segunda-feira, 23 de junho de 2008

As análises


Ser médico é um saber e uma arte.

O saber está nos grossos livros que caracterizam a Medicina e a arte está na capacidade de ouvir, de interpretar e de decidir individualizando as soluções.

Nos anos de formação adquire os conhecimentos, mas a arte exige-lhe uma vida de empenho profissional.

A actual banalização dos meios auxiliares de diagnóstico cria a ilusão do diagnóstico pelas análises, como se fosse possível afirmar ausência de doença na presença de meia dúzia delas normais.

Esta desvalorização do raciocínio que afecta doentes e médicos, aumenta a iatrogenia, os gastos e desvia a atenção do sofrimento do doente, como aconteceu com o Sr. Carlos, que amorosamente acompanhava a esposa à consulta e que, para que não esquecesse nada, trazia “tudo” escrito, com as suas maiores angústias reforçadas a vermelho:

“Como estará ela em Velocidade de Sedimentação? E o ácido úrico desceu? E não será melhor fazer uma radiografia ao toráx?”

... e não a deixava falar!

2 comentários:

H disse...

Vim sublinhar uma frase deliciosa: quem deixa que a verdade estrague uma boa história...
Sábias palavras!

Anónimo disse...

Pobre Sr. Carlos...
Nem o conheço, mas já simpatizei com ele.

Podemos lá levar a mal alguém que age "amorosamente"?