quinta-feira, 3 de julho de 2008

Perre, Paris e Londres


Uns deixaram uma história, outros um estilo que as aldeias mantêm no imaginário a marcar a diferença e a colorir as conversas do tempo em que a globalização passava longe de todos os olhares.
Os homens eram os protagonistas habituais e o vinho era o fermento que lhes destravava os actos e a língua e, talvez por isso, as mulheres as desmereçam e sintam embaraço com a sua evocação.

“O Baratas” para os amigos, ou “O mama na cadela” para os que lembravam a fome que atravessara a sua infância e o vitíligo que lhe marcava a pele, deixou o legado da brejeirice e da gaguez que lhe dificultava os cês e alegrava os ditos.
Acertava-se com a aldeia ao fim do dia no Café do Teixeira com uns petiscos a dar lastro ao vinho. Agora vive no discurso dos conterrâneos como toque de humor.
Para que a oralidade não seja a sua única memória escrevo alguns dos seus ditos, transmitidos por quem com ele privou (RT).

Do filho que fazia a corte a uma vistosa rapariga de uma aldeia do “lado de lá do rio”, afirmara preocupado:
“Ele não tem pedra para a´uela grade, ´aralho”!
Quando lhe perguntaram pela mulher que saíra de um internamento hospitalar retorquira com espanto:
“Oh ‘aralho! Há 15 dias ´ue está em ´asa, e ... ainda cheira à Pás´oa, ´aralho!”
No fim da festa de um casamento, onde voltara após se ter afastado nauseado pelo excesso alimentar, afirmara convicto:
Oh ‘aralho! Estava mal disposto como o ‘aralho, e tive de vomitar, ´aralho. Mas cerrei os dentes,... ‘aralho, e só vomitei o molho e o vinho, ´aralho! O ´abrito ficou todo ´á dentro!
Uma vez em que se falava de camas terá dito:
“Oh! ´aralho! Não há melhor,... que uma seara de centeio, ... da altura de 2 ´us e ...o balanço, ... ´aralho!”
Ou quando morreu um conterrâneo que havia mudado os marcos de marcação dos terrenos em seu favor, disse entre dentes, ao ver o caixão coberto de terra:
“Agora, ... tens terra ´uanta ‘eiras, ...´aralho!”.

Paz à sua alma! ... ´aralho!

1 comentário:

wolverine disse...

bom post.
já conhecia a fabulosa história do cabrito, mas a do cheiro a páscoa também não está nada mal.