É esta a imagem que tenho dele: sentado a ler à janela, envolto no fumo dos muitos cigarros que se fumavam sozinhos, um copo de vinho a aguentar-lhe as longas horas, a argúcia das suas críticas, a amizade dos comentários e o pombal ao fundo a dar borrachos para o almoço.
Nasceu em Constância, em 29/12/1889, filho do 2º casamento do Sr. Florêncio, comerciante da região, que defendia que “até com cascas de alho se pode negociar”.
Com a 4ªclasse, sem jeito para o negócio e detentor de uma caligrafia invejável, cedo o encaminharam para os papéis e, num passo, era amanuense da Câmara Municipal.
Em 1915 casou. Georgina irá dar-lhe 6 filhos.
Na procura de maiores proventos aceita o lugar de Tesoureiro da Fazenda Pública em S. Vicente na Ilha da Madeira, mas aquele desterro longe da família sufoca-o e volta à terra poucos meses depois para espanto de todos. O facto pendeu para a tolerância, mas pouco depois (1924) é colocado em Macedo de Cavaleiros. Desta vez leva a família.
A esposa morre em 1927, na 7ª gravidez, o que o leva a procurar "conforto económico" na filha “encalhada” de uma das famílias ricas da terra, que lhe dará outro filho. Em 1935 ruma a Vila Verde. Mais tarde irá para Ponte de Lima e por fim para Vila do Conde onde se reforma e virá a falecer.
Coloca os filhos num colégio do Porto (1929-1940). Cinco irão tirar curso superior e dois seguir-lhe as pisadas.
A Tesouraria era a violência a que se obrigava e, assim que pôde, reformou-se. Ao médico que lhe perguntou do que se queixava, respondeu: “- da canga, Sr. Doutor!” e virou leitor a tempo inteiro.
Lia como quem procura pérolas, com preferência pelo Aquilino.
Creio que em jovem simpatizou com o Anarquismo (ficou-lhe a boina basca), mas eu conheci-o Salazarista. Os filhos dizem-no “pedagogo e humanista”.
Foi colaborador da Gazeta do Sul e tem textos publicados no livro: “Ímpetos Naturais” (1972) onde descreve a fome e as cheias de Constância nas primeiras décadas do século XX.
No fim, já debilitado mas lúcido, disse-me calmo, a pedir os cigarros e o vinho que lhe racionava – “que morria bem, e que tinha feito tudo o que tinha para fazer!”
2 comentários:
ISIDORO
Aos treze dias do mês de Março do ano de mil oitocentos e noventa, nesta paroquial igreja de São Julião da vila e concelho de Constância, diocese de Portalegre, baptizei solenemente um indivíduo do sexo masculino a quem dei o nome de Isidoro e que nasceu n’esta freguesia, no dia vinte e nove de Dezembro do ano precedente pelas três horas da manhã, filho de Florêncio da Silva Gomes, comerciante e de Joaquina da Conceição de serviço doméstico, naturais desta freguesia, recebidos paroquianos e moradores no sítio da Praça Nova d’esta vila, neto paterno de Manuel Francisco Gomes e de Luciana da Piedade, e materna de João Lopes e Rita da Conceição, naturais d’esta freguesia. Foi padrinho Ildefonso Labadosa, padeiro, casado e madrinha Joaquina da Conceição Rocha, viúva, ambos residentes nesta vila, os quais sei serem os próprios. E para constar, lavrei em duplicado este assento, que depois de ser lido e conferido perante os padrinhos o assigno com a madrinha, não o fazendo o padrinho por não saber escrever.
A madrinha Joaquina da Conceição Rocha. O Pároco João Theodoro Alves Meira.
Adendas:
Nº1: de 1934, da Repartição de Macedo de Cavaleiros. Contraiu casamento com Olimpia Elisia Faria Adão, doméstica, natural de Macedo de Cavaleiros
Nº2: Faleceu na freguesia e concelho de Vila do Conde, em 16 de Agosto de 1979.
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