quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Sexo Oposto


Muita água havia ainda de correr debaixo das pontes até o monge austríaco Gregor Mendel concluir, em 1865, que cada característica de um indivíduo era determinada por um par de factores hereditários de origens distintas e se fundamentasse a agora tão corrente noção de "sexo oposto".
Até então a maioria da população entendia o feminino como o terreno onde a semente masculina germinava, apoiando o conceito de que só existe um sexo que se desenvolveu plenamente, exprimindo órgãos sexuais claramente visíveis – o masculino, entendendo o feminino como uma paragem intra-uterina da maturação, do que resultam órgãos sexuais atrofiados, que unicamente servem de terreno fértil para a semente que o macho lá poderá depositar.

Com o aparecimento dos primeiros microscópios (1590) que permitiram a descoberta dos espermatozoides, houve “gente de ciência" que afirmou ter visto no seu interior uns diminutos seres preformados - os “homúnculos” que iriam crescer no ventre materno que, nesse processo, poderiam adquirir algumas características da sua mãe.

Esta teoria (o Preformismo) respondia ao imaginário colectivo, que acreditava que a raiz da mandrágora (que por vezes assemelha a forma humana), era um pequeno homem que dormia dentro da terra e, como tal, detentora de importantes qualidades medicinais e mágicas.

A raiz da mandrágora estava envolta em inúmeros rituais, a que não são alheias as suas propriedades alucinogénicas. Para a retirar do solo havia que ter muito cuidado pois o “homúnculo”, ao sair do seu descanso, dava um grito tão lancinante que podia matar quem o ouvisse. Deveria ser arrancado numa sexta-feira à noite, depois do equinócio de verão, pouco antes do nascer do sol. Fazia-se uma vala à volta da raiz para lhe expor a parte inferior, amarrava-se ao pescoço de um cão preto e fugia-se para bem longe. Depois chamava-se o bicho para que ele a arrancasse. O cão morreria inevitavelmente, mas então passava a ser seguro manuseá-la.
Para que os seus poderes se fortalecessem, cortavam-se-lhe as extremidades, enterrava-se na campa de um morto durante trinta dias e regava-se diariamente com leite de vaca diluído onde previamente se haviam afogado três morcegos. A meio da noite do 31º dia, ia-se buscar, secava-se num forno aquecido com ramos de verbena e envolvia-se numa mortalha.
A mandrágora mais não era que uma semente humana que havia crescido na terra e não num útero feminino.
Dizia-se que eram frequentes por debaixo do patíbulo dos enforcados.

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