quinta-feira, 31 de julho de 2025

Cruzeiros e Pelourinhos


Os Cruzeiros de adro representam a sacralização do espaço em redor da igreja ou capela. Funcionam como “marco de fé” e são vistos como uma proteção espiritual contra males, calamidades ou tentações que pudessem atingir a comunidade.
A cruz lembra o sacrifício redentor de Jesus e convida os fiéis à oração e meditação, mesmo fora das horas de culto.
Servem como ponto de partida ou de chegada de procissões, peregrinações ou do acompanhamento de funerais.
Muitos apresentam inscrições ou datas que registam acontecimentos significativos.

Os Cruzeiros nos caminhos eram uma forma acessível de marcar a fé da comunidade, sobretudo nas zonas rurais sem recursos para erguer grandes monumentos.
O Minho, um dos principais corredores do Caminho Português de Santiago, utilizou estes cruzeiros como marcos de orientação e locais de oração para os peregrinos em viagem. Estrategicamente colocados em entroncamentos, saídas de aldeias ou locais perigosos, estão frequentemente associados a lendas locais: “Aqui morreu alguém e ergueu-se o cruzeiro.” “Aqui houve um milagre e colocou-se a cruz como sinal de agradecimento.” Algumas famílias ou confrarias ergueram-nos como ex-votos (promessas pagas por uma graça alcançada).

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Os Pelourinhos têm uma função totalmente diferente dos cruzeiros, embora ambos sejam marcos de pedra normalmente erguidos em locais centrais e de grande visibilidade.
Os pelourinhos eram símbolos do poder e da autonomia municipal, exibindo muitas vezes o emblema do poder concelhio.
A sua existência significava que a localidade possuía foral (direito outorgado pelo rei) e podia governar-se em certos aspetos (justiça local, mercado, impostos).
Serviam também como local de execução de penas públicas leves, como a exposição de criminosos à vergonha pública, açoites ou outras punições corporais — práticas com um objetivo dissuasor, mostrando a aplicação da lei de forma pública.
Assinalavam que aquela vila ou cidade tinha jurisdição própria, distinta de outras terras sob domínio senhorial ou régio, e eram ainda um símbolo de orgulho local. Muitas vilas faziam questão de ter um pelourinho monumental e trabalhado.

A época de maior difusão destes monumentos foi entre os séculos XV e XIX (embora alguns sejam mais antigos). Com a extinção dos forais e do poder senhorial (1834), deixaram de ter função judicial.
Muitos foram destruídos por estarem associados ao “Antigo Regime”.

Na região de Viana do Castelo ainda existem pelourinhos, hoje classificados como património histórico. O Pelourinho de Viana do Castelo e o de Caminha foram removidos e substituídos por chafarizes.
Quem quiser ver pelourinhos tem de ir a Ponte de Lima, Ponte da Barca, Vila Nova de Cerveira ou Valença.
Mas se quiser ver cruzeiros, basta dar alguns passos dentro de qualquer aldeia.


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