domingo, 27 de julho de 2008

Por qué no te callas?


15:30h começa a passagem do turno das enfermeiras. Ouço o matraquear continuo de uma voz que descreve os factos que se passaram no turno que agora deixa, sempre no discurso directo – eu disse:... e ele disse: e depois eu respondi: ... e ele ... .
Acabou de passar os seis doentes às 16:15h. Uff!!! Felizmente que não são todas assim!

Há anos que tropeço em profissionais sem poder de síntese que narram qualquer facto em discurso directo, esforçando-se por dizer todas as palavras que ouviram e disseram com as respectivas entoações dos intervenientes, num Eu disse: e ... Ele disse: ... intermináveis.

Embora este falar seja comum na população para florir a banalidade, quando o vejo usar nas relações profissionais, entendo-o como tentativa de encher a vacuidade das suas intervenções!Mas... há quem diga que é ... estilo!

5 comentários:

Anónimo disse...

Este "género", sim... exaspera um santo!

Duvido que seja estilo. Acho que é falta de qualquer coisa importante.

Ou de significância pessoal (e portanto falar muito representa um ganho secundário para a auto-estima) ou de capacidade de pensar pela sua própria cabeça e resumir, ou até falta da atenção dos outros.

As áreas que eu estudo dizem que isto pode ter a ver com um meta programa mental: ser "geral" ou ser "específico".

Fica aqui um quase aviso: quem tem que falar muito para sentir que se faz entender pelos outros, também precisa (e espera) que os outros lhe contem tudo, tim tim por tim tim, para ser capaz de os entender.

A comunicação é um bico de obra!

Anónimo disse...

Realmente faz todo o sentido o que disse.. de vez em quando as pessoas perdem-se em "banalidades" tentando descrever o dialogo que aqui procura retratar: "o eu disse.. ele disse, eu disse e eu depois respondi.."
Pelo que vejo entre aquela senhora enfermeira e o senhor utente conseguiu-se manter de certa forma um dialogo, alguma partilha.. Agora como o senhor tropeça em banalidades deste tipo, eu também farto-me de tropeçar em médicos que não têm a minima noçao de partilha e que dificilmente trocam 2 frases com o senhor utente.. agora questiono-me, qual destas atitudes é a mais vazia?!Eu ca prefiro o banal ao vazio.. e o senhor? Quantos milhares de euros poupariamos em terapeuticas inusitadas prescritas quase por reflexo? O dialogo nao tem uma dose (nem que seja ligeira) terapeutica? uns falam de mais.. outros de menos
De certo que deveria ter alguma coisa mais UTIL a fazer do que escutar as "passagens" das enfermeiras. Não puderia estar a conversar com o senhor utente?! falar sobre os seus receios, sobre o que o faz sentir melhor, se precisa de alguma coisa que esteja ao seu alcançe e que o torne um pouco menos angustiado.. de certeza que iria ficar bem menos desesperado por se encontrar naquele sitio estranho, com uma atitude desse genero.. ou isso é uma "banalidade"? "estilo" não será com certeza.
Por último, apos ter lido umas passagens do seu interessante blog, fico com a ideia (pode ser errada) que não encontrei também nenhuma descriçao dos maneirismos (que não serão poucos) da sua classe... é sempre de bom tom primeiro caracterizar-mo-nos e só depois estudar os trejeitos dos outros, não acha?
devo acrescentar que nenhuma "guerrinha" pretendo alimentar, porque o meu desejo seria que todos (num hospital) vivessemos em harmoniaaaa (que muito precisamos) e em espirito de equipa, ou acha que não senhor doutor? huumm talvez não.. o melhor é atirar setas aos enfermeiros..
Na impossibilidade quase certa, de esperar uma resposta no seu blog, pode responder a estes e outros assuntos em "porquedeixeideserenfermeiro.blogspot.com
será bem-vindo!
Guilherme de Carmo

capitão disse...

Meu caro Guilherme:
A conversa descrita é entre 2 enfermeiras e não entre uma enfermeira e um utente, e como tal devia ter sido usada linguagem técnica e eficiente, para que as suas múltiplas tarefas não sejam afectadas, entre as quais a presença à cabeceira do doente.

Quanto aos médicos apressados ou ineficientes, sugiro que leia os seguintes posts do meu Blog: http://abeiralethes.blogspot.com/2008/10/o-doutor-no.html, http://abeiralethes.blogspot.com/2008/09/os-tirulisso.html, http://abeiralethes.blogspot.com/2008/08/uma-ma-podre.html, e outros
e os livros que no Blog referenciei.
Se contabilizar verá que são mais as críticas aos médicos que aos enfermeiros.

Quanto à sua necessidade em Harmonia, devo lembrar-lhe que não há mudança sem trauma e que face ao nosso atraso em relação ao mundo ocidental que perseguimos, ou aceitamos o conflito como parte do nosso dia a dia ou iremos continuar na cauda da Europa.

Quanto à discussão com os doentes sobre o que os atormenta, não posso estar mais de acordo consigo, embora tal não seja sempre possível, face ao volume de trabalho que os médicos “responsáveis” são chamados a executar (não incluo os irresponsáveis que também os há como em todas as profissões). No entanto, creio que quem lida com doentes graves, tem sempre disponibilidade para tal.

Anónimo disse...

Sr.Doutor,
Nunca lhe disseram que é feio escutar atrás bdas portas. A conversa parece-me que decorre entre duas enfermeiras, não o convidaram para entrar foi? Tadinho! Desculpe que não me admira nada.
O Sr. é mesquinho e maldoso.
Porque não escreve sobre si, as suas vivências e o seu trajecto?
Tornaria o seu Blog menos árido e enfadonho.

capitão disse...

Cara Sra. Enfermeira:
Não tenho culpa da deficiente insonoração das paredes, interferirem com o trabalho de quem está do outro lado.
Quanto ao seu desamor "mesquinho e maldoso" a coberto do anonimato, vale o que vale. Será que alguma vez se esforçou por entender o sentido daquilo com que (por princípio) discorda?
Eu só tenho escrito sobre mim neste Blog. Histórias passadas comigo ou de que tive conhecimento próximo e fiável e que de algum modo definiram o meu trajecto e modo de ver!
Quanto ao meu Blog ser "árido e enfadonho", não tenho a pretenção da universalidade. Eu só frequento os Blogs que acrescentam alguma coisa àquilo que sou.
O meu conselho para si é que faça o mesmo!