quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Esquizofrenia 2
Sente-se “decaído!”, cansado e com a boca queimada - "Foi ao comer a sopa!". Diz ter sido burlado! Venderam-lhe um telemóvel desactualizado e não dormiu com medo de não acordar a horas da consulta.
Anda na vida de médico há muitos anos! Desde que está nos psiquiatras, está em sofrimento… A cabeça não anda sossegada!”... Quando era jovem, olhou para uma mulher e sentiu o cérebro a cair desde o céu. Nunca mais teve descanso! Esteve na Guerra Colonial. Foi ele que causou, com o pensamento, o golpe de estado em Moçambique. Diz ter duas cruzes uma à frente e outra nas costas, que já conseguiu falar pelas costas e que consegue transportar-se para uma quarta dimensão. Acha que as pessoas podem ouvir o que pensa e que os americanos e os russos lutam por controlá-lo. Foi por isso que a avó, um dia, lhe bateu!
Não quer ficar internado. Está irritado por ter recebido uma carta do tribunal para tratamento ambulatório compulsivo.
Hoje não abriu a porta à equipa de entrega domiciliária de refeições e os vizinhos, que há mais de um dia o não viam, alertaram a GNR. Foi encontrado caído no chão com fezes e urina em redor. No transporte para a Urgência teve uma crise convulsiva.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Um "raminho"!
Sr. Dr..! O meu pai sempre foi muito ansioso! Há uns anos,
quando ainda estava bem, levava todas as noites para a cabeceira da cama um
copo de água açucarada, com medo das hipoglicemias! Ele ainda não tomava insulina, mas precavido como era, queria ter a solução à mão!
Um dia acordou a meio da noite com um formigueiro no braço. Com medo que aquilo fosse um sinal, deitou a mão ao copo, bebeu dois
goles e voltou a deitar-se. Só que, em vez de melhorar, piorou. O formigueiro
que inicialmente só sentia no braço, estendeu-se a toda a face e à língua.
Muito assustado, sentou-se na cama, acendeu a luz e chamou
pela minha mãe, dizendo-lhe que estava a ter um “raminho”. Ela, assarapantada,
deu a volta à cama para ver o que se passava. Foi quando viu o copo cheio de
formigas e muitas espalhadas por aquele lado da cama!
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Carta aberta o Pai Natal
Tenho-te escrito com alguma regularidade nesta época em que toda a gente com acesso aos meios de comunicação social, disponibiliza uns minutos aos "dispensáveis" desta sociedade universal do comércio, que enriquece uma minoria e faz parecer a democracia um jogo dos poderosos.
Na tua época, os monges alegavam ser a pobreza “a primeira das bem-aventuranças” e tu, agora, fazes despudoradamente o jogo do consumismo! Como é?! Até pareces acreditar que são os empresários que se movimentam de negócio em negócio nos mercados livres, que garantem o crescimento económico e a prosperidade mundial e que tudo o que os governos devem fazer é sair-lhes da frente, sem considerarem factores de constrangimento como o espaço geográfico, os recursos naturais e os ecossistemas frágeis que frequentemente, estão na génese da pobreza.
Pela primeira vez na História, todos os povos da Terra têm um presente comum e sentem o choque dos acontecimentos que ocorrem no outro lado do mundo, amplificados pela imprensa e pelas redes sociais. A variedade está a desaparecer. Todos os povos se copiam e em todos os cantos do mundo se encontra a mesma maneira de agir, de pensar e de sentir.
Estimula-se a ambição, não tanto por uma necessidade real, mas pelo desejo de ultrapassar os outros, num “mimetismo apropriador” que faz desejar objectos, porque os desejos dos outros nos dizem que esses objectos se devem desejar, e muitas das grandes palavras da justiça, da lei, da ajuda aos fracos, da filosofia e do progresso da razão, são iscos inventados por políticos inteligentes para se imporem aos simples.
Ora é essa onda que tu surfas, entretido com vendas de inutilidades, em vez de te preocupares com uma alternativa ecológica que não nos desgrace o futuro.
Devias ter percebido que a tecnologia vai criar um número crescente de desadaptados que, mesmo que lhes seja dado dinheiro para “comprar”, se sentirão insatisfeitos por lhes faltar o reconhecimento social. A Inteligência Artificial e a Robótica (se o estar mundial se não modificar), deverão causar uma alteração brutal no mercado de trabalho, pois só haverá necessidade de empregar 20% da população para que as suas necessidades sejam satisfeitas. O conhecimento exigido para ser um membro produtivo já está a mudar e o sucesso do ensino não se irá medir pelo número de licenciados, mas pelo número de graduados relevantes no mercado de trabalho.
A maioria dos humanos incapazes de entrar nesta corrida poderá revoltar-se e, se dirigidos por homens frustrados, poder-nos-ão levar ao anarquismo ou a nacionalismos fundamentalistas de má memória.
Eu sei que não se vêm alternativas plausíveis ao actual “credo” que diz que as classes médias criadas pelo capitalismo industrial originarão governos representativos, estáveis, responsáveis e capazes de prestarem contas, que a religião cederá o seu lugar ao laicismo e que as forças do irracionalismo serão derrotadas.
É por isso que te escrevo a pedir que uses o teu reconhecimento público (nas sondagens vais muito à frente do menino Jesus) e abraces uma causa que não nos desenraíze da Natureza e nos tire do limite de termos de rogar a Deus muita saúde para o carro, para ele não avariar.
É por isso que te escrevo a pedir que uses o teu reconhecimento público (nas sondagens vais muito à frente do menino Jesus) e abraces uma causa que não nos desenraíze da Natureza e nos tire do limite de termos de rogar a Deus muita saúde para o carro, para ele não avariar.
Mas não me perguntes como fazer, que eu, quanto mais leio, mais me confundo. Por um lado, acho que a ciência é o caminho para a nossa salvação como espécie, ao nos fazer entender que na Terra há uma multidão de outras espécies que têm papel fundamental no seu equilíbrio e que este nos tem sido favorável e que, qualquer outro, pode levar a ajustes onde não consigamos igual vantagem. Por outro lado, também penso que, quanto mais competências se exigirem para se ser o tal "membro produtivo" da nova sociedade, mais "dispensáveis" se criarão e mais frustração grassará no mundo!
Tu, embora tenhas residência oficial no Pólo Norte, vais frequentes vezes ao Céu, e, de lá de cima, tens distância para analisar os futuros e avisar as elites arrogantes que há mais vida para além do capitalismo apátrida.
Procura o Maomé, o Buda, o Marx, o Adam Smith, a Nossa Senhora de Fátima, mais quem tu entenderes e vê se no dia 25 os sentas à mesma mesa com o tal "espírito de Natal", para impedir que os humanos se apropriem tudo o que há no Universo e dêem espaço às outras formas de vida!
É este o meu desejo!
Fico à espera!
Um abraço!
Oh! Oh! Oh!
Procura o Maomé, o Buda, o Marx, o Adam Smith, a Nossa Senhora de Fátima, mais quem tu entenderes e vê se no dia 25 os sentas à mesma mesa com o tal "espírito de Natal", para impedir que os humanos se apropriem tudo o que há no Universo e dêem espaço às outras formas de vida!
É este o meu desejo!
Fico à espera!
Um abraço!
Oh! Oh! Oh!
sábado, 9 de dezembro de 2017
Serviço de Urgência
- A senhora é a esposa do Sr. José?
- Sim! Sou!
- Eu sou o médico que está a tratar o seu marido.
- Ele vai ficar internado?
- Não! Estou a pensar em dar-lhe Alta. Não tem doença que justifique o internamento! O que ele tem, está relacionado com o consumo crónico de bebidas alcoólicas. Ele, ainda ontem, bebeu!!!!.... O tratamento, como sabe, é deixar de beber. E isso pode fazer em casa!
- Sim! Mas hoje de manhã ele estava esquisito! Parecia que lhe faltava o ar! Foi por isso que eu chamei o INEM!
- Mas ele agora está bem! Não tem febre, o coração e os pulmões estão calmos e as análises são o que se espera num doente com a sua situação!
- Mas o Sr. Dr. podia interná-lo, para ele descansar o fígado! Da última vez que esteve internado, aguentou quase dois meses!
O Sr. José, veio transferido de um Centro de Saúde e, há horas, que ocupa uma maca do corredor do Serviço de Urgência. Já dormiu, já comeu, já fez análises e uma ecografia, já lhe mediram várias vezes os sinais vitais, e tirando as alterações hepáticas decorrentes de uma cirrose que, de há seis anos, o traz repetidas vezes ao Serviço de Urgência, não se identificou situação que justifique mais um internamento.
- A senhora há-de convir que, um hospital, é demasiado caro para "descansar" o fígado.
- É que, se ele vai para casa, volta a beber!
- Mas ele não pode ficar a viver no Hospital e, ao que parece, quando volta para casa, a família permite-lhe o consumo e ele estraga tudo o que aqui possa ter ganho!
- O que é que eu posso fazer? Se eu não lho dou, ele vai buscá-lo à adega e, se eu lha fecho, ele até é capaz de arrombar a porta. Olhe que ele nunca levantou a mão para mim, mas se eu não lhe der o vinho, não sei do que ele seria capaz!
Esta é a fase em que a conversa pode tomar vários rumos.
Estou num Serviço de Urgência, a horas em que não tenho apoio de Psiquiatria, nem do Serviço Social e em vésperas de um fim de semana prolongado.
O doente teve já sete internamentos em Medicina por complicações relacionadas com a "doença", foi já orientado para a Consulta Externa de Medicina Interna e de Psiquiatria e abandonou-as.
É fácil chamar ao alcoolismo, síndrome de dependência do álcool, catalogá-lo de doença, e atirá-lo para um Serviço de Urgência, ao mesmo tempo que nas comunidades se passa para o outro lado da rua quando se tropeça num bêbado e se alegam liberdades para que cada um faça da sua vida o que quiser. O Islão não é de intrigas. O álcool é uma abominação de Satanás. Proíbe-o e condena os seus prosélitos ao Tártaro (Alcorão 35:6). Não dá lugar para
um indivíduo fazer o que quer, se prejudica os outros. E os amigos, a família e os vizinhos são responsabilizados se não interferem quando uma pessoa se destrói ou prejudica a sua família.
Aqui tudo cai, desde o desgraçado que faz uma inscrição só para ter acesso a uma refeição, ao doente crónico que prefere este espaço "cosmopolita" ao de uma consulta regular no Centro de Saúde.
Quem tem de se dispersar entre situações críticas e casos sociais, desespera quando estes últimos o distraem das suas primeiras funções.
Este tem sete internamentos. Sete oportunidades deitadas ao lixo nos seis últimos anos. Vindas à Urgência, vinte e três.
Entretanto a idade não perdoa e outras maleitas já se lhe juntaram, deixando os médicos na indecisão de uma outra estar a dar sinal, pelo que lhe vão fazendo análises a tudo e mais alguma coisa, sempre que aqui entra.
Forço-me a justificar a Alta à pobre da mulher que não sabe lidar com a situação e se agarra ao que vê à mão. Sugiro-lhe que recorra ao Serviço Social da sua área de residência, falo-lhe dos "Alcoólicos Anónimos", dos filhos que estão emigrados, até do padre da freguesia. Entra-lhe por um ouvido e sai-lhe pelo outro. Ainda penso em contemporizar, mas é dinheiro do Estado deitado fora. Ter este poder de dar o que não é nosso, dá mais responsabilidade. Caridade com o que é dos outros, qualquer um faz. Mas Caridade não é dar o osso ao cão. Caridade é partilhar o osso com o cão, e eu não estou aqui para substituir a Santa Casa.
- Minha senhora! O seu marido tem Alta. Leva medicação e uma carta para o médico de família!, afirmo, na tentativa de me ver livre deste problema que me retém, muito para além do desejável.
- O Sr. Dr. é que sabe! Mas se ele amanhã não estiver melhor, eu trago-o outra vez, que ele precisa de descansar o fígado!
...
E, nem de propósito, quando chego à maca onde o Sr. José aguarda a decisão, ele inicia uma crise convulsiva.
- Ai Jesus! Sr. Dr.! Ai que ele morre! Valha-me Nossa Senhora de Fátima! ....
Agora são dois em vez de um. Ela com uma crise histeriforme, ele a espumar no caminho para a Sala de Emergência.
...
- Dr.! A esposa do Sr. José está muito sentida consigo!, avisa-me a enfermeira.
- Deixe-a estar! Por favor, diga-lhe que o Sr. José, agora vai ficar cá na Sala de Observações, pelo menos até amanhã! E que pode ir embora! Veja se me poupa a mais um debate argumentativo, que eu já gastei o latim que trazia para hoje. Ela não vai entender que o tempo que demoraram todos os exames, mais o tempo que esteve na SUB que o referenciou, é suficiente para desencadear um síndrome de abstinência, no caso um "rum fit"
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