domingo, 1 de junho de 2008

O Dinheiro



-“Oh doutor! Se ele alinhasse o ouro que tem, vinha até cá sem pôr os pés no asfalto, e olhe que são 35Km! “, dizia-me o empregado da ourivesaria, quando lhe disse que éramos conterrâneos, sem no entanto saber que o destino me fizera seu médico.

O sr. X vivia numa casa central de 2 pisos. Viera do Ultramar, ainda antes das Independências, e trouxera todo o património dos longos anos em que uma Funerária lhe alegrara os dias.

A casa era um reflexo da Africa em que vivera. Encostados às paredes repousavam grandes peles e volumosos dentes de elefante, enquanto pesados móveis de pau-preto adornados de embutidos se multiplicavam pelo corredor e salas da casa.
Nos últimos meses não saía, preso ao Oxigénio e aos remédios que o mantinham vivo mas incapaz. A governanta era as suas mãos, as suas pernas, os seus ouvidos e também a sua fala, já que a traqueostomia o tornara imperceptível.

Da última vez que o visitei piorara muito e nem pedira, como de costume, para lhe ligarem a Televisão no seu programa preferido: A Bolsa Dia a Dia.
Morreu na semana seguinte, no mesmo dia em que as suas acções atingiram um máximo histórico!


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