sábado, 14 de outubro de 2017

Carta aberta ao Diabo


Caro Diabo:

Há tempos que te aguardava, mas confesso que te esperava sob a forma de uma crise económica e não pela mão de um processo judicial.

Tu és mesmo maligno! Está a gente a olhar para um lado e tu apareces do outro! A realidade atraiçoa-nos sempre!, e só podes ser tu a dar voltas ao Destino para que tal aconteça. Eu, que sou ateu, tinha rezado aos deuses de todas as religiões para que o José Sócrates fosse culpado e que a nossa Justiça não fosse tão má que incriminasse um primeiro ministro (repetidamente reeleito secretário-geral do PS com maiorias a rondar os 90% dos votos), sem uma base extremamente sólida mas, agora com as notícias recentes que o envolvem com a Portugal Telecom e o BES, fico sem jeito a pensar que gastei todas as Salvé-Rainhas e Pai-Nossos no lado errado. É que, a ser verdade, há muito mais gente envolvida que os “cabeças de série” indiciados. Não se faz uma trafulhice destas, que lesa o principal Banco privado nacional e faz vender ao desbarato uma das maiores empresas portuguesas, obrigando os contribuintes a pagar balúrdios, sem a colaboração e a passividade de muita gente!

Cá para mim, quiseste dar a volta ao Passos Coelho. Induziste uns radicais a dar uns tiros, em nome de Maomé, nas zonas turísticas do norte de África, para que tivéssemos um “boom” no turismo e em algumas indústrias e, em vez de vires em 2016, vieste agora com as achas bem acesas.

O que nos vale é que já se fala em dez anos para digerir as 4.000 páginas da acusação, o que dá tempo para chamar bombeiros, máquinas de arrasto, aviões, helicópteros, pôr o SIRESP a funcionar e até dar passos significativos na Lei n.º 76/2017 que altera o Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios.

Esta coisa de comprar o poder político mesmo no topo da hierarquia só podia vir de ti! Dar uns trocos ao Presidente da Junta para calcetar uma rua ou facilitar um pequeno negócio, é mau. Mas dar 24 milhões de Euros a um primeiro ministro, é inclassificável. Está para lá das estrelas! Deves ter envolvido muitos mafarricos na empresa e creio que até passaste umas noites sem dormir. Felizmente que te não lembraste da AutoEuropa. Aí é que era o desastre completo!

És um demónio! Agora que não andas entretido em Grandes Guerras, viraste-te para o crime económico. Já te vejo a entrar pelo ciberespaço a tentar dar cabo de dados de hospitais, grandes empresas e até a interferir com a actividade do vulgar cidadão, por puro gozo malévolo, antes que os novos deuses, “made in” Silicon Valley, ocupem os tronos e nos protejam, desde que lhes paguemos as devidas décimas.

Vê se te conténs! Há mais mundos! Deixa isto aqui acalmar e não fomentes abusos nem greves com reivindicações impossíveis. Tu até tens acesso a outros planetas para as tuas diabruras. Dá espaço para que, aqui na Terra, tentemos um novo estar que poupe o que construímos.

Vai de Retro Satanás! Ou se não quiseres ir de retro, vai noutro meio de transporte, mas vai, que já fizeste estrago que chegue neste país que se diz … Europeu!

Até nunca!

Fernando

1 comentário:

Anónimo disse...

Andam por aí a dizer que, agora que o Sócrates foi acusado se vai finalmente descobrir a verdade e justiça vai ser feita, sem se aperceberem que Verdade e Justiça são conceitos diferentes.

A Justiça declara o acusado culpado ou inocente baseando-se nas provas apresentadas pela acusação, e na defesa apresentada pelo acusado, de acordo com lei vigente. Se a lei for ambígua, as provas forem insuficientes ou pouco convincentes, e/ou a defesa apresentar uma teoria alternativa válida, o acusado terá de ser declarado inocente, independentemente de poder ter cometido o crime de que é acusado.
A maioria dos indivíduos declarados inocentes pelos tribunais, é culpado dos crimes de que foi acusado mas, ou as provas da sua culpabilidade foram insuficientes ou utilizou um "buraco" na lei para escapar.
E é assim que tem que ser para proteger o cidadão de abusos do poder e para encorajar as policias e os acusadores públicos a serem competentes. Deveria ser do domínio público a percentagem de acusações que resulta em condenações.

Na Escócia há um terceiro veredicto possível para além de Culpado (guilty), ou Inocente (not guilty), que é Não Provado (not proven), para os casos em que o júri ou o juiz não ficou convencido da inocência do réu, mas a acusação não provou para lá da duvida razoável (beyond reasonable doubt) que é culpado.

A procura da Verdade e uma disciplina do campo da filosofia.