segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Carta aberta a Paulo Macedo


Caro Paulo

Escrevo-te para mostrar a minha desilusão por não te teres demarcado do aumento da contribuição dos funcionários públicos para a ADSE. Contava que mantivesses a postura com que abordaste as farmácias e a indústria farmacêutica, actuando sobre a roubalheira do dinheiro do Estado.
Agora, em vez disso, decidiste acabar encapotadamente com a ADSE, criando aos beneficiários as condições para o abandono.
Como também não investiste no SNS para que ele pudesse arcar com o acréscimo desta população, e mantiveste médicos e enfermeiros com um pé na Função Pública e o outro nos "privados" ou por interesse particular ou por medo de uma rasteira (agora o governos passa-as a toda a hora), estou em crer que os queres atirar para as Seguradoras.

Podias ter actuado sobre coisas como os óculos de sol "comparticipados", as cirurgias desnecessárias, os exames auxiliares de diagnóstico que nada adiantam, os rastreios fora de normas, as consultas para “descansar o médico” e às prescrição de terapêuticas “duvidosas” a levantar suspeitas de conluio com laboratórios. Poupavas milhões, mas ... dava trabalho, e tu não está rodeado de quem quisesse e soubesse andar atrás de quem induz quem tem Seguros ou Subsistemas de Saúde (ADSE, ADME, ADMFA, ADMA, PT ACS, SAMS, SSAP, SA VIDA – EDP) a consumir saúde, por só pagarem parte dos custos. Poupavas nos gastos directos e nos indirectos dependentes da iatrogenia. Eram muitos milhões se diminuísses o “já agora!”
E não me venhas com a história de que a maioria dos profissionais é honesta, que não são esses que aqui importam. Tu sabes tão bem como eu que "a ocasião faz o ladrão", que "o olho do dono engorda o cavalo" e que "o homem faz todo o mal que pode e todo o bem a que é obrigado". Tinhas obrigação de rebobinar o filme e procurar essa meia dúzia que enriqueceu e enriquece, dizendo-se fornecedor de serviços ao Estado, e verificar se os seus registos correspondem a necessidades e até se foram efectuados do modo como se cobraram. Uma amostragem a uma "meia dúzia" dava-te uma resposta concludente.
O problema é que o governo a que pertences, criou os mitos do "Estado mau gestor", e de que quem se "rege pelas leis do mercado", sucumbe se não for "eficiente", quando muita dessa "eficiência" está nos “negócios” com o Estado que geram amplos benefícios com mínimos riscos, como as PPP.

Paulo. Cai na real. Se a contribuição para a ADSE aumentar para 3,5%, como previsto, quem ganha 3.000 Euros brutos, vai pagar 1.470 Euros/ano - nesse aumento de mais de 250%. Muitos vão abandonar a ADSE e lá se vai o “encaixe” dos 360 milhões, e vão cair em cima dos Hospitais e Centros de Saúde já saturados.

Isto está cada vez mais para quem é fino e bebe azeite. O que está a dar é Depuralina, Mangustão, Cogumelo do Tempo e tretas.
Assumiste uma responsabilidade para com a saúde do país e definiste como prioritário o SNS.
"A ver vamos" como diz o cego.

Até à próxima
Fernando

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