segunda-feira, 30 de março de 2020

Fascinante



Tivesse eu a verve da minha mãe e abreviava-lhe a descrição de modo conciso e eficaz, pois ninguém, que eu conheça, é capaz de definir numa palavra aqueles que a impressionam, principalmente quando o fazem negativamente.

É um homem negro, de pele muito escura e dentes brancos como nas caricaturas. Nos seus 30 anos, é magro e muito alto - terá perto de um metro e noventa, e caminha como se flutuasse, atirando levemente as pernas para a frente, com ligeira inclinação do trono para trás e para a esquerda. Óculos escuros de lentes grandes. Na mão uma bengala.
Nada de mais, não fora a fatiota ou melhor as fatiotas que ostenta. Já lhe conheci um fato rosa choque, um amarelo canário, um branco imaculado e um com cornucópias de cores berrantes. E quando digo fato, é casaco justo feito à medida, que deixa ver o colete da mesma cor, impecavelmente abotoado, que veste com camisa preta ou rosa ou amarela, em absoluto contraste, e gravata bem arrumada a compor o conjunto. A calça da mesma cor, tem o pormenor de ser pela canela (lá está) e deixar ver umas meias discordantes a sair de uns enormes sapatos com polainas. A rematar o conjunto, um chapéu de abas pequenas, afiado na copa, na mesma cor do fato.

E assim ondeia pela rua, indiferente aos olhares que o seguem que, como eu, disfarçam o encantamento e se retraem de fazer o que mais apetece – pegar no telemóvel e fotografá-lo, ou melhor, filmá-lo, para o rever no recato de um quarto.

Não sei de onde saiu ou para onde vai. É um aparecer esporádico e, agora que penso, sempre em dias de sol,
Não tem alcunha que se lhe conheça. Eu chamar-lhe-ia o “Fascinante”.

É o "men african wear 2019" a passear pelas ruas do Porto.

História de H. G.

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