sábado, 3 de setembro de 2011
O Silva
O Silva era assim. Inteiro. Dentro e fora do estádio dizia o que alma lhe mandava e, se só falava de futebol antes do Abril/74, era porque a sua paixão pelo FCP o exigia e a política ainda não tinha aparecido na sua vida.
Abria o Café, dava as primeiras ordens, e lia de fio a pavio os jornais desportivos e o Notícias, só se interrompendo se um maior afluxo de clientes obrigasse a mais uma mão no balcão mas, na primeira oportunidade, depois de analisar à porta o movimento, voltava ao quiosque para mais uma leitura.
Este saber era então destilado durante a tarde, para surgir em filigranas de jogadas, golos e demais incidentes dos jogos, depois do jantar na tertúlia que juntava ao canto do salão, onde pontuavam, professores, médicos, economistas, comerciantes e um ou outro aprendiz de qualquer coisa.
Veio o 25 de Abril e, num estalar de dedos, o grupo passou a inflamar as vozes com a "política" e, para pasmo dos clientes habituais, o Silva ergueu o punho pelo PCP e a credibilidade, que vinha "em alta" da bola, baixou tanto que um dia, um amigo chamou-o à razão e disse-lhe: “Oh Silva! Você não é do PCP! Veja se se lembra! Você é,... é do FCP!
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