domingo, 7 de junho de 2015

Portugal e a Emigração pelos olhos de um ex


Abalar para os quatro cantos do mundo em busca de uma vida melhor foi a solução encontrada pelos melhores portugueses através dos séculos. Uns foram empurrados, outros, os Cripto-Judeus que escaparam à fogueira, expulsos. Melhores, não pelas qualificações académicas, mas, só pelo facto de terem decidido emigrar, demonstraram e demonstram ter a energia, a iniciativa e estar dispostos ao risco para progredir,  qualidades de que Portugal necessita para se revitalizar. (para nos apercebermos do capital humano que perdemos ao expulsar os Judeus Sefarditas, recomendo o livro "Farewell España" de Howard M. Sachar).
Eles e os seus descendentes, foram e continuam a ser factores positivos nas economias e nas culturas dos países que os acolheram - França, Alemanha, Suíça, Luxemburgo, Holanda, Reino Unido, EUA, Brasil, África do Sul, entre outros. Sem pedir nada a ninguém, e sem subsídios, refizeram as suas vidas a partir do zero em terras estranhas. Fizeram nestes países o que lhes foi impedido de fazer por cá.
Emigrar parece ser também a solução dos melhores Portugueses deste século, e o ciclo repete-se.

Os que cá estão são, obviamente, os descendentes dos que por cá foram ficando, e com eles aprenderam a estar na vida. A vasta maioria pertence a uma classe média instável ou a uma classe média-baixa atemorizada, que cedo aprendeu as regras do jogo, e se "adaptou", tal como os progenitores, para assegurar o pouco que tem, ficando a fazer parte do problema. Dentro destes há uma sub-espécie parasitária, particularmente perniciosa, que se filia ainda muito jovem nas hordas das Mocidades Partidárias (seguindo as tradições Fascista e Comunista), e organizações quejandas, para assegurar um futuro sem nunca necessitar de ter um emprego sério. Há também uma minoria que, mesmo que em algum momento tenha tentado ser agente de mudança para fazer parte da solução, acaba inevitavelmente, por medo ou desalento, por se acomodar à mediocridade nacional para sobreviver. Há os que vivem com 10 Euros por dia. E por fim, há uma minoria de Portugueses inovadores e produtivos, que vive no século XXI, e vai evitando que o barco afunde, mas sem dimensão suficiente para fazer Portugal sair do marasmo em que sempre esteve.

Agora que a recente prosperidade virtual dos Portugueses esbarrou com a realidade, os media exaltam periodicamente o sucesso de alguns Portugueses da Diáspora. Parece ser uma tentativa de associar o sucesso desses emigrantes com Portugal e os Portugueses, para levantar o moral colectivo, tal como quando Ronaldo é eleito o melhor futebolista do mundo, ou o Mourinho o melhor treinador. Esquecem-se de mencionar que os emigrantes foram durante muito tempo alvo de escárnio dos que por cá ficaram e que, quando os que cá vinham de vacances se atreviam a criticar fosse o que fosse, ouviam com frequência o comentário: "só porque vives lá fora achas que sabes tudo!", e os mais sofisticados, que vinham de férias, ouviam "há que adaptar as soluções dos outros países à realidade nacional", o que na realidade significa torná-las ineficazes.

Tem havido recentemente também apelos e iniciativas do governo para aliciar emigrantes a regressar e trazer capital e know-how para participarem na revitalização da economia. Estas iniciativas canhestras, estão condenadas a falhar, porque é pouco provável que um emigrante no seu perfeito juízo acredite que Portugal tenha feito as reformas estruturais necessárias para fazer o país atractivo ao investimento. O investimento estrangeiro em Portugal tem-se limitado, com raras excepções, à aquisição de empresas falidas a preços de saldo por investidores oportunistas (o que nāo tem nada de errado), ou por oligarcas da cleptocracia Angolana para branquear capitais (o que tem tudo de errado), ou ainda por empresas Chinesas, mais ou menos estatais, por motivos estratégicos (o que deveria ser acautelado).


Houve algumas mudanças, impostas do exterior, mas que apenas arranham a superfície, e não mudam a cultura. A Justiça continua politizada, a relação incestuosa entre política e economia continua, assim como a burocracia paralisante. Os Portugueses parece que só aceitam mudança desde que tudo fique essencialmente na mesma.
E como se isto não fosse suficientemente perverso, a massa crítica da população permanece ignorante, mesquinha, retrógrada, invejosa e intoxicada de futebol, em proporções variáveis. Panem et circences revisitado?
Heróis do mar? Pobre povo!

Por último, e o mais importante, Portugal não tem credibilidade. Poderá ser um parceiro fiável nos contractos supostamente gravados na pedra, que o Estado fez com grupos privilegiados para criar as famigeradas PPPs, mas tem uma história de incumprimento dos contractos assumidos para com os seus cidadãos.

Texto de um ex-emigrante que se quer anónimo

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