Durante os
séculos XVIII e XIX, sobretudo em tempos de surtos de doenças como a peste,
cólera ou febres malignas, comunidades rurais e urbanas de todo o território
ergueram capelas em honra de São Sebastião. Muitas dessas construções mantêm
ainda hoje a sua traça simples, com fachadas de granito e frontões recortados,
erguidas por promessa ou como voto de agradecimento por proteção divina.
Estas capelas,
normalmente implantadas em lugares altos ou à entrada das povoações,
funcionavam como barreiras espirituais contra os males do corpo e da alma. O
santo, representado com o corpo crivado de flechas, tornou-se símbolo de
resistência e esperança, sendo invocado em momentos de aflição.
A devoção a São Sebastião é também celebrada com romarias e festas populares, especialmente no mês de janeiro, próximo da sua festividade (20 de janeiro). Em muitas aldeias do norte de Portugal, estas festas incluem procissões, missas campais, bênção de animais e até partilhas de pão ou vinho, ecoando antigas práticas de culto agrário cristianizadas ao longo do tempo.
A força desta
devoção estende-se do litoral ao interior, das ilhas à diáspora portuguesa
espalhada pelo mundo. Cada capela dedicada ao santo guarda não só a memória de
uma promessa, mas também o testemunho da fé coletiva de uma comunidade diante
da fragilidade humana.
O milagre de São Sebastião e a capela de Carreço
Em maio de 1819, uma pequena embarcação de pesca com sete homens de Carreço partiu para o mar, a partir do sítio da Posta. Chamava-se S. Sebastião e era comandada por Manuel Fernandes Enes. A pesca da sardinha obrigou-os a afastar-se muito da costa, mas foram surpreendidos por ventos fortes de leste que os empurraram para alto-mar, impedindo o regresso.
Durante dias,
remaram contra o vento, esgotados, alimentando-se apenas de sardinhas cruas e
água salgada. Em terra, a angústia era geral. Quando finalmente foram avistados
ao largo, tentaram entrar em terra por Caminha, mas o mar continuava bravo. A
tripulação, desesperada, quis fugir para Espanha, mas o mestre impôs-se com
firmeza e ordenou a entrada pela barra. Milagrosamente, o mar acalmou por
instantes e o barco entrou em segurança.
Em
agradecimento, a população de Carreço mandou construir uma capela dedicada a
São Sebastião, concluída em 1821, como voto pela salvação. A pequena imagem do
santo, que se guardava na antiga Capela do Santo da Légua, foi transferida para
o novo templo. Desde então, a memória desse episódio foi preservada na devoção
local, nas festas anuais e nas orações dos pescadores antes de se fazerem ao
mar.
Nota: A Capela
do Santo da Légua ficava perto da atual Avenida do Santo da Légua, na N13, e
foi demolida no início do século XVIII, durante obras na estrada.
Era um oficial
da guarda pessoal do imperador, que usava a sua posição no exército para ajudar
e confortar os cristãos perseguidos. Descoberto, foi acusado de traição e condenado
à morte por flechas, após o que o atiraram ao rio Tibre, onde foi recolhido por
santa Irene que o curou. Os militares eram o esteio do império, onde a lealdade
era vital. Sebastião, em vez de fugir, voltou a confrontar o imperador
acusando-o de injustiça e foi então martirizado de novo, a pauladas, até à
morte.
É padroeiro da cidade do Rio de Janeiro e do lugar de Paçô em Carreço.
Na arte renascentista e barroca, a sensualidade do corpo martirizado transformou São Sebastião num símbolo ambíguo, inclusive adotado como ícone cultural por grupos LGBT no século XX, como mártir simbólico do sofrimento humano e da exclusão (religiosa, sexual, política).
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