sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

A propósito de Ariana


Ariana vem do grego Ariádne, a partir dos elementos ádne, que significa “santa”, “casta”, “pura”, e ari, que é um superlativo, equivalente ao “íssima” no português. Dessa forma, o nome Ariana ganha os significados de "santíssima”, "a mais sagrada", "castíssima", "a mais pura" e "puríssima". É essa a opinião da maioria dos estudiosos da origem dos nomes das pessoas.

Na mitologia grega, Ariadne era filha do rei Minos, e isso é o que me importa. E importa porque me sensibilizei com a rapariga por ela ter arriscado o seu bem-estar para responder a uma imperiosidade da alma e, talvez também, para corrigir uma patetice que obrigava a cidade de Atenas a enviar para Creta, a cada nove anos, sete donzelas e sete mancebos para serem devorados pelo Minotauro, como "reparação” ao assassínio de Andrógeo, filho único do rei Minos, aquando de uma vista a Atenas.

Conta-se que Minos desejando ser rei de Creta rogou a Poseidon, o deus dos mares, das tempestades, dos terramotos e dos cavalos, que enviasse um sinal divino que mostrasse a todos que ele era o escolhido pelos deuses. Poseidon atendeu-o com uma condição: faria surgir um belo animal e Minos deveria sacrificá-lo imediatamente ao deus. Minos concordou, e viu sair das águas um magnífico touro branco de chifres dourados, porém, Minos diante de um animal tão esplêndido, não cumpriu a promessa. Guardou o touro para si e sacrificou outro animal. Poseidon ficou furioso por ter sido enganado e, para o castigar, fez com que a sua mulher Pasífae, se apaixonasse loucamente por esse touro.

Dessa relação nasceu um monstro, meio touro, meio homem, com um apetite voraz só aplacado com carne humana. Horrorizado e cheio de vergonha, Minos encomendou a Dédalo, grande arquitecto e inventor ateniense, a construção de um imenso lugar de reclusão de onde não fosse possível escapar. Dédalo concebeu o Labirinto, onde corredores ziguezagueantes se entrecruzavam impedindo encontrar a saída a quem nele entrasse. O Minotauro foi deixado no Labirinto.

Quando o terceiro sacrifício se aproximou, Teseu (grande herói de Atenas) apresentou-se como voluntário, decidido a pôr fim a esta maldição. Quando os jovens condenados desfilavam perante os habitantes da cidade de Creta, a caminho do Labirinto, Ariadne, ao ver Teseu, apaixonou-se imediatamente por ele. Chamou-o à sua presença e prometeu salvá-los se ele casasse com ela e a levasse para Atenas. Teseu concordou e Ariadne entregou-lhe um novelo de fio que devia ser atado num das extremidades à porta do Labirinto e depois desenrolado à medida que se fosse afastando.

Teseu entrou ousadamente no Labirinto em busca do Minotauro. Quando chegou junto dele, por sorte, o animal dormia. Teseu caiu sobre ele e, com os punhos, sovou-o até à morte. Depois, seguiu o fio até à porta de saída, levando os jovens que o seguiram. Chegados ao barco, fizeram-se imediatamente ao mar, levando Ariadne que já os esperava.

Na viagem de regresso, aportaram à ilha de Naxos, e o que aconteceu depois tem várias versões. Numa, Teseu abandonou Ariadne quando ela estava a dormir "por não ter alegria nela" e Dionísio, deus do vinho, das festas, da natureza, da fecundidade, da alegria e do teatro, numa das suas muitas deambulações, encontrou-a desolada numa das praias, socorreu-a e enamorou-se dela. Depois casaram e Ariadne nunca mais foi vista. Mas ao que consta, foram felizes e tiveram filhos.

   

Noutra versão, Ariadne estava extremamente enjoada e Teseu desembarcou-a para que melhorasse, voltando ao mar para outros afazeres, quando um vento forte o arrastou para o mar alto. Quando conseguiu regressar, muito tempo depois, Ariadne estava morta.

Mas o que não disse foi ter sido Dédalo a aconselhar Ariadne sobre o modo de sair daquele recinto e, quando o rei Minos descobriu o seu envolvimento na fuga, prendeu-o no Labirinto juntamente com o seu filho Ícaro, vigiando qualquer possibilidade de fuga por terra ou por mar. Então Dédalo construiu dois pares de asas, tendo o cuidado de avisar Ícaro, para não se aproximar do sol. Mas o jovem Ícaro, quando se apanhou a voar não resistiu a subir cada vez mais alto, a goma das asas derreteu e acabou por cair no mar, para logo as águas se fecharem sobre ele. Dédalo, desgostoso, voou até à Sicília, onde foi recebido pelo rei com toda a cordialidade.

Minos por seu turno, ficou furioso e decidido a encontrar Dédalo. Como o sabia um grande inventor, mandou proclamar, por todo o lado, uma grande recompensa a quem conseguisse fazer passar um fio por um buzio. Dédalo informou o rei da Sicília que era capaz dessa proeza – fez um pequeno orifício na extremidade fechada do buzio, agarrou o fio a uma formiga, meteu-a pelo buraco e tapou-o. Quando a formiga apareceu na outra extremidade, o fio tinha passado por todas as voltas e reviravoltas.

Só Dédalo era capaz de fazer um prodígio destes!, exclamou Minos, e resolveu ir, ele mesmo, à Sicília para o prender. O rei da ilha, porém, recusou-se a entregá-lo, e Minos pereceu durante o combate. 


segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Ciência

Na Antiga Grécia, Ciência significava apenas conhecimento. Um grego culto não procurava outra coisa que não fosse o prazer de saber e sentia-se particularmente orgulhoso de dominar uma vasta quantidade de conhecimentos completamente "inúteis". Nesse sentido a ciência favorita era a astronomia, já que era tão abstrata como a álgebra. 

Podemos dizer que o ideal grego passava por não ter uma utilidade para as coisas úteis. O escravo era aquele que aprendia coisas úteis; o homem livre era aquele que se podia dedicar à aprendizagem de coisas inúteis.

Este é ainda o ideal de muitos homens nobres no contexto da ciência, no sentido em que procuram alcançar a verdade, do mesmo modo que os grandes da civilização grega a desejavam; a sua atitude serve como um protesto contínuo contra a vulgaridade do utilitarismo.

G.H. Chesterton (1874 –1936)