quinta-feira, 25 de junho de 2009

Carta aberta a uma enfermeira de cabeceira























Queria falar-te do respeito que te tenho, por baixo deste meu ar desatento.
Podia dirigir-me às mais velhas, a quem os anos não tirou a esperança e que sempre souberam que a dignidade se conquista nos gestos do dia a dia, mas hoje és tu que inspiras o texto, talvez por teres ainda nas expressões, a graça espontânea das crianças.
Queria dizer-te que é bom saber que poderei tropeçar nos teus gestos fáceis e delicados no meio de todos aqueles incómodos e sofrimentos, que é bom ouvir do teu sorriso um “não inteligente” a uma provocação, ou um “sim eficiente” a uma solicitação, sem ter de explicar o que cada uma significa, e que é bom saber que posso confiar e ir embora, certo que não irás discutir o sexo dos anjos ou inventar uma qualquer pólvora incendiária na primeira esquina.
Podia dizer-te mais coisas que são da tua arte e que tu fazes como quem dança, mas temo que te envaideças, e passes a ténue linha que nos separa da ficção e te percas em nuvens que não são tuas.
Por isso peço-te que não percas a graça nem te automatizes no branco seco dos gestos eficientes e que não sintas a mágoa da falta de reconhecimento, pois não é aí que está a dignidade da tua profissão.
Peço-te ainda que esqueças quem, por ignorância, desvaloriza os teus gestos e que perdoes quem, por desatenção, não repara que “se tudo está bem” é porque tu lá estavas diluída no meio dos tratamentos.
Por isso, mesmo que não te fale nem te veja, trabalho melhor quando tu estás.
Fernando

8 comentários:

Guilherme de Carmo disse...

gostei... pena é que a mágoa da falta de reconhecimento seja muitas vezes proporcionada por elementos da classe onde está inserido.
G.

Anónimo disse...

muito bom... tem é que lhe pedir que leia o blog, caso contrario não saberá nunca o valor que tem, das capacidades que exerce a nivel profissional.
Aliás, ela sabe concerteza do que é capaz, gostava era que o reconhecessem.

Anónimo disse...

Gostei muito do post.
Gostava de saber o que se pode chamar de enfermeira de cabeceira...

AC

capitão disse...

Guilherme do Carmo

Em todos os grupos profissionais, há diferentes posturas, que não têm nada a ver com a profissão, mas com a educação de cada um. Os médicos não são excepção e os enfermeiros também não.

capitão disse...

AC:
Os enfermeiros assumem muitos papéis no sistema de saúde. Nos Hospitais estão no Bloco Operatório, nas Consultas Externas, … e nas Enfermarias.
Esta carta é para estes/as, porque a sua qualidade e empenho são vitais para o sucesso de tratamento dos doentes internados.
São de todos os que arcam com mais trabalho e dificuldades.

Num “Hospital de Agudos” o nível de dependência dos doentes é alto. Se juntares a isso, que trabalham por turnos, que à noite são dois para 34 doentes e que tudo pode acontecer, já que os dementes e os agitados pontuam nestes espaços, ficas com um cenário que só não é de fugir porque é lentamente integrado.

Anónimo disse...

Esclarecedor.
Obrigada!
AC

Guilherme de Carmo disse...

Concordo consigo.
Só uma nota ou complemento daquilo que tinha dito,
Quando digo que a mágoa da falta de reconhecimento é originada muitos vezes por elementos da classe médica, não me estou a referir à falta de elogio, porque ele apesar de ser importante não é fundamental. Muitas vezes verifica-se elogios de ambas as partes e isso é sempre bom para os dois lados. Mas o que eu me estava a referir era a certas atitudes de alguns médicos, às quais os enfermeiros se sentem desprestigiados e ofendidos. Por exemplo, muitas vezes pedem para ir buscar a folha X ou um envelope, ou que se recusa a falar com os auxiliares (por exemplo, para pedir que um doente vá para outra zona, é capaz de dar a ordem ao enfermeiro, mesmo que o auxiliar esteje ao lado) ou tantas outras coisas que não competem a enfermagem. Às vezes parece que à médicos à moda antiga que julgam que enfermeiros são uns meros "criados". Para mim, isso é que é a mágoa da falta de reconhecimento. Eu não quero trabalhar com um médico que me elogie, quero é trabalhar com um médico que me respeite como profissional de enfermagem, assim como eu o respeito, porque de certeza que se eu precisar de uma folha, ou de que aquele doente va para ali, eu não lho vou pedir, levanto-me e vou buscar a folha e peço directamente aquele que realmente me vai levar o doente para o sitio que pretendo. Claro que muitas vezes levamos nós... mas isso já é outra coisa.
Mas aparte de tudo isso gostei da carta. Era bom que os enfermeiros das enfermarias a vissem, de certeza que a auto-estima elevar-se-ia

capitão disse...

Guilherme do Carmo:
A gestão da hotelaria de qualquer serviço é da responsabilidade do Enfermeiro-Chefe ou do seu substituto. Também estão sob sua responsabilidade os Equipamentos e a gestão funcional das Auxiliares de Acção Médica.

As salas de trabalho médico, têm de ter uma supervisão regular dos seus equipamentos, onde se incluem as folhas que constituem o Processo Clínico e as dos MADT. Na sua falta, o médico deve dirigir-se ao enfermeiro responsável para que diligencie o seu equipamento.
Quando um médico necessite da colaboração de um Auxiliar de Acção Médica, deve também fazê-lo através de um enfermeiro, para não causar conflito de ordens com o enfermeiro que lhes orienta a actividade.
Estas normas, são assim em qualquer parte do mundo ocidental.
Tal não significa que tenham que ser os enfermeiros a fazer. Eles devem unicamente dar as ordens para que, sempre que necessário, tal se faça.
No caso do Serviço de Urgência, o material de secretária deveria ser reposto diariamente pela secretária do SU, sob supervisão do enfermeiro-chefe e, fora do horário desta, por Auxiliares sob comando do enfermeiro responsável.