segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Apoteose

 


A palavra apoteose tem origem na Antiguidade Clássica. Vem do grego antigo apó = “a partir de, desde” + theós = “deus”. Literalmente, significa “transformar em deus” ou “elevação à condição divina”.

O termo foi usado no contexto grego e romano para designar a divinização de heróis, imperadores ou figuras notáveis, após a morte ou, por vezes, ainda em vida.

Em português, “apoteose” ganhou também um sentido figurado: glorificação máxima, consagração final, clímax de uma obra ou celebração.

Em Roma, a apotheosis (em latim também chamada consecratio, de onde deriva o português consagração) era o ritual oficial de divinização do imperador após a morte, reconhecido pelo Senado. O imperador falecido passava a ser venerado como divus —  uma figura semidivina protetora do Estado.

Imperadores divinizados: Júlio César – primeiro a receber apoteose oficial (42 a.C.), proclamado Divus Iulius; Augusto (27 a.C.–14 d.C.) – proclamado Divus Augustus; Cláudio (†54) – Divus Claudius;  Vespasiano (†79), Tito (†81), Trajano (†117), Antonino Pio (†161), Marco Aurélio (†180), Septímio Severo (†211). Nem todos tiveram essa honra: alguns foram alvo de damnatio memoriae (apagamento oficial da memória), como Nero, Cómodo ou Domiciano. Também várias esposas, irmãs, mães e filhas de imperadores receberam a honra, sendo veneradas como divae.

Séculos mais tarde, o cristianismo reinterpretou a ideia de “divinização”. Atanásio (c. 296–373 d.C.), bispo de Alexandria, escreveu no século IV: “Jesus Cristo encarnou para que nós, homens, pudéssemos tornar-nos deuses.” Esse processo chama-se theosis (deificação ou divinização). A natureza divina de Cristo, unida à humana, abre a todos a possibilidade de comunhão com o divino. A teologia de Atanásio foi essencial no Concílio de Niceia (325), que fixou o Credo ainda hoje rezado.

E dito isto, o Homem que já era o único ser criado “à imagem e semelhança de Deus”, com razão, liberdade e capacidade de comunhão com o Criador, consegue acesso ao Paraíso e, aquilo que em Roma dependia do Senado e da política imperial, tornou-se vocação universal.


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