao sol nas janelas da
casa da Ordem. Era o cuecão romeno a ensinar inglês aos ingleses e a grande
mariscada prometida e ia pagar, “desta vez não, mas da próxima sim.” Era o ex-chefe
de engenheiros, que apesar das muitas pedras e de alguns carneiros que lhe
foram saindo ao caminho, foi muito útil ao país, que fazia citações numa língua
morta e que sabia muita coisa inútil. Era o conservador e tradicional, que se
inscreveu no “Future kids” aos 80 anos para poder utilizar um PC e iniciar um “blog”
aos 90.
Um tipo de facto excepcional, merecedor
de tratamento específico, um caso ad hoc.
Foi filho, irmão, marido e pai,
mas nasceu mesmo foi para ser avô. Avô dos netos e avô dos bisnetos, sempre
meigo, com aqueles olhos a brilhar num sorriso de principiante com que olhava
para cada um deles, como se cada um fosse único, como se cada um fosse sempre o
primeiro e nunca apenas mais um ou mais uma.
Era alguém cuja vocação para avô
era de tal forma grande, de tal forma enorme, que até o conseguiu ser para mim,
que não sou Gomes mas tenho a sorte de pertencer à companhia.
André
6/8/2022
Paulo José Bravo Silva (Geólogo)
FALECIMENTO DO ENG. ALBERTINO ADÉLIO ROCHA GOMES
Data de Publicação: 04 agosto, 2022
Categoria: Notícias Nacionais
O LNEG comunica o falecimento do Eng. Albertino Adélio Rocha Gomes que efetuou a maior parte da sua atividade profissional no Serviço de Fomento Mineiro, entre 1940 e 1990. Foi também docente universitário na Universidade do Porto.
Salientam-se entre os muitos trabalhos que desenvolveu, o seu esforço na dinamização de um serviço estatal dedicado à prospeção mineral em vastas áreas do território nacional. Nesta missão, merece destaque a coordenação das equipas sediadas no Alentejo competências operacionais hoje concentradas no Pólo do LNEG em Aljustrel.
Sob sua orientação foram feitas várias campanhas geofísicas e geoquímicas seguidas de sondagens, as quais marcaram o panorama da prospeção mineira durante décadas, pelo seu caracter inovador e pluridisciplinar.
A partir destes trabalhos vieram a ser descobertos, de forma direta ou indireta, vários jazigos de sulfuretos maciços na Faixa Piritosa Ibérica como Estação e Moinho-Cerro do Carrasco (Aljustrel) e Neves-Corvo (em exploração pela empresa SOMINCOR desde 1989). Na Zona de Ossa-Morena foram identificadas estruturas mineralizadas como Portel e Balsa (Zn, Pb, Cu) e Vale de Pães (magnetite). Outros trabalhos incluíram o mapeamento das minas de Aparis (Cu, Barrancos), Preguiça e Vila Ruiva (Zn-Pb, Sobral da Adiça).
Os inúmeros levantamentos coordenados pelo Eng. Rocha Gomes fazem parte dos arquivos e espólio cartográfico do LNEG ainda hoje uma referência nas linhas de investigação dedicadas à inventariação e caracterização de recursos minerais. Este banco de dados encontra-se acessível no Geoportal do LNEG.
Nota de Pesar pelo falecimento do Engenheiro Albertino Rocha GomesAgosto 3, 2022 O Engenheiro Albertino Rocha Gomes é reconhecido como um profissional excecional e uma figura incontornável da Prospeção Mineira
Foi com grande consternação que a APG recebeu a notícia do falecimento do Engenheiro Albertino Rocha Gomes, Engenheiro de minas e professor devoto, brilhante e dedicado de inúmeros alunos que o guardam carinhosamente nas suas memórias.
O Engenheiro Albertino Rocha Gomes é reconhecido como um profissional excecional, rigoroso e perseverante, figura incontornável da Prospeção Mineira e na formação científica, profissional e ética de gerações de jovens Geólogos e Engenheiros de Minas.
Integrou a equipa que descobriu o jazigo de Neves-Corvo, entre outras dezenas de depósitos minerais. Desenvolveu a sua atividade profissional no Serviço de Fomento Mineiro, foi Docente Convidado do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, lecionando a disciplina de Prospeção Mineira, e Docente no Departamento de Engenharia de Minas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Já aposentado regeu, na Universidade do Minho, a disciplina de Prospeção Mineira do Curso de Mestrado em Ensino de Biologia e Geologia.
No seu Blog “Vivências Mineiras”, que mantinha com regularidade, deixou-nos o seu contributo para a história da investigação mineira em Portugal, realizada pelos Serviços Estatais, no período entre 1940 e 1990.
Recordámo-lo neste programa da RTP onde foi entrevistado e onde antigos alunos deixaram o seu carinhoso testemunho (Parte 1, 2:36min, 27:49min; Parte 2, 27:38min). Teve uma vida longa (faria 102 anos na próxima semana), preenchida e dizem os seus, feliz!
A APG expressa à família e amigos as mais sentidas condolências e a sua solidariedade neste momento difícil
O LNEG comunica o falecimento do Eng. Albertino Adélio Rocha Gomes que efetuou a maior parte da sua atividade profissional no Serviço de Fomento Mineiro, entre 1940 e 1990. Foi também docente universitário na Universidade do Porto.
Salientam-se entre os muitos trabalhos que desenvolveu, o seu esforço na dinamização de um serviço estatal dedicado à prospeção mineral em vastas áreas do território nacional. Nesta missão, merece destaque a coordenação das equipas sediadas no Alentejo competências operacionais hoje concentradas no Pólo do LNEG em Aljustrel.
Sob sua orientação foram feitas várias campanhas geofísicas e geoquímicas seguidas de sondagens, as quais marcaram o panorama da prospeção mineira durante décadas, pelo seu caracter inovador e pluridisciplinar.
A partir destes trabalhos vieram a ser descobertos, de forma direta ou indireta, vários jazigos de sulfuretos maciços na Faixa Piritosa Ibérica como Estação e Moinho-Cerro do Carrasco (Aljustrel) e Neves-Corvo (em exploração pela empresa SOMINCOR desde 1989). Na Zona de Ossa-Morena foram identificadas estruturas mineralizadas como Portel e Balsa (Zn, Pb, Cu) e Vale de Pães (magnetite). Outros trabalhos incluíram o mapeamento das minas de Aparis (Cu, Barrancos), Preguiça e Vila Ruiva (Zn-Pb, Sobral da Adiça).
Os inúmeros levantamentos coordenados pelo Eng. Rocha Gomes fazem parte dos arquivos e espólio cartográfico do LNEG ainda hoje uma referência nas linhas de investigação dedicadas à inventariação e caracterização de recursos minerais. Este banco de dados encontra-se acessível no Geoportal do LNEG.
O Engenheiro Albertino Rocha Gomes é reconhecido como um profissional excecional e uma figura incontornável da Prospeção Mineira
Foi com grande consternação que a APG recebeu a notícia do falecimento do Engenheiro Albertino Rocha Gomes, Engenheiro de minas e professor devoto, brilhante e dedicado de inúmeros alunos que o guardam carinhosamente nas suas memórias.
O Engenheiro Albertino Rocha Gomes é reconhecido como um profissional excecional, rigoroso e perseverante, figura incontornável da Prospeção Mineira e na formação científica, profissional e ética de gerações de jovens Geólogos e Engenheiros de Minas.
Integrou a equipa que descobriu o jazigo de Neves-Corvo, entre outras dezenas de depósitos minerais. Desenvolveu a sua atividade profissional no Serviço de Fomento Mineiro, foi Docente Convidado do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, lecionando a disciplina de Prospeção Mineira, e Docente no Departamento de Engenharia de Minas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Já aposentado regeu, na Universidade do Minho, a disciplina de Prospeção Mineira do Curso de Mestrado em Ensino de Biologia e Geologia.
No seu Blog “Vivências Mineiras”, que mantinha com regularidade, deixou-nos o seu contributo para a história da investigação mineira em Portugal, realizada pelos Serviços Estatais, no período entre 1940 e 1990.
Recordámo-lo neste programa da RTP onde foi entrevistado e onde antigos alunos deixaram o seu carinhoso testemunho (Parte 1, 2:36min, 27:49min; Parte 2, 27:38min). Teve uma vida longa (faria 102 anos na próxima semana), preenchida e dizem os seus, feliz!
A APG expressa à família e amigos as mais sentidas condolências e a sua solidariedade neste momento difícil
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