terça-feira, 12 de março de 2013

Cães



“Se non è vero, è ben trovato".  Foi até aqui que a pesquisa e a especulação me levaram.

Desde tempos imemoriais que os cães se associaram ao homem, ajudando-o na caça e na protecção contra inimigos comuns. Esta simbiose, permitiu ao homem seleccioná-los de acordo com as melhores aptidões do seu património genético, promovendo características que actualmente são apanágio das suas diferentes raças. Na Europa, este processo foi francamente desenvolvido no reinado da Rainha Vitória (1819-1901) de Inglaterra. Até então repoduziam-se quase livremente.  

Quando surgiam as grandes fomes, eram frequentemente abandonados  (talvez alguns fossem parar à panela de alguém mais aflito), e Lisboa chegou a ser referenciada, por estrangeiros, pelas suas matilhas de cães vadios devorando os detritos que a população lançava fora.
O cão vadio é uma particularidade dos povos do sul, um “bombo” para os frustrados, que só recentemente mereceu a preocupação geral da população, enquanto o gato vadio manteve o seu estatuto.
Mas adiante. Hoje o assunto é cães e, mais especificamente, na Idade Média, e é bom lembrar que, nesta altura, não havia esgotos, aterros sanitários ou estações de tratamento de resíduos sólidos e que as pessoas “iam a campo” e os cães … também.
Também ao analisar alguns dos quadros onde os pintores da época representaram refeições, não se estranha a presença de cães, nem a ausência de talheres sobre as mesas. De facto o garfo em Portugal foi introduzido no século XVI, na corte de D. Manuel I, e só se vulgarizou em meados do século XIX, no reinado de D. Maria II. Até lá comia-se com as mãos, com eventual apoio de um punhal e de uma colher.

Ora é neste contexto que vemos os cães a rondar a mesa,  à espera de qualquer sobra. Mas não lhes descuremos outra utilidade. Na ausência da indústria do papel e com os dedos completamente engordurados, por um qualquer assado, três soluções se aprontavam como fáceis ao paisano em questão. 1: Limpá-los ao pão e comer o pão, 2: Limpá-los à toalha ou à roupa, 3: Dá-los a lamber ao cão e atacar de novo o prato, depois de os passar já limpos pelas calças. Das três, e atendendo aos conceitos higiénicos da época, estou em crer que a terceira prevalecia.

2 comentários:

JARRA disse...

Como tu bem sabes os cães só não lambem o que não podem ...

capitão disse...

Conheço alguns que andam à volta das mesas onde se come e até lambem as mãos vazias de qualquer gordura, na expectativa de se sentarem à mesa. O que se tem verificado.